A construção do Viaduto Santa Ifigênia

Quando andamos pelo centro de São Paulo e precisamos atravessar o centro velho para o centro novo, temos uma série de opções para fazê-lo. Seja pelo Viaduto do Chá, Viaduto Santa Ifigênia ou mesmo pelo boulevard do Vale do Anhangabau, as opções são muitas. Porém até o final do século 19 a travessia era bastante complicada.

A situação até que melhorou um pouco com a construção do Viaduto do Chá, aberto em 1892, mas para quem estava lá pelos lados do Mosteiro de São Bento e queria ir até a Igreja de Santa Ifigênia, por exemplo, tinha que caminhar muito para se deslocar.

O mapa abaixo, de 1895, mostra bem esta situação. O ponto 1 é o Mosteiro de São Bento, enquanto o 2 a igreja de Santa Ifigênia. Era preciso ir até o Viaduto do Chá, observe:

Detalhe do mapa de São Paulo em 1895

Fazia-se necessário a construção de um outro viaduto para melhorar ainda mais o acesso aos dois lados do centro de São Paulo. E esse novo empreendimento viria a ser o Viaduto Santa Ifigênia.

A discussão sobre este novo elo entre os Largos São Bento e Santa Ifigênia começou ainda no século 19, em 1890, quando o Viaduto do Chá ainda estava sendo construído. A obra parecia que ia sair do papel já em 1893, ano em que a Câmara Municipal autorizou a desapropriação dos terrenos que pertenciam ao Mosteiro de São Bento e a Cia Paulista de Vias Férreas e Fluviais.

Na foto, o Viaduto Santa Ifigênia em 1916 (clique para ampliar)

Para que o viaduto observado na foto acima saísse finalmente do papel, muitas acaloradas discussões na Câmara Municipal iriam acontecer. A obra foi pauta de debate por vários anos, com destaque em 1904, 1906 e 1908. Foi neste último ano quefinalmente o Viaduto Santa Ifigênia começaria a ser realidade.

Com a obra aprovada, cinco empresas tiveram seus projetos aprovados em concorrência pública, a saber: Giulio Micheli, Bromberg Haecker & Cia, Schmidt & Trost, Cia Mecânica Importadora, e Lion & Cia. Venceu a disputada concorrência a firma de Giulio Micheli.

E assim em 1910, vinte anos depois da primeira discussão favorável a obra, a construção do Viaduto Santa Ifigênia saia do papel. E, como mostra a foto abaixo, não seria nada fácil erguer o viaduto, sobretudo devido a grande quantidade de imóveis entre os dois pontos que seriam ligados e que teriam de ser desapropriados e demolidos.

Vale do Anhangabau e Santa Ifigênia vistos do lado do centro velho, em 1910 (clique para ampliar)

Todo o material utilizado na estrutura do novo viaduto veio da Bélgica. O material todo, cerca de 1100 toneladas de estruturas metálicas, desembarcaram no Porto de Santos e partiram para a capital através da linha férrea. Já a montagem foi realizada pela empresa Lidgerwood Manufacturing Company Limited, sob a direção do engenheiro Giuseppe Chiappori, que era sócio de Giulio Micheli, enquanto a execução das fundações ficou a cargo do mestre de obras e carpinteiro alemão Johann Grundt.

O início de tudo, em 1910, cenário não lembra a São Paulo que conhecemos (clique para ampliar)

Previsto para ser concluído em 1912, o Viaduto Santa Ifigênia acabou levando um ano a mais que o previsto para ter sua construção acabada. A grande ausência de mão de obra especializada e a demora em concluir as desapropriações foram os grandes responsáveis pelo atraso.

Viaduto Santa Ifigênia em obras. Ao fundo o Mosteiro de São Bento

Atualmente quando uma obra sai do papel temos ampla documentação fotográfica. Mas como eram registrados esses grandes empreendimentos no passado ?

O viaduto Santa Ifigênia foi a primeira grande obra viária paulistana amplamente documentada através da fotografia. Ainda era bastante caro fotografar, mas a municipalidade optou por documentar sua construção, cujas imagens são pouco conhecidas pelos paulistanos.

Neste aniversário de 463 anos de São Paulo, trazemos para nosso leitor o álbum de fotos da construção do Viaduto Santa Ifigênia. São dezenas de imagens que mostram o grande esforço que foi erguer esse gigante de aço no coração de nossa cidade.

Todas as imagens foram realizadas durante os anos de 1910 e 1911 pelo fotógrafo F.Manuel.

GALERIA:

Algumas coisas importantes podem ser observadas nas fotografias mostradas na galeria. A primeira delas é a existência ainda, no centro da cidade, de um grande número de construções coloniais. Esse cenário urbano seria drasticamente modificado nos anos posteriores a inauguração do viaduto. O cenário tranquilo do centro paulistano de 1910 e 1911 também é algo digno de nota.

O viaduto Santa Ifigênia foi inaugurado em 26 de julho de 1913 pelo então prefeito de São Paulo Raimundo Duprat, também conhecido como Barão de Duprat.

Na foto, o prefeito Raimundo Duprat (centro) corta a fita de inauguração
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23 respostas

  1. Douglas suas publicações são sempre muito boas. Mas receber esse email no dia do aniversário de Sampa foi demais. Aqui você se superou! Parabéns mais uma vez. São Paulo tem mesmo muita história para contar. Obrigada por ajudar a mantê-la viva. Amo essa cidade.

  2. Parabéns Douglas pelo belíssimo acervo registrado aqui, nos dando o prazer de ver esse tesouso sobre a construção do Viaduto Santa Ifigênia.

  3. Olhando o mapa fiquei com uma dúvida: por que havia a necessidade de caminhar até o viaduto do chá se a avenida São João também atravessava o vale?

      1. O tráfego de bondes era intenso na São João e talvez o pessoal queria uma via mais para pedestre. No começo até pensou-se nisso com Viaduto Santa Ifigênia, mas acabou virando de uso misto também.

  4. Tudo feito à base de pás, picaretas e enxadas … comovente!. Parabéns Douglas

    1. E maravilhosamente bem feita, uma obra de arte, muito diferente dessas obras porcas de hoje, mesmo com toda tecnologia…

  5. Fpolis(SC), 26 de janeiro de 2017
    Prezados Responsáveis pelo material,
    Bom dia.
    Espetacular memória. Pena que uma grande maioria de brasileiros desconhece o local e a sua história. Povo sem história ou memória vive atrelado.
    Prof. Luiz S. Klaes

  6. São belos e importantes registros fotográficos.
    É uma pena que a cidade tenha crescido de forma tão desordenada.Pensando bem, esse fato nem é tanto o problema.Maior do que isso foi e ainda está sendo a falta de amor pela cidade, vinda de vários habitantes.Os pichadores, por exemplo. O que eles querem transmitir, o que eles querem “contestar” ou denunciar com MAIS SUJEIRA? Eu lamentei ter visto recentemente uma reportagem numa emissora de TV em que o repórter entrevistou um ex-pichador(agora, grafiteiro) em que ele, o entrevistado, afirmou ser o picho uma forma de arte. UMA FORMA DE ARTE? AONDE? COMO?
    Eu apoio as medidas do prefeito João Dória em prol de uma cidade mais limpa e LINDA. Demorou, mas eu acho que alguém, finalmente, está tendo coragem de combater o vandalismo que prolifera em São Paulo.E a sociedade em geral e as pessoas DE BEM, devem apoiar iniciativas desse tipo.É a minha opinião.

  7. Toda vez que vejo essas casas coloniais que foram demolidas, sonho com a possibilidade de voltar no tempo e poder, de alguma maneira, preserva-las. Espero que a viagem no tempo um dia se torne possível.

  8. Parabéns, Douglas ! Que belo registro da história você nos traz. Fico sempre encantada com suas publicações. Obrigada por nos presentear sempre com seu primoroso trabalho. Muito obrigada. Saúde, paz e vida longa a você.

      1. Ouvi um cd ao vivo do Adoniran Barbosa, quando antes de cantar “Viaduto Santa Ifigênia”, ele menciona que o viaduto iria ser derrubado mas que ” agora não vão derrubar mais”…tem alguma notícia sobre isso ?

  9. Falando em pontes e viadutos, seria interessante uma materia sobre a ponte velha do morumbi, atualmente abandonada e que seria uma excelente oportunidade de espaco publico para ciclovia ligando os dois lados da marginal ou mesmo area de lazer.

  10. Como brasileiro é ignorante! o melhor tipo de aço fica no Brasil,não tem necessidade de buscar ferro em outro país pô! o povo tem que dar mais valor ao que é nosso!

    1. Isso hoje né André, naquela época o país não tinha a tecnologia necessária para suprir as demandas da construção do viaduto. Antes de Vargas e da criação da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) a produção de aço brasileira era bem diferente.

  11. Que eu saiba os materiais utilizados na construção do viaduto eram dos Altos Hornos de Bilbáo nada a ver com a Belgica, alguém esta passando informações incorretas, gostaria de saber a realidade da construção.

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