Edifício Dumont-Adams

Localizado na Avenida Paulista, um dos mais importantes e famosos endereços da capital, o Edifício Dumont-Adams é um patrimônio paulistano que há anos esteve desocupado e agora encontra-se em um longo e tortuoso caminho de reforma cuja conclusão está prevista para este ano de 2024. Vamos conhecer um pouco de sua história ?

O Dumont-Adams em 2006, antes de ser desfigurado

Projetado e construído no início da década de 1950 pelo engenheiro Plínio de Oliveira Adams, foi inaugurado em 1958 e consistia originalmente em uma edificação com 10 andares e era de uso estritamente residencial.

O nome do edifício, Dumont-Adams, celebra a união de duas famílias da elite paulistana: Os Adams, representado por Plínio, e a de sua esposa Adélia Santos Dumont, a mesma do aviador brasileiro Alberto Santos Dumont.

Vista área do MASP com o Dumont-Adams à esquerda (década de 1970)

O prédio nunca teve seus apartamentos colocados à venda, sendo sempre disponibilizados para locação, servindo como fonte de renda para a família Dumont-Adams. Dessa maneira o prédio permaneceu até meados dos anos 1990, quando começou lentamente a ser desocupado, não entrando novos moradores à medida que os antigos deixavam o local.

Nos primeiros anos do século 21 a família decidiu desfazer-se da propriedade, vendendo o edifício para empresa de telefonia Vivo. A partir da aquisição a empresa fechou um acordo com o Museu de Arte de São Paulo (MASP), para ceder o uso do prédio para o que quisesse desde que a empresa pudesse explorar a publicidade externa. Surgia o projeto da Torre MASP-Vivo.

O então presidente do MASP, Júlio Neves, propôs uma completa reformulação do edifício transformando o Dumont-Adams em uma moderna torre de vidros espelhados com 110 metros de altura. O projeto foi levado para apreciação do CONPRESP que deu parecer técnico desfavorável à obra.

Abaixo fotos do edifício quando ainda se encontrava em situação de abandono, em 2008 (clique na foto para ampliar).

Apesar disso o parecer foi desrespeitado e deram início às obras que desfigurou o edifício por completo. A novidade não foi bem recebida pelos paulistanos e também por defensores do patrimônio histórico municipal, que viam no projeto uma desrespeitosa descaracterização do projeto original da construção.

Porém o que causaria a paralisação da polêmica obra não seria a disputa em torno do patrimônio, mas a Lei Cidade Limpa que inviabilizou o envelopamento do prédio com publicidade, deixando de ser interessante para a empresa de telefonia. A partir deste momento o edifício parcialmente desfigurado passou a ficar em situação de quase abandono.

As fotografias abaixo mostram o antigo Edifício Dumont-Adams em obras para abrigar a sua nova configuração como anexo do Museu de Arte de São Paulo (MASP):

MASP EM EXPANSÃO:

Depois de todo o impasse da crise com a empresa Vivo, o MASP anunciou em 2019 o projeto MASP em Expansão, que consiste na conclusão das obras do “novo edifício”. A aspas na frase anterior se dá para o fato de que, na verdade, não trata-se de um novo prédio mas de um já existente que foi totalmente desfigurado de sua arquitetura original e ampliado. Em essência os dez primeiros andares são o velho Dumont-Adams.

O prédio aumentará os espaços expositivos e de multiuso do museu, com estrutura apropriada para as mostras, os programas educativos e os serviços de restauro de obras, possibilitando ao público maior acesso à cultura.

Nas duas imagens abaixo (clique para ampliar) uma perspectiva em computação gráfica onde é possível conferir como ficará o prédio e o MASP após a conclusão das obras, bem como a ligação subterrânea.

Com previsão de entrega para 2024, o “prédio Pietro” irá contemplar 14 andares. Estes serão ocupados por cinco galerias expositivas e duas galerias multiuso. O edifício também abrigará restaurante, bilheteria, loja, salas de aula e laboratório de restauro. Ao final da reforma, a área total do MASP será de 17.680 m² (hoje, são 10.485 m²). Além de aumentar o espaço físico, a nova construção vai ampliar aquilo que o MASP é e já representa nacional e internacionalmente.

OPINIÃO: APAGAMENTO DA MEMÓRIA:

De toda a novela que se transformou o caso do velho edifício com o Museu de Arte de São Paulo, o que me causa realmente desconforto e ojeriza não é o caso com a Vivo ou mesmo a demora para a conclusão das obras, algo que já parece corriqueiro no Brasil quando se trata de investimento em cultura.

O mais absurdo é a mudança do nome do edifício de Dumont-Adams para outro, ao menos provisoriamente sendo chamado de “Prédio Pietro”, nome que já na pronúncia soa estranho. Claro, sabemos que trata-se de uma homenagem a Pietro Maria Bardi, que junto com Assis Chateubriand foi responsável por fazer o MASP ser uma realidade.

Renomear nome de edifício é tão desrespeitoso quanto mudar nome de ruas (clique na foto para ampliar)

Contudo causa estranheza esse apagamento da memória da avenida Paulista que está sendo proporcionado diante de nossos olhos ao remover o nome original do edifício. O fato fica ainda mais incômodo e deselegante quando lembramos que tal ato está sendo praticado por um museu, justamente de onde mais esperamos a defesa e a preservação da memória.

A desculpa de que é um novo prédio é rasa. É sabido que o ocorrido ali foi uma reforma e uma expansão de um prédio que já existia. Por mais que seja transformado continuará sendo na essência o Dumont-Adams.

Fica a pergunta: Será que preservaram os dizeres com o nome do edifício que ficava sobre o pórtico de entrada? Haverá uma área no museu explicando sobre o “antigo” Dumont-Adams? Essas perguntas só teremos resposta quando o novo espaço ser inaugurado. E temo que já sabemos a provável resposta.

Nota:

*1 – Plínio de Oliveira Adams, responsável pelo projeto arquitetônico do edifício Dumont-Adams, formou-se em engenharia pela Escola Politécnica de São Paulo e teve boa parte de sua carreira desempenhada no setor agrícola, sendo inclusive membro diretivo da Sociedade Rural Brasileira. No setor financeiro foi presidente por anos do Banco de S.Paulo S/A (não confundir com BANESPA). Faleceu em 17 de fevereiro de 1966 e está sepultado no Cemitério da Consolação.

CURIOSIDADE:

Abaixo está publicada a relação de todos os números de telefone existentes nos apartamentos do Edifício Dumont-Adams no ano de 1961. Dos 10 andares do prédio à época 9 deles já possuíam linha telefônica. É possível observar que Plínio de Oliveira Adams residia no décimo andar e seu número está no final da lista.

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11 respostas

  1. Todos os dias passo em frente ao edifício e imagino como ele devia ser glamouroso tempos atrás.
    Acho absurdo o projeto da torre imposta pelo MASP.
    Deviam aproveitar melhor esse empreendimento, algumas construtoras poderiam se unir e bancar a reforma dele. Tenho certeza que teriam o retorno financeiro.

  2. Passei pelo local recentemente e fiquei bastante surpreso em notar que, depois de todos esses anos, finalmente está a ser restaurado. Resta-nos saber por quem e para quê.

  3. Sempre tive a maior curiosidade de saber a história desse edifício. Quando eu era pré-adolecente tinha uma conhecida minha que morava no prédio e eu cheguei a visitá-lo uma vez. Lembro que ele me pareceu imenso naquela época. Infelizmente não consigo acessar as fotos do link. Alguém teria algum site com fotos internas dos aptos? E a história do abandono do prédio? Alguém sabe alguma coisa sobre o assunto? Foi realmente projeto do Le Corbusier? Caraca… Que bom que tem gente tão curiosa como eu. Kkkkk. Também sou corretora e muito me instiga saber um pouco mais sobre prédios que eu conheço desde criança e que já me chamavam a atenção naquela época!

  4. Acho que todos sempre tivemos curiosidade e imaginamos uma série de histórias sobre este edifício na Paulista.
    São estas memórias que formam a nossa identidade com a cidade.
    Apenas uma cidade que preserva seu patrimonio consegue desenvolver senso de cidadania em seu povo e aprimorar sua cultura.
    Renovar os usos, acrescentar aos projetos faz parte da dinamica da cidade. Mas a cidade precisa manter sua identidade, sua história. Sr. Arq. Julio Neves, o sr. bem que esta au pair destas informações, como arquteto e por bom relacionamento poderia mostrar este caminho aos investidores.
    Nós arquitetos temos como responsabilidade profissional mostrar as pessoas os caminho.
    obrigada

  5. Quando eu era criança, ainda nos anos 70, mais precisamente de 1974 a 1978, eu e minha família moramos lá, pois meu falecido pai foi zelador deste lindo edifício. Lembro-me muito bem dos belíssimos apartamentos desse prédio que era habitado por famílias de cônsules de vários países, condes e maestros, entre outros. Lembro-me bem também da proprietária do prédio, uma senhorinha já idosa que se não me engano era sobrinha de Santos Dumont. Tenho ótimas lembranças de lá e sempre fico muito chateado com o abandono a que esse prédio foi submetido já há vários anos! Há alguns anos, fiquei muito feliz ao saber que o prédio estava sendo reformado para se tornar um anexo do MASP, mas infelizmente, os anos se passaram e hoje, julho de 2015, vejo que pelo visto a reforma está parada e esse lindo edifício voltou a ficar no abandono.

  6. Parece ser o clássico exemplo da especulação imobiliária. Não foi antes no mesmo local a casa que ficou conhecida como Observatório da Paulista?

  7. Maravilhoso Edifício, gosto muito das reportagens e informações que você nos passa sobre os prédios da cidade e todos os demais assuntos.

  8. Boa tarde a todos, e um especial agradecimento ao Douglas Nascimento, que vem brilhantemente resgatando a história Paulistana.
    Simplesmente, é lamentável que nossas autoridades não se importam com o PATRIMÔNIO BRASILEIRO, é um descaso total, com a história de uma cidade e de um país tão belo como o nosso..
    Povo sem passado é povo sem história.
    Abraços

  9. Parabens pelo artigo! Muito bem escrito e fiel à historia, pois sou da familia e vivi la ate meus 12 anis de idade( 1968)! Meu nome é Cecilia Helena Adams Ribeiro Pinto Moreira.

  10. Me parece que, ao menos, aquele puxadinho HORROROSO no último andar foi demolido. Curioso, ninguém em sã consciência faria isso em qualquer prédio de Manhattan, Paris… Mas aqui, vale tudo. Não temos direito à memória e à estética.

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