Casarão – Rua Buri, 100

Uma das regiões mais nobres de São Paulo, o Pacaembu, começa aos poucos dar sinal de que pode estar iniciando um lento processo de queda de padrão. Outrora algo impossível de se imaginar, casarões e mansões vazios e alguns até em situação de abandono, já surgem pelas arborizadas e sinuosas ruas do bairro.

Em uma visita recente encontrei ao menos duas residências em situação de abandono, vazia e com muitos vidros quebrados, como esta a seguir:

Localizado no número 100 da rua Buri, esta mansão está assim, fechada, há pelo menos cinco anos, quando foi a primeira vez que a visitamos e fotografamos, já no distante ano de 2009. Desde então nada parece ter acontecido  com o imóvel, exceto pela construção deste muro alto que está até hoje inacabado.

Novo muro altera a originalidade do imóvel (clique para ampliar).
Novo muro altera a originalidade do imóvel (clique para ampliar).

A construção deste muro é algo que entristece a vista deste imóvel por duas razões. A primeira, obviamente, pelo fato de estar há tantos anos sem ser concluído, dando um aspecto ruim a um imóvel tão bonito. A outra, o fato de alterar a originalidade da casa, construída com portões e muro baixos.

Apesar dos anos vazio, o imóvel apresenta no geral um bom estado de conservação, sendo que se está vazio ao menos parece que tem alguém zelando por ele. Entretanto, é possível notar que já sofreu alguns atos de vandalismo, especialmente em suas janelas. Observe na foto abaixo o belo vitral que existe nas janelas do andar térreo.

Flamingos na janela (clique na foto para ampliar).
Flamingos na janela (clique na foto para ampliar).

São cenas da natureza com vários flamingos. A arte se estendia pelas demais janelas, mas várias delas infelizmente já foram quebradas e podem ser irrecuperáveis, caso não existam imagens com os desenhos completos. Mesmo este vitral que sobrevive já foi atingido por uma pedrada (foto anterior).

E é assim que começa a degradação de um imóvel, de uma rua e até de um bairro inteiro. É o princípio abordado na “Teoria das Janelas Quebradas”.

Defendida pela primeira vez em 1982 pelos americanos James Wilson e George Killing, esta teoria diz que a presença de lixo nas ruas, vidros quebrados em imóveis e paredes sujas com pichação induzem a mais vandalismo e a pequenos crimes.

Uma entrada monumental (clique na foto para ampliar).
Uma entrada monumental (clique na foto para ampliar).

E foram estas ideias expostas nesta teoria que tornou possível a recuperação da cidade Nova York, que no início dos anos 1990 iniciou uma campanha para remover a pichação do metrô, que logo resultou em uma queda das taxas de crime em suas dependências. Dai partiu-se pra política conhecida como “Tolerância Zero”, do Prefeito Rudolph Giuliani, que trouxe uma transformação incrível para a mais famosa cidade dos Estados Unidos.

Será que estamos vendo no Pacaembu um exemplo desta teoria ? Até quando veremos esta magnífica mansão nesta situação ? Nenhum imóvel merece ficar esquecido, especialmente estes casarões tão significativos.

Se você tiver mais informações sobre este casarão, entre em contato conosco ou deixe um comentário.

Veja mais fotos(clique na miniatura para ampliar):

ATUALIZAÇÃO – 17/01/2022:

Passados oito anos de nossa visita ao imóvel, infelizmente nada mudou por lá. Ou melhor, o pouco que mudou foi para pior com a instalação de uma cerca de metal para isolar o palacete, que segue na mesma situação de esquecimento de quando visitamos pela primeira vez.

Abaixo uma imagem do final de 2021. Será que um dia veremos este imóvel restaurado ?

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22 respostas

  1. No meu ponto de vista, o abandono gradual do Pacaembu e outras áreas semelhantes se dá por questões de segurança. No atual estado de criminalinade creio ser inviável uma residência de alto padrão fora de um condomínio fechado.

  2. Os casarões desta rua têm quase 100 anos e este da matéria fica quase em frente ao que era da família Buarque de Holanda (no número 35) que foi adquirido pelo governo e está sendo reformado.

  3. Todas as vezes que vou ao Pacaembu assistir o Coringão passo em frente a este casarão. É triste, muito triste.

  4. Meu Deus, que decadência, essas mansões ou mini mansões assim abandonadas ou vazias, está sendo um “convite” pra esses desordeiros que servem de massa de manobra pra esse falso MTST, logo serão invadidas e depredadas!

  5. Douglas, esta matéria especialmente e as informações muito interessantes que você nos traz sobre os problemas vividos em Nova Iorque nos fazem pensar sobre muitas possibilidades existentes por detrás desses fatos e dessas práticas marginais que hoje se espraiam pelas grandes cidades brasileiras.
    Eu deixo de comentar as razões para o abandono e para a deterioração de inúmeras construções que compõe ou comporiam o nosso patrimônio histórico e cultural, porque esse é tema para quem entende de economia e conhece os caminhos muitas vezes escusos por onde ela transita.
    Entretanto, ainda preso ao conteúdo das suas informações, eu vislumbro nesse abandono e nessa degeneração já tão comum, um quê acentuado de corrosão proposital da estrutura da sociedade como um todo, através desse princípio ou teoria “das janelas quebradas”, que faz multiplicarem-se os exemplos negativos.
    É triste, muito triste chegar a essa conclusão.

  6. Perto de tantas outras residencias que vimos, esta até que ainda está bastante inteira, ainda não está pichada, a grama está cortada e tem energia elétrica, sinal de alguém ainda está zelando por ela. O que é muito bom sinal. Quanto ao muro, infelizmente, hoje, mantermos muros e portões baixinho, é quase que um convite a invasão, bandido nenhum respeita muro alto e cerca elétrica, quem dirá um muro de meio metro ainda mais sendo um casarão magnífico como este!!!! É realmente uma obra de arte!!! Pena aqui na minha cidade não existir casas como esta!!!
    Meu consolo é que aqui no RS ainda existem algumas cidades que conservam este tipo de patrimônio como Cruz Alta e Antônio Prado (se tiver um tempinho, olhem as fotos no google) Cruz Alta existe casas maravilhosas, sem contar os quartéis, são quatro, lindos e super bem conservados!

  7. Caro Douglas, salvo engano vi matéria antiga sobre esse casarão na Revista Acrópole da FAU, que agora tem seu acervo integralmente disponibilizado na internet. Não me recordo em qual edição (e posso estar enganado também). Vasculharei e se encontrar indicarei aqui.

  8. O problema é a passividade do brasileiro, que diante da violência incorpora-a ao seu cotidiano como se fosse a coisa mais normal do mundo, algo inexorável e impossível de ser com batido. E assim seguimos abandonando esta e outras regiões em avançado estado de putrefação.

    1. Emerson , você e alguns outros acima estão cobertos de razão . Somos um povo desleixado e indiferente e quase sempre nos acovardamos em vez de enfrentar a adversidade . Andar a pé pelo Pacaembu , pelo Sumaré e por Higienópolis me enche de tristeza tal o abandono das casas e das ruas . Igualmente culpados o poder público como os moradores das belas e decadentes casas . As cidades do Brasil caminham a passos largos para a completa favelização.

  9. Linda casa, é uma pena ver barros chiques e elegantes se deteriorar, todos com medo da criminalidade inpune desse país! Logo os “sem tetos” invadem essa bela residência e a destroem, pelo ódio inerente nesse tipo de ralé!

  10. Trabalhei muitos anos com desenhos jateados sobre vidro. Como o exemplar da casa da rua Buri. Para quem estiver interessado, minha empresa fica na Rua dos Italianos 723 – Vitrines Bom Retiro

  11. Alguns fatos e ponderações sobre estas mansões do Pacaembu

    O êxodo de fuga de casarões para apartamentos alto padrao, na busca de uma segurança pessoal, ainda que fugaz.
    O custo de manter estas casas, entre iptu, criadagem, jardineiro, segurança patrimonial e excessivo, até para os milionarios de hoje. Apenas o clube de bilionários podem manter estas moradias.  
    As famílias ficaram menores.  
    Lazer comum mais elaborado em edifícios alto padrão tornou a carteira sócio de clubes privados um luxo desnecessário.  

    Assim mesmo, e interessante, passando pelos nomes de proprietários, a rotacao entre dinheiro velho e dinheiro novo ( leia-se novos ricos ).

    Estas casas sao tombadas, não creio que o atual proprietário tencione derrubar-la. A murada deve ter sido erguida numa tentativa  de proteger a casa contra roubos de material ( cobre, alumínio, latão, porcelanas, metais ), e pior ainda, invasões de sem teto.  Presume-se a morada vazia.

    Há problemas com a burocracia de ocupação desses imóveis…  

    A tradicional ocupação por escritórios de advocacia, clínicas, serviços financeiros, e contabilidade, e inviavel economicamente, para o que o bairro comanda em termos de valores locatícios. Ademais tais prestadores de serviços podem, por um custo menor, locar lajes comerciais na Faria Lima, Vila Olímpia, Av. Angelica, e por aí afora. Com segurança, em edifícios construídos para o uso corporativo/comercial.  

    Moradia coletiva, co-living, republica de estudante, não compensa economicamente, e não garante a conservação desses imóveis. E a prefeitura, pelo que eu saiba, não permite ocupação coletiva destes imóveis ( o que e um detalhe meramente contratual, sob os quais os proprietários aqui nao estao equipados para lidar ).

    Enquanto isto, estas belas mansões permanecem no limbo.  

    Morar na Snuburbia deveria ser privilégio, ainda mais quando é tão centralmente localizada.  Não é o caso aqui.

  12. Achei uma matéria que fala sobre o imóvel da Rua Buri 100. SUDOESTE
    Jorge Baleeiro de Lacerda • jorgebaleeiroeelacerda@jornaldebeltrao.com.br
    Autor do livro Os Dez Brasis
    A casa da Rua Buri, nº 100
    24/07/2010 00:00
    Pobre, sempre pobre, mas já tive a oportunidade de morar bem, muito bem, quando vivia na companhia do tio Januca, em São Paulo, ainda habitável, em que se podia andar a pé ou de bonde. Restavam duas ou três linhas. Essa São Paulo sumiu. Só existe na memória de quem a vivenciou naqueles idos, daí meu desejo de registrar essa fase.
    Quando deixei Belém, em 64, para morar em São Paulo, não imaginava que fosse para uma mansão, à Rua Buri, número 100, minúscula rua do Pacaembu, com apenas duas casas. Na verdade a Buri seria um apêndice da Rua Minas Gerais, na ladeira entre a Av. Paulista e o Estádio do Pacaembu. Aquele pedacinho do bairro do Pacaembu é um labirinto de ruas, umas na direção da Av. Rebouças, outras no rumo do estádio, outras na direção do Cemitério do Araçá. No número 115 da Buri, a única casa do outro lado da rua, morava o escritor Sérgio Buarque de Holanda, que não tinha nenhuma relação de amizade com tio Januca. Acho mesmo que estava na Europa nessa época. Nunca o vi por ali. A casa vivia fechada. Li, não faz muito, que a família do Chico Buarque mantém a casa, como uma espécie de museu. A casa continua de pé como me prova uma foto mandada bater pela amiga e mecenas, a brilhante jornalista Liliana Lavoratti, editora da Revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas.
    A casa fora construída nos anos 40, depois comprada pelo dr. José da Cunha Jr., que a vendeu ao tio Januca, em 1962. Nela residiu dois anos e meio, depois a vendeu. Foi construída numa rua desnivelada, formando ângulo agudo com a Rua Angatuba. A parte da frente (térreo e primeiro) dava vista para a Rua Buri. Já a parte de trás dava vista para a Rua Angatuba. A ladeira em que fora construída permitiu que fosse escavada área para garagem e um grande terraço sobre as garagens, além de um salão, dois quartos, mais lavanderia. No nível da garagem havia três quartos pequenos, um banheiro e escada de acesso para o andar que dava para o grande terraço. As ruas Buri e Angatuba davam acesso à Av. Pacaembu. Logo do outro lado ficava (e fica) o Cemitério do Araçá. Da Rua Buri à Av. Paulista dista menos de 500 metros. Tratava-se de área valorisadíssima, tanto que tio Januca, secretário da Educação de Ademar de Barros, foi muito criticado por ter comprado, logo que assumiu a secretaria, essa verdadeira mansão.
    No andar térreo a sala de entrada, o hall onde ficava a escada que dava acesso ao andar de cima, um refeitório com móveis coloniais, jardim de inverno, imensa sala de estar com dois ambientes, banheiro, cozinha e a copa. No andar de cima, cuja frente dava para a Rua Buri, havia três quartos grandes, uma pequena sala (biblioteca) que dava para uma sacadinha com vista para a Rua Angatuba e uma sala com saída para a sacada principal da casa, sobre a escadaria da porta principal (durante o tempo do tio Januca, as colunas foram preenchidas com tijolos formando as paredes de uma capela, que voltou à forma inicial com o novo dono). O andar que ficava parte enterrado no chão era de pedra maciça, creio que basalto martelado (Quando fiz as janelas do porão de minha casa, aqui em Beltrão, me inspirei nelas, colocando ferragem maciça de uma polegada de pedras ?basalto ? de 50 cm de largura).
    A casa vivia cheia de gente. Figurões, deputados e vereadores, professores, gente do alto e do baixo clero que vinha tratar de altos assuntos do ?seu interesse? com o secretário de educação, mormente bolsas de estudo (distribuição de bolsas de estudo). Cabe dizer que a administração do tio Januca era criativa. A perseguição que lhe fizeram tinha outra raiz e outro viés. Visava atingir o governador Ademar de Barros. Sem raiz alguma em São Paulo, o secretário Januário Baleeiro de Jesus e Silva era o mais vulnerável dos secretários de Ademar. Arranjou logo muita ciumeira dos antiademaristas quando criou na televisão o curso de admissão ao ginásio em convênio com a TV Cultura – Canal 2. Criou o Serviço de Bolsas Estaduais de Estudo, que mereceu total apoio do Ademar de Barros e grangeou o ódio dos inimigos da Igreja. Acusaram-no de favorecer os colégios católicos com milhares de bolsas concedidas. Mereceu processo, que acabou no STF. Quinze anos depois foi absolvido. Tudo política e calúnia! Homem de muitas ideias, tio Januca levava a marca de não ser de São Paulo, nunca ter feito política em São Paulo, salvo na campanha de 1962, em que Ademar de Barros saiu vitorioso, tendo Baleeiro como um dos maiores e mais brilhantes oradores de sua campanha.

  13. Magnífico este seu trabalho, Douglas, de fotografar estas casas de São Paulo de outrora. Mas eu penso que ficaria mais interessante se pudesse fotografar também o interior das casas, como também, um pouco da história das famílias que nelas residia. Muitas vezes estas famílias tem histórias extraordinárias.

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