Casarão JL (demolido) – Avenida Gabriela Mistral

A Penha é um bairro cujas características únicas dão um ar de cidade, como se ao invés de estarmos na capital, estivéssemos em alguma cidade interiorana. Sua ladeiras, suas ruas de paralelepípedo, suas igrejas… tudo contribui para um cenário atípico de um bairro.

Aliás a Penha tem a curiosidade de ter pertencido por alguns anos no final do século 19 ao município vizinho de Guarulhos, mas isto é papo para um futuro artigo.

Mudando um pouco de assunto, apresentamos pra vocês este casarão:

clique na foto para ampliar

Bastante esquecida pelo tempo, esta bela construção da Penha está localizada no número 519 da Avenida Gabriela Mistral, que liga o centro do bairro a Guarulhos e também até a Avenida Assis Ribeiro, via que margeia a linha variante da CPTM até a região de São Miguel Paulista.

Para falar sobre este casarão, precisamos antes falar brevemente sobre a avenida onde ela se encontra. No princípio esta via bastante conhecida da Penha não tinha este nome, era chamada de Estrada Nova da Conceição.

Esse nome foi dado devido ao fato dela ser ligação para a vizinha cidade de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, atualmente denominada apenas de Guarulhos. O fato de ser chamada de “estrada nova” é devido a existência da antiga Estrada da Conceição, que era o outro caminho para chegar até o município vizinho (já contamos a história desta estrada aqui).

O mapa abaixo, de 1913 ilustra bem como era a Penha e seus arredores (a área no círculo vermelho é onde este artigo se situa):

clique no mapa para ampliar a imagem

Esta estrada não era muito habitada até meados dos anos 1920, haviam algumas olarias na margem do Rio Tietê, uma padaria que existiu até alguns anos atrás e também muitas chácaras.

É neste cenário que se encontra o casarão deste artigo, que até parece ter feito parte de uma propriedade muito maior, que se estendia pelos fundos do imóvel em direção ao rio, que atualmente encontra-se com seu traçado retificado.

As iniciais JL no portão de entrada (clique na foto para ampliar)

Construído entre as décadas 1910 e 1920, o casarão chama atenção em sua entrada pelas iniciais JL gravadas em seu portão de ferro. Possivelmente trata-se das iniciais de seu proprietário, o qual infelizmente não conseguimos até o momento identificar.

Apesar de não estar em seu melhor estado de conservação, o casarão chama a atenção por manter até hoje suas características originais preservadas. Portão, muro com balaústres, sacada, portas e janelas de madeira, tudo está em seu devido lugar.

Se restaurado o imóvel logo recupera seu brilho e glamour do passado, porém precisamos ser realistas: Quem em sua plena consciência empregaria uma pequena fortuna para restaurar um imóvel dessa magnitude na decadente Avenida Gabriela Mistral ?

A realidade é bem distante da nossa vontade de ver um casarão como este totalmente restaurado. O que no passado foi uma bucólica estrada com chácaras, rebanhos e plantações hoje é uma via violenta, mal iluminada e próxima de favelas.

Só uma completa reurbanização da região e arredores poderia trazer um futuro mais promissor ao belo casarão centenário. Mas sabemos que estas políticas públicas demoram a serem realizadas, isso quando elas realmente acontecem.

Veja mais fotos (clique na foto para ampliar):

ATUALIZAÇÃO – 07/01/2020:

Alguns leitores entraram em contato informado que o Casarão JL havia sido demolido e fomos lá conferir e constatar que realmente ele foi abaixo.

É uma pena que mais um casarão de relevância tenha deixado de existir e, até o momento, sem necessidade alguma. Estaremos acompanhando para saber o que será construído no local.

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15 respostas

  1. Eu creio que o “JL” do portão (logo que vi me veio à memória, já que tive uma grande parte da família moradora daquela região), do Sr. José Lopes, português, comerciante, que inclusive me parece que tem seu nome dado a uma pequena praça próximo dali, na Av. Cangaiba.

      1. Infelizmente não… Todos que moravam na região (Principalmente na Rodovalho) já faleceram ou se mudaram e perdi o contato. Quem me contou sobre ele, há décadas atrás, foi meu tio e padrinho, já falecido, homônimo dele.

  2. Douglas a casa 922 da Vitorino Carmilo que vc postou aqui tudo indica foi onde morei com.meus pais de 1950 acho que até 1954…tia minha disse que a casa que morei nesta rua ficava entre as ruas Lopes Carneiro e Souza Lima e mais perto desta última…será que ainda está lá ?
    Abs
    Marcos

  3. O que o Douglas disse, infelizmente é uma realidade de muitos imóveis aqui em São Paulo, as vezes a casa antiga fica numa região mal localizada e que não é de interesse das pessoas morarem ali, então infelizmente esses imóveis vão se deteriorando.

  4. João de Luca, foi quem construiu esse casarão. Os tijolos também foram fabricados por ele, que era proprietário de uma olaria às margens do Rio Tietê (décadas antes deste ter sido retificado) e neles também existe o J L grafado. Atualmente o imóvel encontra-se em Área de Interesse Público, fato publicado em D.O. do Estado e assinado pelo então Governador Geraldo Alckmin, com o motivo de futuramente passar parte da Linha Verde do Metrô pelo local. O antigo “Caminho Particular” João de Luca fazia parte do terreno mas era utilizado para servir aos moradores das casas também construídas por João de Luca na “Vila”, como era conhecida essa via de acesso que terminava confrontando com a linha férrea. Foi mudada para o status de Rua pelo governo municipal. Hoje tem uma passarela que passa sobre a linha férrea e desemboca na parte mais baixa da “vila”, servindo de passagem à comunidade que se desenvolveu entre a linha férrea e a “Marginal do Tietê”. Isso trouxe sérios problemas de segurança e de acúmulo de lixo para os moradores do local e acabou com o pouco que restava de valor imobiliário. Infelizmente, o destino do casarão será a demolição quando o processo de desapropriação da área for concluído. É mais um triste exemplo de como o patrimônio histórico/cultural de nossa cidade não tem valor nenhum para nossos administradores. Desde sempre e sabe-se lá até quando.

    1. Vontade de chorar por saber da possibilidade de demolição desse casarão tão lindo. Antes ele tinha um chafariz de ferro logo na entrada e quando percebi que o mesmo foi retirado me doeu na alma. Moro na região e todas as vezes que passo em frente fico observando. Por várias vezes me imaginei adquirindo esse imóvel. Amo arquitetura e imóveis antigos.

  5. Muito interessante conhecer a história do casarão. Obrigado aos que postaram os comentários. Lamentável que tenha sido demolido! Não vou para a Penha há longo tempo, cheguei a ir muito uma época, quando ainda morava em São Paulo – SP. Depois que me mudei para Santo André – SP, em 2008, vou mais para a região do Ipiranga e Saúde, embora goste bastante dali, São Paulo e aquela agitação toda não me fazem muito bem, uma vez que, com a idade avançando, prefiro lugares mais tranquilos. Meu sonho seria morar no interiorzão, onde só escutasse o barulho dos pássaros e sons da natureza.

  6. Eu sempre passo pelo local e fiquei sabendo que essa extensão da Gabriela mistral envolvendo as residências das ruas Mário de Castro, Paulinia Boemer, João de Luca, Rinópolis, e Hansa, serão desapropriadas demolidas por conta da futura Estação Tiquatira do Metrô, e se você acessar o Google Maps, bem onde estava esse casarão que foi demolido ja tem a sinalização de “Futura Estação Tiquatira”. O Curioso é que na rua Mário de Castro foram construídos em 2011 dois condominios de apartamentos, eu imagino a frustração da construtora / moradores em comprar os apartamentos sendo que você é obrigado a sair do local por conta do progresso do metrô. Quem passa de frente ja percebe os dois condominios com menos de 10 anos de construção já fechados pq todos já saíram dos apartamentos, mas ainda continuam de pé.

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