É fato que alguns temas de nossa história são considerados tabus. Tais fragmentos de nosso cotidiano do passado são colocados de lado por uma série de motivos, e o preconceito é a principal razão.
Lendo livros de história do Brasil temos muitas vezes a impressão de que em nosso país até pouco tempo atrás não havia crimes hediondos, não existia consumo de drogas, não havia homossexuais ou travestis em nosso território etc.
Vou abordar alguns destes temas, e vou começar por aquele que está no debate pró e contra a legalização: a cannabis

A planta mais polêmica do mundo ? Ou a mais injustiçada ?
Proibida no Brasil e em boa parte do mundo desde o início do século 20, a cannabis sativa, planta que dá base para a maconha, era encontrada nas ruas de São Paulo no século 19. Naquela época não havia perseguição, críticas ou mesmo preconceito. O motivo ? Era considerada uma planta benéfica para a saúde.
O anúncio abaixo, de cigarros “cannabis índia” foi publicado no jornal Correio Paulistano em 1872:
Tanto a planta em si, como a maconha como chamamos hoje em dia, podia ser encontrada em São Paulo de várias formas, seja como planta, fibras, cigarros e gotas.
As indicações da cannabis na linha medicinal em São Paulo eram principalmente para combater males como asma, afonia e até insônia. Nos anúncios publicados nos periódicos paulistanos, não faltavam elogios para a erva, como este de 1883:
Ainda no século 19, precisamente em 1887, um médico chamado apenas de Dr Desmartes colocava os cigarros feitos a partir da cannabis como os mais eficazes ao combate da asma, sendo superior ao arsênico e, pasmem, o ópio.
É evidente que nem todos os médicos que eram citados nos jornais da época eram de fato médicos ou sabe-se lá se estas pessoas sequer existiam. Era uma época onde tônicos e pílulas para todos os tipos males faziam sucesso entre as pessoas, sendo que boa parte delas eram um grande engodo.
Entretanto, um desses doutores descreveu positivamente os efeitos da cannabis que hoje muitos especialistas julgam hoje em dia como negativo.
E sobre esta “embriaguez especial” que o haxixe produzia, haviam menções curiosas e engraçadas sobre ela, como as proferidas por um tal de Dr. Czerkis, de Viena em 1910. O segundo parágrafo do artigo abaixo, do Correio Paulistano, é o melhor:
O preconceito principal que os cigarros de maconha sofriam no passado brasileiro e paulista se devia principalmente ao fato de serem relacionados aos escravos, que apreciavam a erva, e também aos rituais das religiões afro-brasileiras. Fora isso os cigarros de maconha eram consumidos também nos rincões distantes dos grandes centros, por agricultores após um exaustivo dia de trabalho na roça.

Na foto o chamado “cachimbo d’água”
O fato de nos recortes do século 19 os anúncios apresentarem os cigarros como feitos de “cannabis índia”, se deve ao fato de que parte da planta consumida no Brasil vinha da Índia, especificamente da colônia portuguesa de Goa.
Mas os portugueses também investiram na plantação da cannabis em solo brasileiro, instalando no Brasil em 1783 a Real Feitoria do Linho-Cânhamo, financiando a plantação e preparando a adaptação ao nosso solo e clima, em hortos selecionados em estados como Amazonas, Maranhão e Bahia.
Já na segunda década do século 20, à medida que a proibição se espalha pelo mundo afora, anúncios, notas e artigos sobre a cannabis desaparecem dos jornais paulistas, com raras exceções como esta abaixo de 1936, onde em uma sessão de perguntas e respostas de homeopatia, um especialista recomenda a uma paciente o uso de cannabis em gotas:
A partir do anos 40 e de boa parte do século 20 a maconha e a cannabis são mencionadas nos jornais apenas como drogas e de maneira negativa, sendo que boa parte dos artigos que surgem mencionam prisões de pessoas pelo porte ou venda.
Teria sido a maconha proibida pelo simples fato de ser nociva à saúde ou pelo fator econômico ? Atualmente discute-se a legalização da maconha, você é favorável ou contrário a essa medida ? Comente e explique suas razões.
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