O 13 de Maio na imprensa de São Paulo

Na atualidade, em pleno século 21, qualquer grande fato mundial é divulgado rapidamente. Um terremoto, como o ocorrido recentemente no Nepal, é notícia em Manaus em segundos. Um atentado no Iraque repercute em São Paulo rapidamente.

No passado, porém, notícias demoravam dias ou semanas para chegar em cantos próximos de um mesmo país. E foi desta forma, lenta para os padrões atuais, que a notícia da extinção da escravidão no Brasil foi chegando em nosso vasto território nacional. Na própria capital imperial, onde tudo aconteceu, a notícia foi impressa apenas no dia seguinte da assinatura da lei.

Divulgação

Na província e na cidade de São Paulo, que foram os dois atores nacionais mais importantes na luta pela abolição dos escravos, a notícia já era esperada por toda a população, mas chegou oficialmente ao Correio Paulistano, principal jornal paulista daquela época, apenas dois dias depois da assinatura da lei, com uma publicação do decreto na primeira página do jornal.

Divulgação - Correio Paulistano

Apesar da publicação oficial no jornal ter ocorrido neste dia, desde a véspera da assinatura da lei já se tinha a expectativa da abolição. A edição publicada na histórica data de 13 de maio de 1888, fazia menção de um convite da Câmara Municipal de São Paulo à população, expedido no dia anterior:

Correio Paulistano

Neste mesma edição de 13 de maio, comentaristas do jornal já teciam seus comentários e opiniões sobre a abolição, o peso da escravatura à Pátria Brasileira e o indelével protagonismo de São Paulo contra o que um dos colunistas chamou de “monolito da escravidão”:

Correio Paulistano

Retornando a edição do Correio Paulistano de 15 de maio de 1888, já é possível ler as primeiras opiniões da imprensa paulista após a lei ter sido promulgada. Um editorial do jornal faz referência a abolição como “maior revolução social e econômica” entre outros fatores:

Correio Paulistano

A Princesa Isabel é alvo de boa parte da exaltação da imprensa brasileira e não foi diferente com o jornal Correio Paulistano. As três notas abaixo tecem elogios calorosos a ela:

Correio Paulistano
Correio Paulistano
Correio Paulistano

Entretanto, é preciso lembrar que há vários brasileiros, ilustres ou não, que se fizeram como parte importante para o fim da escravidão no país. Um deles, paulistano, é uma figura tão importante para Lei Áurea quanto a Princesa Isabel: o Conselheiro Antônio Prado.

Antonio Prado em retrato de 1888
Antonio Prado em retrato de 1888

Um dos mais importantes paulistanos de todos os tempos, Antônio da Silva Prado, foi protagonista de uma trajetória política impecável e brilhante. Em sua carreira, foi deputado geral por São Paulo, Ministro das Relações Exteriores, Ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e Senador do Brasil. Posteriormente, já no Brasil República, seria também o primeiro Prefeito de São Paulo, cargo que exerceria por 12 anos.

Sua figura foi fundamental para o fim da escravidão no Brasil e nem sempre é lembrada nas comemorações pelo país. Segundo o historiador Pedro Calmon, é dele o primeiro esboço do que viria a ser a Lei Áurea. Em 20 de abril de 1888, Antônio Prado envia ao Rio de Janeiro um longo projeto de lei, sugerindo que se aproveitasse apenas o seu primeiro artigo, onde dizia: “Fica abolida a escravidão no Brasil”.

Foi este projeto de lei, conhecido como Lei Áurea, que foi votado e aprovado pela câmara geral em tempo recorde, nos dias 9 e 10 de maio de 1888. Nos dias 12 e 13 de maio a lei foi votada e aprovada pelo Senado e imediatamente enviada para a Princesa Isabel, que deu a sanção imperial.

Acima, a carta original da Lei Áurea
Acima, a carta original da Lei Áurea

A “paternidade” da Lei Áurea não é um tema de consenso entre os historiadores brasileiros. Alguns defendem que foi criação do então Ministro da Agricultura, Rodrigo Augusto da Silva enquanto outros, como o já citado Pedro Calmon, atribuem a Antônio Prado. O São Paulo Antiga posiciona-se a favor da versão de Calmon.

Porém, é importante dizer que, seja o autor Rodrigo Augusto da Silva ou Antônio Prado, uma coisa é certa: a Lei Áurea tem alma paulista, pois ambos são cidadãos paulistanos.

Voltando aos jornais da cidade de São Paulo, o Correio Paulistano menciona largamente os festejos pela cidade, o protagonismo de Antônio Prado e a gratidão da população a sua pessoa, como é noticiado em 17 de maio de 1888:

Correio Paulistano

Inúmeros políticos e cidadãos ilustres brasileiros também fizeram questão de felicitar Antônio Prado pela abolição da escravidão, como este recorte da edição de 15 de maio de 1888 do mesmo Correio Paulistano:

Correio Paulistano

Por fim, a mesma edição de 15 de maio faz duas menções as grandes festividades na Cidade de São Paulo, por conta da assinatura da Lei Áurea. Os dois recortes abaixo dão uma boa dimensão de quanto a população paulistana vibrou e comemorou o fim da escravidão no país:

Correio Paulistano
Correio Paulistano

O dia 13 de maio de 1888 entrou em nossa história como um marco importante para o Brasil. Era o fim de uma vergonhosa herança portuguesa que não devemos nos orgulhar e nem nos esquecer.

É verdade que o Estado Brasileiro demorou muito para libertar os escravos, já que a Independência do Brasil foi proclamada 66 anos antes, em 1822. Mas libertar-se de um sistema existente no país desde o século 16 não teria como ser fácil.

A Lei Áurea foi a última etapa de um processo delicado, que começou em 1850 com a Lei Eusébio de Queiróz, que acabou com o tráfico negreiro, e posteriormente com a Lei do Ventre Livre de 1871 e a Lei dos Sexagenários, em 1885.

Saiba mais sobre a escravidão no Brasil:

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13 respostas

  1. Importante marcar a data e os documentos, mas ainda hoje a “escravidão” moral , economica e educacional nos leva a pensar quanto devemos evoluir para ancalçar os ideais e a grandeza das nações que realmente vivem em igualdade de direitos.

  2. Caro Sr.Douglas,
    é maravilhosamente emocionante ler os fac-simile ref. assunto abolição. Eu aprecio muito seus trabalhos e o admiro por isso. Gostaria de retribuir através do envio dos três livros de teor histórico de minha autoria: “Império Apocalíptico” (nazismo), “A história e mitos das tribos enigmáticas europeias” e “Lembranças – como contar para meus netos?” (autobiografia-nasci na Alemanha hitlerista de mãe judia).

    Cordiais saudações.

    Peter Naumann

  3. Caro Douglas,
    Tenho aprendido mais sobre a história paulistana nos e-mails do “São Paulo Antiga” do que aprendi nos livros de escola. Acredito que você tenha um material vasto para a publicação de um livro, ou vários, sobre a história paulistana. Fica a sugestão. Enquanto isso, aguardo o próximo e-mail.
    Abraços,
    Marco Antonio.

  4. Excelente matéria, querido Douglas, resumindo de uma forma perfeita, o curso da História da abolição da escravidão tupiniquim, não perdendo detalhes importantes e construindo, como sempre, uma narrativa elegante e dinâmica.
    Adorei a sua postura de um verdadeiro cientista ao afirmar que não devemos nos esquecer e nem tampouco nos orgulhar dessa nódoa em nossa História, vindo a termo por obra de intrépidos Corações paulistanos.
    O que lamento foi o pessoal não ter feito a coisa com mais planejamento e inteligência, a fim de eliminar a escravidão, sim, como de fato o fizeram, mas preservando o Império. Certo, a economia imperial dependia inteiramente desta aberração sócio-política, mas a veja a Inglaterra, por exemplo, que sempre soube estar à frente das grandes conquistas e reformas sociais e trabalhistas, sem, contudo, perder a Coroa.
    Com a instauração da República aqui no Brasil, tivemos ensejo para a institucionalização dos malditos Roedores, Chupins e Parasitas em todos os níveis e meandros do Poder. Sem falar que perdemos a oportunidade de termos um Império parlamentarista, uma das mais seguras e funcionais formas de Democracia. Fazer o quê ? Aplausos e alegria pelo fim da escravidão, lágrimas e vaias pelo fim do Império. Grande, forte e fraterno abraço. Shalom Aleihem! Paz Profunda!

    L. Lafam.

  5. Informaçóes historicas importantíssimas.Antonio da Silva Prado fora homenageado com a última estaçao ferrea da antiga Estrada de Ferro Leopoldina,no Ramal do Alto Muriaé na época Província de Minas Gerais.Fora um diplomata que conseguira levar esta ferrovia até Manhuaçu/MG, passando em terras da Província do Rio de Janeiro,graças as sua açao como Ministro da Viaçao e Obras Públicas do Império.Em 1886.

  6. Tal como o massacre armênio ou o holocausto judeu, a escravidão seguirá sendo uma das maiores manchas da história da humanidade, porém, ao contrário dos dois primeiros eventos, mais recentes e contra uma parcela da população branca, a abolição da escravatura segue ignorada por boa parte da população, por ter sido contra o povo negro, desde sempre visto pelo colonizador branco como uma raça inferior. Não por acaso o continente africano segue esquecido, e os seus dramas vistos com a mais absoluta indiferença pelo ocidente, e dentro deste contexto a negação do racismo é uma das mais perversas faces desse pretenso e falacioso conceito de brasilidade (somos o povo mais alegre, gentil, hospitaleiro e honesto do universo, aqui não existe racismo e preconceito, todas as etnias convivem harmoniosamente numa alegre e vibrante democracia racial, somos exemplos de tolerância e respeito para todos os povos e outras patacoadas do gênero) que é em si um embuste, do qual aliás jamais acreditei. O brasileiro é o povo mais hipócrita e dissimulado do universo.

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