Há vários anos que se vem falando sobre a possibilidade do Anhembi Parque virar um cassino de luxo. Mais do que isso, um grande resort turístico, em que a vertente de cassino é apenas uma das várias providenciadas pelo espaço. Seria um negócio com um enorme impacto na evolução histórica e urbanística da cidade, pela importância que o Anhembi vem assumindo para os paulistanos e não só.
O tema surge, claro, associado à possibilidade de liberação da atividade dos cassinos e jogos de azar. O projeto de lei 186/14, que parecia às vésperas de ser aprovado no final de 2017, acabou bloqueado no Senado, e a dinâmica política do ano passado (com a eleição presidencial) não arrumou mais espaço para esse assunto. Entretanto, com o novo presidente já em pleno exercício de seus poderes e o Congresso funcionando na normalidade, o tema poderá regressar.
BOATOS NA IMPRENSA:
Nas últimas semanas, alguns sites brasileiros (principalmente ligados ao tema dos jogos) relembraram o interesse de empresários americanos no Anhembi. O tema não é muito desenvolvido, mas parece estar relacionado com os últimos desenvolvimentos no Rio de Janeiro.
E se o Rio vier a receber alguns dos melhores cassinos do país, independente da aprovação de uma lei regulatória para todo o território nacional, será estranho que São Paulo não venha também a ter seu regime de exceção.
NO RIO, A PRESSÃO DE CRIVELLA:
No Rio de Janeiro, o Prefeito Marcelo Crivella (PRB) já passou a fase de tentar disfarçar sua aproximação ao empresário de cassinos de Las Vegas Sheldon Adelson. O magnata, membro da lista dos homens mais ricos do mundo da revista Forbes, onde aparece nas primeiras 30 posições, já por duas vezes visitou a Cidade Maravilhosa para se encontrar com “o prefeito da Universal”, que sempre evitou falar em cassinos à mídia e preferia falar em investimento para a cidade.
Entretanto, em dezembro Crivella passou ao “ataque”. Em uma longa entrevista, anunciou claramente que Adelson pretende investir no Rio, que “O compromisso dele é investir US$ 10 bilhões e gerar 50 mil empregos”, e que “As pessoas sabem que se não tivermos emprego, vamos para o caos social”, o que significa que Crivella está disponível para sacrificar pelo menos um pouco do princípio anti-jogo em nome do desenvolvimento econômico. “E joga quem quiser”, arremata Crivella, pegando no argumento supremo utilizado pelos que são favoráveis à liberação.

São Paulo já teve cassinos, como o Cassino Paulista na antiga Rua de São João
O INTERESSE ANTIGO DE SHELDON ADELSON:
Se as notícias das últimas semanas sobre o interesse de empresários americanos de Las Vegas em S. Paulo são pouco desenvolvidas, o interesse de Adelson já vem sendo notícia faz tempo. Já em 2016 seu nome estava associado a um artigo do Estadão sobre uma possível conversão do Anhembi em um cassino. E no último mês de novembro, a Veja voltou a esse tema.
A “superlicença” de que falou Crivella em dezembro vai contra o que está previsto no projeto de lei 186/14, que foi vetado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado em março. Nesse projeto, haveria licenças de grandes cassinos-resort para todos os estados brasileiros, em função de sua população. Para São Paulo, tendo mais de 12 milhões de habitantes, seriam três as licenças válidas (para Adelson ou outros, claro, dependendo de concurso público).
Será justo que o Rio de Janeiro consiga uma superlicença, em nome de uma determinada prioridade econômica, sem que o resto do Brasil, tenha a mesma oportunidade? Para mais, sabendo que pelo menos o mesmo Adelson tem interesse na capital paulista – e seguramente haverá outros interessados também.
RELEMBRE A HISTÓRIA DO ANHEMBI:
Todavia, será que a conversão do Anhembi em um cassino-resort é a melhor opção para a cidade? Teremos outra infraestrutura capaz de substituir o Anhembi com a mesma capacidade e qualidade? Ou será possível encontrar uma solução intermédia, como uma privatização parcial?

Vista aérea do Anhembi em setembro de 1972
Afinal, o Anhembi vem sendo, há meio século, uma grande “âncora” do desenvolvimento paulistano. Em meio à década de 1960, a cidade sentiu a necessidade de um grande centro de exposições e eventos, pois o Pavilhão da Bienal já não comportava a dimensão dos eventos que acolhia.
O terreno às margens do Tietê, onde o empresário Caio de Alcântara Machado imaginou o novo parque, até pertencia à Prefeitura. O sonho virou realidade em 1970 e o novo “Centro Interamericano de Feiras e Salões” simbolizava a S. Paulo dos negócios, do comércio, internacional e cheia de futuro.
O nome Anhembi Parque veio depois. Mais tarde, dificuldades financeiras acabaram levando a Prefeitura a se tornar sócia, consciente da importância estratégica do Anhembi para o desenvolvimento da cidade.
O Pavilhão de Exposições, o Palácio das Convenções e o Sambódromo integram um espaço com 400.000 metros quadrados, e que até já recebeu corridas do campeonato de automobilismo norte-americano Indycar. Estas são precisamente as três partes que poderiam ser privatizadas separadamente, de acordo com uma intenção que o ex-prefeito paulistano João Dória (PSDB) já havia referido.
Será que Sheldon Adelson consegue o jackpot?
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