Tranquillo Giannini S/A (Violões Giannini)

A música é o alimento da alma, e para produzir este alimento precisamos de vozes e de instrumentos. E, no Brasil, é impossível pensar em instrumentos musicais sem lembrar de um nome italiano que se faz onipresente no meio musical: Giannini.

clique na foto para ampliar

Em novembro de 1900, no número 64 da então pacata Rua de São João (atual Avenida São João) um imigrante iria começar um pequena empresa que logo iria se tornar sinônimo de violão no país: A “Grande Fábrica de Instrumentos de Cordas de Tranquillo Giannini”. Ali, os instrumentos musicais eram produzidos à mão pelo seu fundador, Tranquillo Giannini, e seus funcionários.

Acima: Alguns dos produtos da Giannini nos anos 1950

Na década seguinte, a Giannini começaria a construção de sua primeira fábrica, com equipamentos mais modernos e com um sistema parcialmente mecanizado. A empresa continuaria a crescer cada vez mais até que no ano de 1920 a fábrica ficou pequena, tornando-se necessário novas e maiores instalações não muito distantes dali, no número 126 da Rua General Osório.

Mesmo em uma área maior que a primeira, logo o espaço ficaria reduzido novamente e a empresa iria se mudar para um pouco mais longe, na zona oeste da cidade, em uma área de 1500 metros quadrados no número 414 da Alameda Olga, no bairro da Barra Funda em 1930.

Em 1954, a Giannini tomaria uma lugar de grande importância no cenário paulistano ao participar da inesquecível exposição do IV Centenário da Cidade de São Paulo, realizada no então recém inaugurado Parque do Ibirapuera.

Capa do catálogo Giannini para o ano de 1954.

Já era impossível falar de instrumentos de corda no Brasil sem mencionar pelo menos uma vez o nome da Giannini, que mais que sinônimo de violão tornara-se parte integrante e inseparável da vida musical brasileira. Seguindo a evolução, nos anos 1960 a empresa começaria a produzir guitarras elétricas.

Em 1970 a empresa mudaria mais uma vez, agora para seu último endereço na Cidade de São Paulo no ao número 184 da Rua Carlos Weber, na Vila Leopoldina, em uma grande área construída. A partir deste ano, a empresa lançaria uma linha completa de produtos como baixos, guitarras, amplificadores, mixadores de áudio etc, atingindo então o seu auge na capital paulista.

Em 1990 a empresa é mais uma indústria, entre tantas outras a deixar a cidade de São Paulo rumo ao interior. A presença física da indústria fundada no início do século XX por Tranquillo Giannini entra pra história e a empresa muda para novas instalações em Salto onde permanece até os dias de hoje.

Publicidade da Giannini dos anos 1970

Vendida à época para Encol, a antiga sede da Tranquillo Giannini S/A permanece em pé até os dias de hoje. A antiga e movimentada fábrica da Vila Leopoldina hoje é um deserto em ruínas. Vidros quebrados, pichações, calçadas desniveladas e mato ocupam o lugar onde no passado se produzia instrumentos musicais.

A falência da Encol anos atrás jogou a área de 8 mil metros quadrados em um limbo. E nestes 20 anos que a fábrica está desativada a região sofre com a desvalorização do seu entorno em virtude da fábrica abandonada. Anos atrás o local chegou a ser invadido por pessoas sem moradia, mas logo foi desocupado. Atualmente está vazio e é guardado por uma pessoa vizinha da construção.

Mesmo vazia e desativada a fábrica ainda chama a atenção pelas suas linhas retas e sóbrias, e também pela sua linda caixa d’água, toda revestida de pastilhas (veja as três últimas fotos da galeria). É uma espécie de monumento, um marco do passado desta fábrica. Na região há rumores – não confirmados – que a área teria sido arrematada pelo Banco do Brasil.

A São Paulo industrial do passado hoje é história, ficou para trás à medida que as empresas deixavam a capital rumo a cidades com incentivos fiscais mais atraentes. Os galpões em ritmo frenético e as chaminés fumegantes estão agora em silêncio, locais estes que se tornaram cemitérios da já quase extinta grande indústria paulistana.

Veja a galeria de fotos da Tranquillo Giannini S/A (clique na miniatura para ampliar):

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32 respostas

  1. Bem, pelo que entendi, é da ENCOL e como esta faliu, não foi demolido o prédio e acaba abandonado. Meu Deus, não se pode nem alugar isso para qualquer coisa (estacionamento, deposito, shopping, sei lá) para ajudar a pagar os credores? A Justiça no Brasil é tão imbecil assim?

  2. a Justiça não me parece ser assim imbecil. mas é muito, muito lenta.

    se o problema se arrastar até o ponto em que seja necessário resolver inventário entre herdeiros, aí, bicho, esquece.

  3. O prédio da Giannini segue o roteiro clássico dos patrimônios de massa falida: morosidade da Justiça nas decisões e o consequente prejuízo nas indenizações a empregados e mutuários.

    Há muitos outros imóveis nesta mesma situação em SP, mas o detalhe aqui é que, tão logo a Justiça tome uma decisão sobre a fábrica, ela será demolida para dar lugar a mais um empreendimento imobiliário com as bênçãos da PMSP, que em troca de CEPACs para engordar seu caixa, está permitindo que esta região se adense de forma ainda mais rápida e desordenada, com o óbvio prejuízo para as gerações futuras.

  4. Desculpe , mas nao existe Cepac para a Vila Leopoldina .
    Nem tao pouco Outorga Onerosa .
    Existe uma diferenca muita distinta entre essas , e a regiao da Lapa sofre com isso .
    Entao , dizer sobre uma suposta desordenacao sobre adensamento imobiliario em uma regiao dessas , sorry , esta dizendo bobagem .
    Nenhum plano diretor do Brasil eh tao sistematico e burocratico como o da cidade de Sao Paulo .
    Eh impossivel haver isto , dentro do nosso plano diretor ; tudo , absolutamento tudo , eh levado em conta ; largura de rua , face do outro lado da rua,permeabilidade,gabarito versus aproveitamento .
    Quem trabalha com isto , como eu , sabe o que estou falando .
    Quando voce diz , haver bencao da pmsp para um empreendimento imobiliario privado , isto nao existe.
    Se for uma desapropriacao , ok , mas isto que nao foi escrito , nao tem sentido .

    1. Seja CEPAC, Outorga Onerosa ou qualquer outro mecanismo, o fato é que a PMSP está incentivando a verticalização de São Paulo. Se você trabalha com estas questões, deve se lembrar que há pouco menos de um mês, a PMSP anunciou a venda de R$ 2 bi em títulos públicos para promover o adensamento do eixo entre a Lapa e a Barra Funda. Saiu no Esatdão, Folha e em todos os demais grandes veículos da mídia.

      Ou seja, se existem regras, também existem as maneiras legais de se dribá-las para satisfazer a sanha dos incorporadores. Perdizes, Campo Belo e Jardim Anália Franco estão vendo aparecer espigões enormes, num adensamento desproporcional dos bairros. É de se perguntar qual o critério técnico que permite a ocupação desses bairros desta forma, porque os resultados práticos estão na nossa cara: trânsito engarrafado, a morte do comércio do bairro, impessoalidade na vizinhança e os bairros deixando de serem lugares gostosos para se morar.

  5. E pensar que São Paulo já teve indústri a e atividade econômica.
    Ainda bemque tem dólar, juros altos e a China com desculpa
    Infelizmente sou daqui e morro de vergonha dessa DESCIDADE
    MALDITA SEJA ESTA GERAÇÃO DE PAULISTAS. VOCES DESTRIURAM 450 anos de civilização.

  6. É lamentável que tudo que cai na mão do Governo sem ser dinheiro não têm significado. Um terreno de 7.520 m2 localizado no coração da Vila Leopoldina e que vale hoje no mercado 40 milhõee está na mão do Banco do Brasil desde 27/01/1997, apenas 15 anos. Vale ressaltar que Prédios abandonados numa cidade como São Paulo são como cáries urbanas. O prédio não tem função há anos, portanto, deve merecer uma atenção prioritária do poder público. “Quanto dinheiro parado e a SEGURANÇA, SAÚDE E EDUCAÇÃO totalmente abandonada. Que País é esse….

    1. Sem contar que prédios abandonados, latu sensu, são criadouros de mosquitos da dengue, roedores, insetos e vagabundos de toda espécie.

  7. olá. na verdade tenho um violão gianinni tranquillo nr. 08 com selo que consta o endereço da Rua Olga, significa que o violão é de antes de 1970!! você tem alguma informação sobre essa série de violão??
    obrigada!

  8. meu pai tem um violão dessa fabrica Tranquillo Giannini S.A, Alameda Olga 414… queria poder encontra-la =/

  9. Ola,Douglas tenho um violao tranquilo giannini com o numero de serie 1008, gostaria de saber se é possivel alguem me ajudar a conseguir uma foto original do violao para saber se ele ja foi restaurado ou alterado alguma parte, obrigado. Sergio

      1. Olá Álvaro tenho um banjo com a mesma etiquetao que indica ser da década de 30/40 estava sem o cavalete original levei no gaúcho na praça do correio para colocar outo as cordas e afinar ele avaliou em 15.000,00 mil reais será?

  10. pô a três semanas comprei uma guitarra giannini modelo jaguar super sonic, que consta o endereço da rua carlos weber 184 s.p , também gostaria de conseguir uma foto original da mesma pra tirar as mesmas duvidas de sergio gomes! mas a minha não tem o numero de serie só tem o cgc que é: 61196 119/0001

  11. Vocês lembram daquela guitarra White Diamond, da década de 70/80? Quando tinha 13 anos, tive o prazer de tocá-la por eternos 6 anos, numa igreja , até me mudar de lá e, nunca mais ter uma alegria igual àquela, pois fiquei sabendo que entraram no templo e roubaram vários instrumentos. Até hoje, fico à procura de uma.

  12. Existe ainda hoje uma grande legião de fãs (jovens e mais velhos) das guitarras elétricas Gianinni produzidas entre o final dos anos 60 e 70. Tinham uma sonoridade única e foram usadas por boa parte dos guitarristas da Jovem Guarda. Muito interessante resgatar esta história!

  13. Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, usou por um bom tempo uma craviola da Giannini, fabricada em São Paulo. Os instrumentos antigos da Giannini tinham uma qualidade muito boa, levando-se em conta que eram produtos nacionais.

    Tenho um violão Trovador II da década de 70 e um bandolim antigo da décaca de 40~50, modelo gota. São instrumentos muito bem construídos e que até hoje tem uma sonoridade muito boa. Sem comparação com os chineses que hoje em dia invadiram nosso mercado com produtos de qualidade questionável.

    O Trovador II é um violão para cordas de nylon de som grave. Embora fosse um produto de baixo custo, tem uma acústica interessante e uma afinação muito boa. É o tipo de instrumento que você afina e passa semanas afinado.

    O bandolim, fabricado há mais de 60 anos, até hoje tem um som forte. Ainda traz a inscrição “Tranquillo Giannini”, “Indústria de Instrumentos de Córdas”, “Instrumentos de Alta Sonoridade”. Na época, a fábrica ainda era situada na Alameda Olga, 414. Enfim, um instrumento de madeira, com mais de 60 anos, em perfeito estado, com afinação precisa e som de ótima qualidade sem nunca ter sido restaurado. No mínimo, foi bem construído e utilizaram materiais de ótima qualidade.

  14. Se parou nas mãos do Banco do Brasil, virou patrimônio público, não é?

    Deveriam fazer o predio, revitalizando-o para virar escola, fatec ou algo de utilidade pública…

  15. Giannini tem uma história bonita e admiro os pioneiros construtores de instrumentos e seus grandes feitos

  16. Olá Douglas, tenho um violino tranquilo Gianinni com a etiqueta da alameda Olga 414 em SP. Comprei ele em uma loja de antigüidades. Tb gostaria de saber a “idade” dele pq deve ter sido fabricado antes dos anos 70. Se tiver fotos da fábrica na alameda Olga e fotos de outros violinos dessa época adoraria ver. Abraços.

  17. É muito triste perder Tranquillo Giannini por impostos era a melhor empresa que já trabalhei , a qual valorizava , e respeitava seus funcionários saudades.

    1. Coisas do Brasil, a Giannini, com muito esforço conseguiu fazer seus instrumentos mais voltados a músicos profissionais serem bem respeitados. Uma pena que tudo tenha acabado assim. Não é fácil concorrer com as marcas gringas, que apesar de caras, são as preferidas pelos músicos de mais renome, sobretudo do Rock. Não sei a quantas anda a Tagima, mas creio que deve andar bem. Conheci a marca em 1988 ou 1989, quando levei um contrabaixo nele para fazer ajustes e aprimoramentos. O brasileiro precisaria aprender a valorizar mais as marcas nacionais, porque um bom instrumento importado chega a custar os olhos da cara, começando a chutar baixo, no mínimo Mil Dólares, considerando que o dólar anda altíssimo. Alguns custam 3, 4, 5 Mil Dólares e até mais, o céu é o limite.

      1. Acrescentando: Confesso que comentei antes de ler a matéria com maior atenção. (rs rs rs) A Giannini se encontra em pleno funcionamento, seu site em atividade, vendendo instrumentos, e com músicos de renome utilizando-os. Reafirmo que é uma pena deixar o prédio de uma fábrica histórica, essencial para o mercado de instrumentos musicais do Brasil nesse estado. Espero que quem comprou o recupere, e faça algo de útil com esse espaço. Quem sabe, um centro cultural, algum espaço voltado para a música, já que este país, infelizmente, devido ao poder público tem andado tão carente em termos artísticos.

  18. eu tenho um equipamento antigo deles e gostaria de saber quando foi lançado
    e um piano compac tranquillo gianinni

  19. Douglas
    visitei a Giannini , ainda em Barra Funda…em 1969 …montei uma banda…comprei 2 Guitarras e 1 baixo mod APOLLO viajei no túnel do Tempo…foi legal ver sua reportagem
    abc
    Izoton

  20. Boa noite! Além de violões e guitarras Gianinni, eu acabei de comprar um piano KP61 da Gianinni, porém ele liga mas não sai o som. Alguém poderia me indicar alguma oficina que pudesse dar essa manutenção? Desde já agradeço.

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