A primeira Avenida Paulista

Quando pesquisamos mapas antigos de São Paulo nos deparamos com um grande número de ruas, praças e avenidas cujos nomes foram alterados pelas mais diferentes razões. São modificações geralmente propostas pela vereança da cidade, que costuma atender mais a anseios políticos e populistas do que motivações históricas.

Foi assim com a Rua do Imperador, Avenida das Águas Espraiadas, Avenida da Intendência, Praça Silva Telles só para citar alguns exemplos. Entretanto, o que poucos sabem é que a Avenida Paulista que conhecemos poderia ter sido outra, bem menor, se o projeto de um vereador tivesse sido levado à risca no já distante ano de 1886:

22/12/1886
22/12/1886

O projeto de lei estabelecido pelo Comendador G. Franzen, vereador paulistano, estabelecia que uma pequena travessa, até então sem nome, que ligava as ruas Tamandaré e Vergueiro fosse batizada como Avenida Paulista. O projeto foi aprovado e ainda no mesmo ano de 1886 executado, com uma pequena alteração.

E esta modificação, ainda que sutil, permitiu que a charmosa avenida que conhecemos hoje tivesse o nome de Avenida Paulista. A administração municipal na época, batizou a travessa não como avenida mas de Rua Paulista, e assim ficou.

No mapa de 1895, a seta indica a localização da Rua Paulista
No mapa de 1895, a seta indica a localização da Rua Paulista

Observando com a nossa visão atual da cidade, realmente fica parecendo estranho nomear uma via tão pequena de avenida, mas aos olhos dos paulistanos daquela época, com uma cidade muito menor e propensa a se expandir, fazia todo o sentido.

Em 1891 a Avenida Paulista que conhecemos hoje foi então inaugurada e a cidade passou a ter o gentílico como nome de dois endereços em São Paulo e eles eram bastante próximos, como mostra o mapa a seguir:

Neste mapa de 1905 é possível observar tanto a rua como a avenida Paulista.
Neste mapa de 1905 é possível observar tanto a rua como a avenida Paulista (no canto esquerdo).

Como teria sido o nome da nossa atual Avenida Paulista caso o projeto de lei de 1886 tivesse sido executado sem alterações e a tal rua batizada como Avenida Paulista ? Provavelmente nunca saberemos essa resposta.

O FIM DA RUA PAULISTA:

Você ai deve estar se perguntando: afinal que rua Paulista é esta que não encontro nos mapas mais recentes ? Bem a resposta é simples… ela existe até hoje mas com outro nome, e se você já foi ao bairro da Liberdade alguma vez possivelmente já passou por ela.

Em 1915 os vereadores Rocha Azevedo e Joaquim Marra propuseram um projeto de lei alterando o nome da rua Paulista para rua Castro Alves. A ideia era homenagear o poeta brasileiro falecido em 1871.

Correio Paulistano 16/06/1915
Correio Paulistano 16/06/1915

Aprovado o projeto de lei a rua teve sua nomenclatura alterada naquele mesmo ano desaparecendo para sempre de nossa história, sendo desconhecida até nós reencontrarmos aqui este fato. O poeta Castro Alves é merecedor de uma rua em sua homenagem, mas poderia ter sido colocado seu nome em uma nova via da cidade ou em uma das inúmeras ruas paulistanas que naquela época sequer tinham nome e eram identificadas apenas por números.

Nota-se que não é de hoje a vontade de vereadores em apagar a história paulistana a seu bel prazer. Seja por capricho, ego, populismo ou até razões nobres, a história antiga de São Paulo desaparece pelas mãos e canetas daqueles que deveriam protegê-la.

No mapa de 1916, ano seguinte a alteração, a rua Paulista já não constava mais no mapa.
No mapa de 1916, ano seguinte a alteração, a rua Paulista já não constava mais no mapa.

Alguma alteração de nome de rua, avenida ou praça incomodou você ? Diga qual foi nos comentários.

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34 respostas

  1. Douglas, vi que um edifício próximo a essa rua é destacado nos mapas como colégio Tamandaré. Por curiosidade fui verificar no street view mas não achei nenhum vestígio dele nas construções de hoje, por acaso vc sabe alguma coisa da história do colégio?

    1. Moro aqui desde sempre.e.nunca existiu mesmo! Neste terreno sempre foram lojinhas e um laboratório e mais pra baixo o extinto Hospital Modelo! Provavelmente fora demolido antes de 1971

  2. A rua que fica entre o Copan e a Av Sao Luiz chama-se Jose Mantovan Freire. Que é? Pouquíssimos sabem. Mas ele foi uma figura rara, um boêmio muito conhecido nos melhores anos daquela região, chamado Zé do Pé.
    O ideal seria que a placa fizesse a menção devida ou simplesmente alterasse o nome. Como está a homenagem não funciona. Seria a mesma coisa que chamar a rua Adoniran Barbosa de João Rubinato.

  3. E a influencia do Joaquim Eugenio de LIma na escolha do nome da Avenida? Ele nao era dono das terras ao redor da Avenida Paulista?

  4. Comparando os mapas do início do século XX com os atuais a gente pode observar que a antiga rua Paulista cruzava o vale hoje ocupado pela 23 de Maio em sua continuação para o lado oeste da Vergueiro; seu nome foi (segundo o mapa) Cel. Rodovalho. Calculo que tal “continuação” seja hoje a ruazinha chamada Santana do Paraíso cujo trecho do outro lado da 23 de Maio hoje é a Rua Pio XII. Eu não sabia que esse papa “mandou” o nosso coronel lá pra Penha … Douglas, como a gente aprende historias com vc !!!

  5. Entre os motivos (todos escusos) que tem os vereadores para, a torto e a direito, mudar denominações de logradouros públicos, há um que não foi citado no artigo, qual seja, o de irritar gratuitamente a população. Pois bem, em Santo Amaro, há o Largo São Sebastião, assim conhecido até hoje. Há décadas atrás alguém teve a brilhante ideia de mudar o nome para “Largo Boneville”. Não conheço ninguém que a ele se refira com este nome. Creio que difícil será encontrar uma explicação racional para tamanha idiotice.

  6. Douglas, me tire uma dúvida de carioca que adora Sampa: De onde surgiu o nome da Rua Galvão Bueno, na Liberdade?

  7. “…Nota-se que não é de hoje a vontade de vereadores em apagar a história paulistana a seu bel prazer…” Já ouviram falar em “Diminuir a barretina da guarda nacional” para ter um projeto aprovado e poder continuar na “casa” ? Me lembra algo!

  8. As pontes das marginais, a estação Armênia, que já foi Ponte Pequena, tunnel 9 de julho as avenidas como água espraiada ou atlântica, entre outras.

  9. eu adoro esse blog! Suas histórias são lindas e me remete a um tempo que eu não vivi, porém sou apaixonada!

  10. Se alguma alteração de nome de rua me irritou? Todas, sou contra isso, deveria haver uma lei proibindo mudança de nome de rua. Ridículo saber que a mãe do Milton Neves teve seu nome incluso na Ponte dos Remédios. O que essa sra. fez por São Paulo. Aliás, acho que nunca morou aqui. E o filho dela é o pior jornalista esportivo do Brasil. Ou seja, essa pessoa não merece ter seu nome aqui em SP. E essa palhaçada de rebatizarem de Palestra Itália o trecho da Rua Turiassu (ou Turiaçu, nunca sei) em frente ao estádio.
    Aqui no Tucuruvi, onde moro, ter de ver o nome do Valdemar Costa Filho, pai do famigerado Valdemar Costa Neto e ex-prefeito de Mogi das Cruzes, como nome do Mercado Municipal do bairro. São vários exemplos.

  11. A mudança dos nomes das pontes das Marginais é verdadeiramente lamentável….além de um crime histórico, provoca confusão inclusive na localização das pessoas. Não entendo porque descaracterizar um bairro e suas adjacências. Parabéns, como sempre, pelo trabalho.

  12. Parabéns pelas postagens… Gosto bastante deste tema, afinal a minha dissertação tem como fio condutor a denominação de logradouros no Centro de Fortaleza e, assim como São Paulo e outras cidades, perdeu boa parte das antigas denominações que foram modificadas e, muitas vezes, não possui relação alguma com o lugar onde se situam. Trago um diálogo entre a Geografia e a Toponímia como discurso a partir da denominação dos logradouros como parte do processo de produção do próprio espaço urbano tornando-se reflexo deste.

    1. Douglas, excelente Blog! Como diria Barack Obama, “você é o cara!”, e não aquele “anarfa”,
      o Nove Dedos. Por acaso, descobri seu Blog enchendo o saco do ‘staff’ do Google Search, procurando por fatos históricos dos séculos XIX e XX. É que estou escrevendo um Romance, entre um Senhor de Engenho e uma jovem escrava, e os cenários são nada menos que, a nossa querida São Paulo da Cana de Açúcar, pelos lados da zona açucareira do Vale do Ribeira em pleno século XIX, como da França do mesmo período. Como diversos autores já falaram sobre o Café, eu resolvi falar do Açúcar. No meu livro, os personagens vão até Paris,
      e a busca pelos fatos históricos daquela época é um verdadeiro quebra-cabeças. Veja bem: o livro é ficção, mas os cenários são reais, porquanto, não posso omitir nenhum fato histórico, senão, o pessoal (professores) de história vão me encher as botas.
      PS: Quando eu terminar de reformar a casa onde moro, que é do meu senhorio, proponho
      depositar alguns trocados na sua conta, okay? A Big hug, my dear friend.

  13. Razões políticas à parte, sempre discordei da mudança do nome do Minhocão e até hoje o chamo de Elevado Costa e Silva.

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