Edifício Opus

Na história da Cidade de São Paulo nos séculos 20 e 21, não foram apenas casas e casarões que foram demolidos. Alguns grandes edifícios também desapareceram, para dar lugar a outros empreendimentos ou mesmo novas ruas e avenidas. Foi assim com o belo Edifício Columbus, de Rino Levi, e mais recentemente com o São Vito.

Entretanto, outro prédio antigo foi demolido recentemente mas é pouco conhecido da população. Trata-se do Edifício Opus.

Localizado na altura do número 950 da Avenida Duque de Caxias, na Luz, o Edifício Opus foi concluído no final de 1948 e suas unidades residenciais foram disponibilizadas para locação logo no ano seguinte.

Com um total de 11 andares o edifício estava, naquele tempo, em uma localização bastante privilegiada, pelo fato de estar a poucos passos da estação ferroviária Júlio Prestes, além de bastante próximo da Estação da Luz. Alguns anos depois, ficaria ainda melhor com a chegada de um novo vizinho: o terminal rodoviário.

Anúncio veiculado em 04/12/1949

Entretanto com o passar dos anos o local foi se desvalorizando lentamente, até a desativação da rodoviária que serviu para acelerar a degradação da região e também a queda do valor dos imóveis.

No início, o Edifício Opus tinha suas unidades destinadas apenas a locação e pertencia a um único proprietário. Não encontramos nada que indique que posteriormente as unidades (4 por andar) tenham sido colocadas à venda. No térreo do edifício havia uma série de estabelecimentos comerciais, como lanchonete, lojas e até uma farmácia.

O fim do prédio foi decretado com a ideia megalomaníaca elaborada em conjunto entre a Prefeitura e o Governo do Estado de São Paulo, para derrubar não só a antiga rodoviária, mas também os imóveis vizinhos para erguer a “Universidade da Dança“. Optamos por aspas na suposta nova instituição porque ela ainda não existe.

A área do edifício e seus vizinhos após a demolição

A demolição do Opus e de alguns de seus vizinhos (veja no final do texto) eram totalmente desnecessárias. Tanto este prédio como os demais estavam todos em perfeitas condições de uso e possuiam habitações amplas, limpas e dignas. A demolição e a desapropriação da região foi mais uma das inúmeras ações higienistas da gestão do Prefeito Gilberto Kassab (PSD) e do então Governador José Serra (PSDB).

Famílias retiradas do Opus não foram realocadas em prédios na mesma região, foram levadas para bairros nos extremos da cidade, tornando a já difícil vida destas pessoas ainda mais complicada, com mais horas perdidas para se locomover para o centro e com o aumento exponencial no custo de vida, com gastos adicionais em transporte coletivo.

A demolição deste prédio, iniciada em 2010, só se encerraria por completo no final de 2011, sendo que por vários meses o prédio ficou com a demolição paralisada entre o térreo e o primeiro andar. O motivo ? Uma indenização muito abaixo do mercado para a antiga Drogaria Duque de Caxias.

A drogaria funcionou até o prédio demolir sua área

A triste história desta drogaria, que abordamos aqui em 2011, é um claro exemplo da crueldade imposta aos menos favorecidos quando o assunto é demolição ou construção civil. Com uma indenização muito abaixo do real valor o proprietário foi forçado a brigar na justiça por um valor digno, e enquanto a decisão não era anunciada, a farmácia não poderia ser fechada e nem a demolição concluída. Apenas no final de junho saiu um acordo entre o dono da drogaria e o poder público e o prédio finalmente virou pó.

O Edifício Opus não tinha nenhum detalhe arquitetônico muito relevante, era um prédio bem comum diga-se de passagem. Mas foi um grande exemplo de como políticas públicas equivocadas e mal planejadas tratam os menos favorecidos: muito mal.

O mais curioso é o que um dos maiores entusiastas desta política de demolição higienista para uma “Nova Luz”, Andrea Matarazzo, foi um dos vereadores mais bem votados este ano. Difícil prever dias melhores para São Paulo.

Veja mais fotos do Edifício Opus (clique na miniatura para ampliar):

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13 respostas

  1. Sinceramente, quase choro ao ver casarões antigos demolidos, edifícios abandonados e pessoas sendo retiradas de suas casas, mas vamos combinar que a Luz está um lixo e as obras de revitalização são sim muito bem-vindas. É claro que sempre um belo edifício histórico habitado ou não acaba indo abaixo, mas se realmente aquele lugar melhorar apesar dos pesares, sou totalmente a favor da demolição de quantos prédios degradados for necessário. Principalmente aqueles bizarros com paredes cegas.

    1. Se tivesse havido investimento ao longo dos anos, não teria chegado ao estado de abandono que acaba “justificando” a demiolição em nome da revitalização.
      Vide a “medonha” Santa Cecília sob o mergulhão. Como todo o respeito a vocês, paulistanos, mas aqui ali podia ser muito melhor. Dá medo até passar de carro ali, que dirá a pé (estive no pedaço em 15.10)…

    2. Lucas, não seja ingênuo: a intenção das elites locais não é a de “embelezar” a cidade, mas de expulsar dali a população indesejada.

      Da forma como foi concebido, o projeto Nova Luz nada mais é que um processo forçado de gentrificação. Além de arrasar o patrimônio banal (referências materiais do cotidiano, marcas urbanas da memória de uma população pobre e excluída), o projeto tende a transformar o local em espaço exclusivo de circulação cultural das elites.

      Felizmente os demo-tucanos em São Paulo são incompetentes até mesmo para produzirem suas porcalhadas na cidade: o projeto está emperrado por pura incompetência deles. Infelizmente, porém, já conseguiram transformar o local em terra arrasada.

      1. Olà Gabriel, obrigado pelo link. O documentario è muito bem feito. E’ gentrificaçao sim. Eu sou italiano e faz vente anos que moro alguns meses ao ano em Sampa. Sou arquiteto e urbanista tambem e sempre gostei muito de passear no centro da cidade e sempre achei alguns bairros muitos fartos de vida e cheio de historias; a Luz e Santa Ifigenia è um desses. Adoro mergulhar onde a vida è verdadeira e tem coisas pra contar.
        Mas em Sampa o mercado imobiliar manda e manda desde sempre. Agora a Luz è a sua otima ocasiao de envestimento ganancioso e tudo isso com apoio politico e de capital publico. E o jogo imobiliario especulativo funciona bem assim; a Luz è um tipico exemplo.
        E’ preciso mudar esse rumo de sempre.
        Um abraço
        Gualberto

          1. Olà Douglas, sempre recebo os e-mail do seu site desde que fiz a inscriçao. Como vocè jà sabe, gosto muito do trabalho que vocè està fazendo e alguma vez deixo um comentario. Eu tinha a certeza que esta comunidade aqui reunida por vocè iria aumentar. Como escrevì no meu artigo de quase tres anos atraz, na revista italiana de arquitetura e urbanismo com a qual colaboro, acho que o sucesso do seu trabalho demonstre nao sò a vontade de preservar a historia da cidade, com o seu cargo de memorias, mas tambem a maturidade do paulistano de pensar numa cidade diferente, onde o planejamento possa seguir regras participativas.
            Deveria voltar por aì no periodo natalino e como sempre ficar um certo tempo. Este ano foi um ano particularmente complicado e dificil por aquì. E’ o quinto ano de crise nos paises da Uniao Monetaria Europeia (ad exceçao da Alemanha, mas que tambem nao cresce) e o pior ainda nao chegou nas minhas bandas, mas vai chegar. Tive que vender a minha firma de pinturas e vernizes naturais e estou vendo o que fazer …
            Mas logo que chegar vou te avisar sim!
            Um abraço e lembranças à sua esposa
            Gualberto

  2. Porque os governos não demolem (é assim que escreve? rsrss) as casas que os ricos politicos, artistas e empresários construiram em áreas de preservação ambiental? Não são poucas contruções em praias e montanhas que nunca deveriam estar lá!!Qual é a lógica disso tudo?

  3. Meu Deus do Céu!!!!!! Eu fico chocado cada vez que vejo essas coisas, como pode os políticos deixarem a nossa querida São Paulo ficar desse jeito, que degradação, que judiação, passam por cima da História, por cima do Povo, dos moradores, da memória, de Tudo!!!! Que falta de cultura achar que só o novo é bonito, que bobagem….Esses mesmos políticos que mandam destruir, são os mesmos que vão para Paris, Londres, Roma, admirar os velhos Edifícios, Monumentos, etc…. Eu não entendo a visão destes políticos, em vez de conservar, não, eles só pensam em destruir, destruir, observem através do google earth, o antes e o depois da demolição deste prédio, a rodoviária antiga e adjacências dessa Região. Que pecado!!!!

  4. Só posso dar meus parabéns à sua iniciativa e pelas palavras corretas, ao Douglas Nascimento e a todos que comentaram e comentarão…de fato é lamentável termos que suportar “políticos” que sobem às custas das desgraças dos menos favorecidos…e de minha parte, sei bem o que é trabalhar na região da Paulista e ter que me deslocar todos os dias “úteis” ou não, lá da zona leste – sempre com transporte público péssimo, para dizer o mínimo – para vir trabalhar, ter lazer, etc Também eu, não vislumbro nada de bom para nossas “megalópoles” brasileiras…

  5. Durante os anos de 1978 e 1979 eu era um frequentador assíduo deste terminal porque eu namorava a minha esposa, que morava em Limeira, e nós revezávamos: um fim de semana eu ia para Limeira e no outro ela vinha para São Paulo aí, no domingo à noite, eu a levava até o terminal rodoviário para ela voltar para Limeira. Estacionar por ali era um transtorno imenso, além da falta de segurança, já naquela época, encontrar uma vaga próxima ao terminal era quase impossível. E na volta, como estava sozinho, o outro transtorno era o assédio das prostitutas que tomaram conta da região, como mencionado no artigo, e que chegavam a barrar a sua passagem pela rua. Dá saudades pela nostalgia do lugar mas não era muito agradável não.

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