Cine São Bento

Hoje raros, os cinemas de rua eram bastante comuns na primeira metade do século 20. Endereços como as avenidas São João e Celso Garcia, além de ruas como Direita e Augusta possuiam muitas salas de exibição. Outra via que também tinha seu cinema era a rua São Bento.

Crédito: Fundação Bunge (clique na foto para ampliar)
Crédito: Fundação Bunge (clique na foto para ampliar)

Pertencente a empresa Bunge, o Cine São Bento foi uma importante sala de exibição da região central da cidade de São Paulo. Foi inaugurado na noite de 10 de setembro de 1927 com a exibição de um grande sucesso do cinema mudo da época, o filme “Tristeza de Satanás (ou Sorrow of Satan no nome original em inglês)“, da Paramount.

Nota de inauguração do cinema no Correio Paulistano e cartaz americano do filme (clique para ampliar)
Nota de inauguração do cinema no Correio Paulistano e o cartaz estadunidense do filme (clique para ampliar)

A escolha do filme não foi por acaso, uma vez que o Cine São Bento era o exibidor oficial na capital paulista dos filmes da Paramount. Isso só seria mudado dois anos mais tarde, quando o Cine Paramount (atual Teatro Renault) foi inaugurado na avenida Brigadeiro Luis Antônio.

O cinema pertenceu a Bunge até 1928, quando o São Bento foi vendido pela empresa pelo valor de 1850 contos de réis. Apesar de ao primeiro momento parecer estranho uma empresa como a Bunge que é conhecida por outros segmentos como o de alimentação ter uma sala de exibição, na verdade tratava-se de diversificação de negócios.

Crédito: Fundação Bunge
Crédito: Fundação Bunge

Após a constituição da empresa S.A. Moinho Santista em 1905 na cidade de Santos, em 1908 a Bunge transferiu seu escritório administrativo para a cidade de São Paulo, ocupando o primeiro endereço na Rua da Quitanda nº 6. Os escritórios da Bunge sempre estiveram localizados no centro, devido à facilidade de locação e serviços telefônicos, que só existiam na zona central. A Bunge teve escritórios na Rua São Bento, na Rua Álvares Penteado e na Rua Boa Vista.

Com a transferência de Santos para o centro paulistano, a Bunge passou por uma grande diversificação das suas atividades, demonstrando, desde então, o seu espírito empreendedor. Instalou fábricas de tecidos de algodão, parafusos e pentes, adquiriu fazendas e assim também chegaria as salas de exibição, com o Cine São Bento.

Após sua venda em 1928, o Cine São Bento fechou temporariamente em 1930, devido a crise do mercado exibidor, reabrindo reformado logo depois. Desde então, exibia filmes do distribuidor Isaac Bernstein. No final de sua trajetória, passou a pertencer ao circuito de cinemas Serrador. Suas atividades foram encerradas em 1950.

Crédito: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

O IMÓVEL DO SÃO BENTO ATUALMENTE

Quem transita hoje em dia pelo movimentado calçadão da rua São Bento e observa as lojas instaladas no imóvel da foto acima, sequer imagina que ali abrigou um importante cinema paulistano. De fato, é difícil mesmo crer que o imóvel que abriga três estabelecimentos comerciais foi no passado sala de exibição paulistana.

clique na foto para ampliar
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Do passado, resta apenas a parte superior da elegante fachada do cinema, que é tombada. Por muitos anos, antes da Lei Cidade Limpa, esta fachada ficou escondida. Agora que é visível, poderia ao menos ser padronizada e mais arrumada, sem fios expostos ou com uma parte pintada na cor preta. Não longe dali, na rua Direita, o antigo Cine Alhambra ostenta uma bela fachada preservada, onde funciona um grande magazine.

Apesar da Lei Cidade Limpa hoje estar um tanto mais flexível do que na época que foi colocada em prática, durante a gestão do então Prefeito Gilberto Kassab, esta lei ajudou a revelar inúmeras belas fachadas antigas paulistanas, como esta do Cine São Bento, e que antes ficavam escondidas atrás de grandes estruturas que mostravam o nome dos estabelecimentos. Que esta lei perdure!

Agradecemos a Fundação Bunge pela cessão das fotos antigas do Cine São Bento que ilustram a primeira parte deste artigo. Conheça a Fundação Bunge através do site: www.fundacaobunge.org.br

Veja abaixo mais duas fotografias atuais da fachada (clique na foto para ampliar):

Crédito: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga
Crédito: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga
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17 respostas

  1. Me lembro ter ido com meus pais, em 1953 assistir o filme “Apassionata”, com a artista Tonia Carrero.
    O cinema era muito bonito, a cidade era bonita. A zona central da cidade de São Paulo, parecia algumas das cidades da Europa.
    Agora a cidade está detonada! Suja, mal frequentada. Moradores de rua e viciados, surgem do nada cercando pessoas para pedir dinheiro.
    Hoje são poucos os cinemas no centro de São Paulo. Os que restaram exibem filmes pornô.
    Nas décadas de 40 até finais de1960, quando algum filme novo era anunciado, filas enormes eram formadas diante dessas salas de espetáculos.

    1. Pois é, Ernani, antigamente, e nem faz tanto tempo assim, no período pré-shopping centers, os cinemas de rua concentravam-se todos no centro, já que os de bairro haviam fechado há muito tempo. Hoje, apenas o Marabá resiste heroicamente como símbolo dos velhos tempos. Nem considero o Belas Artes, que assim que terminar o contrato de patrocínio com a Caixa, deverá fechar novamente, tal como na época do HSBC.

  2. Esses calçadões como da foto acima. e que foram feitas na época do ex prefeito Olavo Setubal, deveriam ser retirados. Servem muito para deixar a gente levar tombos de tão lisos que ficam em época de chuva. Outros transtornos são as poças de água que se formam.
    Vejam como era mais bonita a rua São Bento na foto de antigamente. A rua era asfaltada, e havia calçadas de ambos os lados.

  3. Douglas bom dia, como se chamava o cinema no térreo do Martinelli? Ou ao lado dele. Lembro que minha mãe comentava, anos 1930, sobre esse cinema? Vc tem a história dele? Segundo ela era o cinema chique. Foi lá a estréia de E o vento levou. obrigado.

  4. Já passei várias vezes por ali e nem imaginava que ali houvesse um cinema! Só mesmo o São Paulo Antiga p/resgatar a memória de nossa cidade

  5. Nossa estou a procura de lugares antigos pra fotografar e fazer um vlog mas vejo que as pessoas não se importam nenhum pouco com o que foi esse lugar. Ver essas lojas no lugar de um cinema que foi tão importante e deveria continuar sendo é muito triste. A história de são paulo sendo jogada fora.

  6. E o mais irônico é que justamente os letreiros grandes que existiam antes da lei cidade limpa é que protegeram o que restou da fachada desse antigo cinema de virar pó.

  7. Que dó 🙁 um absurdo ver isso… Já passei aí diversas vezes e jamais imaginava que aí já existiu um cinema.
    Uma grande pena…

  8. Quem passar na rua de trás, a Líbero badaró, verá os fundos deste prédio, onde era o cinema, porque o terreno está vago, certamente farão ali um novo edifício. E quanto aos outros comentários, mesmo os cinemas que exibiam pornô no centro foram fechados…. NO centro restam os cines Marabá, e Olido, este quase desapercebido. Se reabrissem os cines Ipiranga, Paissandu, Marrocos, Metrópole, copan….Comodoro…como seria bom. Mas…vai ser difícil acontecer.

    1. Odilon, você mencionou diversos cinemas antigos, dentre eles o Comodoro, onde lembro ter assistido, na época do lançamento “Indiana Jones”, o primeiro….e próximo ao Comodoro ficavam o Cine Espacial, que tinha três telas de exibição, uma frontal e duas laterais e o Mappin São João

    2. Infelizmente o Comodoro sofreu um incendio que o destruiu completamente no ano 2000., restando apenas a fachada intacta. Existe um documentario maravilhoso falando dos antigo cinemas da “Cinelandia” paulista, onde fala-se dos cinemas do centro. assistam ” Quando as luzes das marquises se apagam “.

  9. Infelizmente as grandes salas de cinema de São Paulo já não existe mais. O progresso acabou com elas.

  10. Parabéns, Douglas.
    Aos 83 anos,, deploro São Paulo ter destruído postais, paisagens e raízes de sua história, como o Parque do Anhangabahú, com suas aléias ajardinadas e seus quatro edifícios irmão no estilo. Ou a fieira de casas coloniais da rua Tabatinguera. Ou o mirante do Trianon, lembrando a professora Poças Leitão.
    Estou contigo, para identificar fotos antigas.
    Abraçaço

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