Sabores de São Paulo: Di Cunto

Quando estreamos a coluna de culinária no São Paulo Antiga em janeiro, não esperávamos que a repercussão seria tão acima de nossas expectativas. Isso mostra o quanto o paulista e o paulistano tem avidez em saber mais sobre sua cozinha regional, que é uma das mais ricas e saborosas do Brasil.

Eis que desde então venho recebendo pedidos e sugestões para falar de estabelecimentos comerciais de São Paulo que lidem com comida. São rotisseries, padarias, restaurantes, bares e lanchonetes antigas que atraem o público com seus aromas e sabores.

Pois hoje estamos a começar a coluna “Sabores de São Paulo” que quinzenalmente mostrará estabelecimentos para vocês. Para participar, o estabelecimento tem que existir há no mínimo 30 anos e ser genuinamente paulista. Envie sua sugestão!

E para começar, uma casa que é a cara do bairro onde se encontra: a Di Cunto

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Se os bairros paulistanos fossem lembrados por algum estabelecimento comercial específico, poderia dizer que um dos que mais surgem na minha memória quando penso na Mooca é a Di Cunto.

Hoje em dia na culinária “gourmetizada” que infelicita o paulistano com preços altos por aquilo que antes era igual mas apresentado de uma forma mais simples, são vários os locais que se apresentam como “o point do momento”, como a recém chegada à cidade Eataly.

Entretanto, o que você procura numa loja internacional pode também ser encontrados em estabelecimentos comerciais tradicionais de nossa cidade, com qualidade igual ou até superior a estes espaços encarecidos.

Di Cunto - Divulgação

As origens da Di Cunto remontam ao século 19, com a chegada ao porto de Santos do patriarca da família, Donato Di Cunto. Ele tinha se preparado para ir para a Montevidéu, mas acabou confundindo-se e desembarcando no litoral paulista.

Mesmo estando completamente sozinho em terras brasileiras, analfabeto e sem falar português, Donato Di Cunto teve disposição e perseverança para prosperar em São Paulo.

Quase 20 anos depois de ter chegado por aqui, abre uma pequena padaria na rua Visconde de Parnaíba, em 1896. Algum tempo depois, com o negócio prosperando, Donato Di Cunto adquire o terreno onde o estabelecimento está até hoje em dia, na rua Borges de Figueiredo.

Ele constrói um grande sobrado (foto anterior), onde a família vive no andar superior e a padaria funciona no térreo. Era o primeiro passo de um estabelecimento comercial cujo renome perdura até os tempos atuais.

Com o passar dos anos Donato Di Cunto regressa à Itália e não volta mais, deixando seus filhos nascidos no Brasil vivendo por aqui. A padaria, fechada depois que o patriarca partiu mais uma vez a sua pátria mãe, está esquecida e deteriorada.

E é em 1935 que a Di Cunto nasce oficialmente. Os filhos de Donato, Vicente, Lorenzo, Roberto e Alfredo decidem recuperar o sobrado e reabrir a padaria.

Divulgação / Di Cunto
furgão Chevrolet para entrega de pães (década de 30)

Apesar dos percalços iniciais, corriqueiros quando se parte para um novo empreendimento, os irmãos Di Cunto vão aos poucos dominando a profissão e o estabelecimento vai crescendo dia após dias.

A primeira expansão surge em 1938, quando executam ampla reforma no imóvel. Em 1941, novas expansões dão o tom com a chegada de um segundo forno e um grande laboratório. A Di Cunto sobrevive aos anos difíceis da Segunda Guerra Mundial, período em que o trigo e combustível ficaram escassos, e nos anos pós guerra volta a crescer.

Frota de furgões Fordson da Di Cunto
frota de furgões da Di Cunto, em destaque um Fordson

A primeira loja da Di Cunto surge em 1957, na concorrida rua Augusta.A loja permanece por ali até 1961, quando é transferida para a rua Borges de Figueiredo, após nova reformulação da sede da Di Cunto. Uma vez instalada junto à fábrica a loja matriz nunca mais saiu de lá.

A DI CUNTO HOJE:

Vitrine de doces (clique para ampliar)
vitrine de doces (clique para ampliar)

Costumo dizer que não consigo ir na Mooca sem dar um pulo na Di Cunto, nem que seja para apenas tomar um café. Mas é raro – muito raro – eu ficar apenas nesta bebida.

As vitrines de salgados são uma grande tentação, com quitutes variados que não vão te deixar sair sem experimentar algum. Minha favorita é a empada de camarão. Já nos doces, são tantas as opções que fica difícil eleger um favorito. Costumo ir de bomba (éclair para os puristas) de creme de avelã ou torta mil folhas.

clique na foto para ampliar
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No setor de padaria, uma grande variedade de pãezinhos e baguetes para atender a todos os gostos. O pão está sempre fresco e é produzido durante todo o dia.

Na área de rotisserie, temos de tudo um pouco. Desde massas frescas variadas a antepastos, molho de tomate caseiro, carnes assadas, frango com bacon e muitas outras delícias. Sempre gosto de levar um pouco de abobrinha e beringela, que são uma tentação.

Ah, essas beringelas (clique na foto para ampliar)
Viva a gula! (clique na foto para ampliar)

Enfim seja para um breve café, comprar o pão do dia a dia ou para preparar aquele baita almoço de domingo, a Di Cunto é uma das melhores opções não só da Mooca, mas da cidade. Um patrimônio gastrônomico paulistano onde a gula é bem vinda a toda hora do dia. Se você ainda não conhece, está perdendo tempo.

Veja mais fotos da Di Cunto (clique para ampliar):

Serviço:

Di Cunto
Rua Borges de Figueiredo, 61 a 103 – Mooca
Telefone: (11) 2081-7100 Email: contato@dicunto.com.br
Funcionamento de segunda a sexta (consulte o site para horários)

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27 respostas

  1. Embora eu more no Rio desde sempre, fiz minha Pós em SP, no Senai da Mooca, indo toda sexta à noite (dormindo no ônibus) e voltando no fim do sábado. Durante dois anos. Pauleira mesmo.
    A Di Cunto me lembra sempre os fins de módulo do curso. A turma sempre ia lá. Curioso é que o colega de turma que nos sugeriu a loja recomendou bastante. E havia muitos colegas de São Paulo (capital) que não a conheciam.
    Puxa, não sabia que era referência.

  2. Eu gosto muito da Di Cunto, e sempre que podemos a gente pega pra viagem. As massas, em especial a lasanha, são únicas. O melhor é que nem precisa de carro, a estação Moóca da CPTM é ali pertinho. E nesse feriado que passou, tive a oportunidade de conhecer o restaurante Di Cunto que abriu no Moóca Plaza, não muito longe dali, e que manteve a qualidade.

  3. Oi, Douglas. Vi pelo Facebook sua postagem. Tenho 82 anos de idade (!), atualmente moro em Santos. Vc pediu sugestão para reportagem. Conhece o Restaurante “O Gato que ri”, no Largo do Arouche, em S.Paulo? Eu conheço desde quando era a própria dona Amélia que fazia as massas e a comida toda. Era uma portinha insignificante, parecia mais um botéco. Meio escuro, mesas e cadeiras rústicas de madeira, aquelas que parecem de botequim, mesmo. Mas as massas eram ótimas. Eu trabalhava no centro da cidade e ia muito comer lá. Agora está muito lindo e o couvert e as massas continuam estupendos. Como vc deve saber, infelizmente teve o triste episódio de dona Amélia ser assassinada. Pesquise, vc vai curtir. Abraço.

  4. Gostei muito do artigo, Douglas. Aliás, tudo o que se refere a comida… rsrs

    Antes de eu entrar para o Seminário, trabalhava numa editora em São Paulo e o panettone no final do ano que a empresa nos dava era da Di Cunto. Foi quando conheci a marca e desde então passei a admirá-la.

    Hoje fiquei satisfeito por conhecer suas origens históricas. E estou curioso pelo que ainda virá!

  5. Uma amiga sempre fala dos doces da Di Cunto. Até hoje não conheço, mas acho que agora vou conhecer.

  6. Essa é daquelas histórias que parecem de novela neh!
    Há alguns anos, havia um programa matutino-dominical chamado “São Paulo de Todos Os Tempos”, que era apresentado pelo jornalista Geraldo Nunes, pela rádio Estadão (desculpe a propaganda).
    Eu ouvi essa história, e muitas outras…
    Eu amava aquele programa. Se vc o conhece, se tem algum contato com ele, garanto que ele tem muitas coisas deliciosas pra te contar!

  7. Eu ouvia falar, ou lia à respeito, de que na padaria Di Cunto, no bairro da Mooca, produziam-se os legítimos panetones, e isso o ano todo, não só no Natal.Quando passei a frequentar mais o bairro, para ir aos jogos do Juventus(“ódio eterno ao futebol moderno”), lembrei-me da Di Cunto.E foi assim que comecei a levar para casa o autêntico panetone, que é muito gostoso mesmo.Nada melhor para a alma do que nossas tradições,Isso é muito bom e frequentar a Mooca (e a Di Cunto) me faz um bem danado!

  8. Na Mooca ou no Tatuapé, estou sempre lá comendo uma coxinha e uma éclair de baunilha. O Di Cunto é responsável por alguns quilinhos que tenho a mais.

  9. É por isso que é tão difícil emagrecer morando em São Paulo… parabéns pelo resgate da história da Di Cunto!

  10. Acho que uma ótimo sugestão seria a Mercearia Godinho, localizada na Rua Líbero Badaró…Lugar muito antigo aqui de SP.

  11. Muito bacana. Também gostaria de deixar minha sugestão; Padaria Lisboa na praçs Silvio Romero, o melhor pão da zona leste ( a mais de 50 anos )

  12. Trabalhei na Mooca entre os anos de 2002 e 2005 e como vinha de trem do ABC, passava todos os dias em frente a Di Cunto e achei muito legal a reportagem !!! Agora me ficou uma curiosidade, hoje, a Di Cunto pertence a qual geração da família ????

    1. Olá Diana, como vai ? Foi sim uma das primeiras, mas não a primeira. Hoje está entre as 3 mais antigas.
      A mais antiga é Santa Tereza inaugurada ainda no século 19, e que fica na Praça João Mendes.

  13. Olá!!!!! Excelente artigo!!!! Já que vc falou de Moóca, não pode faltar nessa sua série o restaurante CEREJA, da Mooca, do seu Osvaldinho Cereja! Come-se muito bem lá por um valor muito justo!!!! Destaque para o bife à parmeggiana que é FAN-TÁS-TI-CO, o melhor que já comi! Saudações!

  14. No dia 31 dezembro de 2019, Fui conhecer o DI CUNTO, graças a este artigo, levei comigo amigos para saborear os saborosos doces. O ambientante é muito bom, ficamos lá filosofando. Eles me agradeceram muito e que voltariam com outros amigos.

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