Cine Bandeirantes (Cine Ouro)

Se hoje temos raríssimos cinemas de rua no centro de São Paulo e a maioria deles exibindo somente filmes adultos, no passado a realidade era bem diferente.

Espalhados região central da capital paulista existia um grande número de cinemas exibindo filmes de qualidade e quase sempre lotados. Um deles, atualmente desativado, era o Cine Bandeirantes.

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Inaugurado para convidados e autoridades em 13 de abril de 1939 e para o público em geral no dia seguinte, o Cine Bandeirantes estreou com bastante repercussão pela cidade pelo fato de ser uma sala bastante moderna e luxuosa para aquela época, e também por adotar o nome em alusão aos bandeirantes paulistas.

O cinema possuía recursos modernos e curiosos, como quase todas as suas paredes da sala de projeção serem revestidas de veludo, para garantir uma melhor acústica. O sistema de ventilação da sala era bastante arrojado e motivo de elogio pelos críticos da época. Outro fato bastante comentado à época foi o fato do Bandeirantes usar os excelentes projetores alemães Euro G, que eram refrigerados a ar e tinha uma nitidez muito superior aos concorrentes refrigerados à água.

Na foto o luxuoso saguão do Cine Bandeirantes

Uma outra característica notável do cinema era o magnífico vitral da sala de espera, com a temática voltada aos bandeirantes paulistas. No cinema também existiam réplicas em gesso (autorizadas) de obras de Aleijadinho.

Ao ser aberto para o público a película escolhida para a estreia foi um grande sucesso dos Estados Unidos, o filme Suez que tinha nos papéis principais Tyrone Power e Loretta Young. Abaixo o cartaz oficial do cinema publicado no jornal Correio Paulistano em 14 de abril de 1939.

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Em 1966 o cinema foi adquirido por Paulo Sá Pinto que foi proprietário, entre outros cinemas, do Marabá, que o rebatizou com o nome de Cine Ouro. E foi com este nome que este velho cinema paulistano ficou até seus dias finais.

Acompanhando a decadência que atingiu os grandes cinemas de rua de São Paulo, o Cine Ouro passou os últimos anos de funcionamento sobrevivendo com a exibição de filmes eróticos e de sexo explícito. Sem público e bastante deteriorado o cinema encerrou suas atividades no final do ano de 1994.

Após ser desativada a sala ficou algum tempo fechada até que foi reaberta como um estacionamento, que funciona até os dias atuais. Será que pelo menos os vitrais sobreviveram ? Fica a dúvida.

Veja mais fotos do Cine Bandeirantes / Cine Ouro (clique na foto para ampliar):
Crédito: Revista Acrópole (1939)

Veja fotos internas atuais, já transformado em estacionamento (clique para ampliar):
Créditos: Fábio M. Rotta (fotos 1, 2, 3 e 4) e Eduardo Okubo as demais.

Dados do cinema:
Nome: Cine Bandeirantes e Cine Ouro
Endereço: Largo do Paissandu, 138Centro
Inauguração: 1939 (Bandeirantes) e 1966 (Cine Ouro)
Primeiro filme: Suez (Bandeirantes) e O Colecionador (Cine Ouro)
Último filme: Desconhecido
Capacidade: 1800 lugares

Curiosidade:

O anúncio abaixo, de 1968, mostra como os cinemas de ruas paulistanos faziam sucesso antigamente. Já rebatizado como Cine Ouro, o anúncio mostra uma grande fila para assistir o hoje clássico “Planeta dos Macacos”. Será que um dia veremos uma fila longa em um cinema de rua de São Paulo novamente ?

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32 respostas

  1. Nos anos 50 e 60 eu era um cinemeiro de carteirinha como quase todo paulistano .

    Era local de encontro dos amigos e namorados nas noites de sabado e domingo .

    Os cinemas marcaram uma época romantica da cidade de SÃO PAULO , seria um

    pecado nos esquecermos de outros formidaveis cinemas tais como MARACHA ,

    REGENCIA , PICOLINO , MAGESTIC , TRIANON e muitos outros .

    Felizes as pessoas que viveram nesta época .

    1. Eu frequentei, nos anos 40/50, tanto o cine Bandeirantes como depois nos anos 60 (após 1966) o cine Ouro…saudades daquele maestro com seu piano, nos intervalos…(como era seu nome ???) No predio do cine Bandeirantes/Ouro, também havia o escritorio do grande MAZAROPI !!!

  2. meus pais me levaram junto com minha irmã para assistirmos Bernardo e Bianca em um cinema no largo do Paiçandu, por volta de 1977 ou 1978.

    será que foi esse?

    1. possivelmente foi no cine Paissandu. ou ent]ao no Art Palacio. Pois os filmes Disney eram destas salas…

  3. Aqui no Rio, o Vitória (na Rua Senador Dantas), depois de decair a pornô/Kung Fu, fechou e foi reformado, numa revitalização da Cinelândia) e voltou como mainstream. Mas teve vida curta. Logo, retornou a seu destino de pornô/Kung Fu outra vez, acabou fechado e também virou estacionamento. Cheguei a estacionar lá. Dava pena. Hoje, está fechado para reformas. A conferir o que sairá por lá. Há um cinema na Piedade (Zona Norte), perto da Universidade Gama Filho, que também virou estacionamento, mas acho que há mais tempo.
    Parece ser prática comum…
    Quanto ao nome Paissandu/Paiçandu… curioso estar grafado com Ç. Nunca havia visto assim (e olha que já vi de várias maneiras…)

    1. É a nova gramática da língua portuguesa, que determina nome indígena com “Ç”mas como não divulgam direito muita gente pensa que está escrito errado. Mas o correto agora é mesmo “Paiçandu”.
      Pior aqui em SP são ônibus, cada um de um jeito “Paisandu” ou “Paissandú” e “Paissandu”…

      Abraços!

      1. É. Eu sei que a tendência de nomes indígenas é ser com Ç. A exceção seria Pirassununga (parece que até tentaram forçar com Ç, mas a cidade rejeitou).
        O “problema” é que Paissandu/Paiçandu não é nome indígena brasileiro. É uruguaio, portanto, sofreu influência do espanhol, em que se escreve Paysandú, aliás, como se também grafava em português até 1943, quando a regra de acentuação mudou e caiu também o Y.

        1. Assim, Paiçandu me soa(ria) tão estranho como “mocacim” (e não mocassim, como é), considerando também ser indígena (embora dos EUA).

          Em tempo: o Aurélio não registra Paissandu escrito de modo algum (com YS, nem com ISS, nem com Ç); e o Larousse, somente “Paissandu”.

    2. onde fica esse cinema em Piedade?

      morei no RIo quando criança e fiz natação na Gama Filho. meu pai fez Direito lá.

      conheço bem a Manoel Vitorino, Assis Carneiro e Clarimundo de Melo.

      1. Na Manoel Vitorino, ao lado do posto de gasolina (que fica na esquina com a Rua da Capela). É uma garagem do posto. Por fora, não dá muito para perceber que era cinema. Só entrando, V. se dá conta.
        P.S.: eu também fui aluno da Gama Filho…

        1. achei. uma garagem pintada de azul, depois do posto (seguindo pela Manoel Vitorino).

          nunca soube que teria havido um cinema ali. sabe em que período funcionou?

          1. Ah, não
            🙁
            Localizei no Google Street View! O local é esse mesmo, mas o prédio a que me referia não era esse!…
            Tem tempo que não passo ali. Devem ter demolido.
            O prédio de que falo vinha até a frente da rua, quando estudei na UGF.
            Quem me disse foi o dono do posto e da garagem, há, no barato, uns 20/23 anos (quando eu estudava na Gama).
            Não, não sei quando acabou, mas acho que foi coisa do tempo do cinema mudo. A Gama tinha um museu com bastante coisa sobre o bairro. Talvez lá tivesse isso.

  4. Desde muito tempo, deixo o carro lá para passear no centro e ignorava que ali se situava uma das melhores salas de cinema de São Paulo. É, conhecer para apreciar e respeitar. Grande matéria.

  5. Douglas: bela pesquisa e fotos sensacionais. Parabéns! Tenho acompanhado bastante o seu site e me encanto pelas “viagens” que ele me proporciona. Especialmente neste tema das salas de cinema–eu, carioca, que passava minhas férias em São Paulo (acredite…não é piada!) até minha adolescência adiantada e que, invariavelmente, frequentava todos esses cinemas do centro, sempre encantado com a quantidade e qualidade de cinemas inesquecíveis. O Ouro foi uma delas, onde vi, em exclusividade, “A estrela” (Star!), exibido em 70mm/6 faixas de som estereofônico, um retumbante fracasso de Robert Wise pós “A noviça rebelde”, com a mesma Julie Andrews. Eu curtia bastante o estilo “colonioso” tão em voga nos anos 60 daquele longo corredor de entrada, com réplicas de Aleijadinho, “janelas” que “davam” para cidades históricas mineiras, móveis pesados, piso de cerâmica em lajotas…

    J.C.Cardoso: não sei se vc já esteve lá recentemente, mas o ex-Cine Vitória pelo menos virou filial da Livraria Cultura. E com sua arquitetura razoavelmente preservada e valorizada. Vale uma visita!

    João Luiz

    1. Ah! Que bom, xará (também sou João, mas João Carlos).
      Trabalho no Centro, mas para o lado da Central. Por isso, é difícil passar ali.
      A última vez em que passei por ali, ainda estava em obras.
      Bom saber mesmo. Merece até uma comemoração!…

    2. já eu fui criado no Rio. frequentei o Imperator no Méier e o Carioca, America e Tijuca 1 e 2 na Tijuca.

      mas por que você passava as férias em SP?

      1. Prezado Amaury, desculpe não ter acompanhado a leitura aqui destas mensagens ao longo destes anos tofos. Só hoje é que abri por conta de um comentário pergunta sobre o ex-Cine Bandeirantes. Imagine, quase SEIS anos depois de sua pergunta aqui. Desculpe mesmo.
        Realmente soa estranho um carioca, lá pelos anos 1960, passar as férias em SP…mas é que minha família materna é de SP. Minha mãe é paulista, assim como meu irmão. Eu já nasci a meio caminho, mais para o lado de cá, em Barra Mansa, Estado do Rio. Por isso nossas férias desde sempre e até meus 16, 17 anos eram passadas em SP, entre a Vila Galvão, onde meus avós paternos tinham uma chácara e o centro de SP, na Rua D. Veridiana, onde morou um tio que depois mudou-se para a Casa Verde. Quando no centro, Santa Cecília, íamos religiosamente aos cinemas da cinelândia paulista e, por isso, conheci boa parte deles, sendo o meu favorito, entre 1959 e 66, o Comodoro, com os filmes do Cinerama original.

  6. Não só essa matéria mas todo o conteúdo do site é um espetáculo. Vivo no centro de SP (Campos Eliseos) vou para casa todos os dias caminhando e cada dia que passa fico deslumbrado com as coisas que presencio. Está ai o site pra comprovar algumas histórias sobre SP que contamos na roda de amigos na qual pensam que estamos mentindo. Parabéns pela matéria!

  7. Pego ônibus praticamente na frente desse local todos os dias e não fazia idéia do que tinha sido!

    Por isso adoro as reportagens do Sao Paulo Antiga, agora fico feliz em passar por alguns lugares e saber mais da história de SP.

    1. Engraçado é que o sinal está no mesmo lugar. rsrsr E mais: no lado esquerdo, parece que hoje é uma rua (o prédio parece ser de esquina) que não havia anteriormente.

      1. J. C. Cardoso, notei a mesma coisa olhando pro lado esquerdo da foto… No mínimo a rua (que, acabei de ver, é a Antônio de Godói) era mais estreita (ou não existia).

  8. Há cerca de 10 anos fui numa festa da São Francisco (a famosa peruada), que começou e, depois de percorrer várias ruas do centro, terminou dentro desse antigo cinema. Eu nem sabia dessa história toda. Percebia-se que era um cinema desativado, mas não sobrou nada lá dentro.

    A propósito, parabéns pelo trabalho. Sou viciado nesse site!

    Obs: joguei no Street View e constatei que, numa das pequenas portas do prédio, aparentemente ainda funciona um estabelecimento com o nome de “Cine Ouro”, como cinema pornô…

  9. O predio pegado, na Antonio de Godoy, 8-20 e interessante pois da frente para a Antonio de Godoy e deixa os fundos, nomeadamente este no Largo Paissandu 138, com um enorme recorte de terreno.

    A fachada do edificio esconde o terreno, que para os padroes do Centro, e enorme. Seria interessante preservar a fachada, e vender os direitos de altura ( mesmo com uma torre vitrificada, se usar o verde ao inves do fume ) traria um efeito interessante. O terreno ali favorece incorporacao.

    Se eu estivesse nos sapatos de um investidor, eu compraria o Antonio de Godoy,8-20 e o Largo do Paissandu 132-180, manteria as estruturas, e incorporaria uma torre com fachada vitrificada.

    Se vc pensar direito, ha dezenas de anos que o Centro nao ve predios de escritorio.

    1. É porque o centro da cidade perdeu o título de fervilhante Manhattan bandeirante para a Paulista e este hoje pertence à região da Faria Lima/Berrini, tal como os antigos bairros industriais, ele perdeu a sua função, só que enquanto estes souberam reinventar-se, o centro velho jaz agonizante a olhos vistos e muito pouco senão nada é feito em prol de sua revitalização.

  10. Ainda me recordo do Cine Ouro, no largo Paissandu, assisti um filme lá uma única vez.

  11. Por essa eu nao esperava…..Assisti o filme O planeta dos macacos nesse Cine Ouro….tempos formidaveis decada de 60 do seculo passado……Parabens pela materia.

  12. Muito triste espaços culturais virando estacionamentos.
    Isso ocorreu com o Carbono 14, que frequentei muito na primeira metade dos anos 1980, para assistir a shows de bandas de Rock nacionais e vídeos na tela grande, das internacionais, época em que um aparelho de VHS ainda era um tanto inacessível para muitas pessoas.
    Também era a linda casa (de arquitetura arrojada e vanguardista) do Estúdio Cameratti, em Santo André, no Bairro Jardim (bairro que também, junto com o Campestre, sofre muito com a especulação imobiliária), que foi demolida há cerca de 20 anos, para dar lugar a outro estacionamento, e a Prefeitura nada fez. Havia boatos que a residência teria pertencido a Zé Rodrix, mas um dos donos do Cameratti era Belchior (eu vi isso em um contrato social do estúdio).

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