Metalúrgica Mar

Quem anda pelas ruas do Brás hoje em dia, repleta de lojas de roupas, casas de produtos do norte, e lojas de utensílios para o lar pode não imaginar que no passado o Brás era um bairro operário e predominantemente industrial. Contudo, o tempo foi passando, as indústrias foram deixando o bairro (e em muitos dos casos a cidade) e o bairro fez a transição de um bairro de fábricas para um bairro basicamente de estabelecimentos comerciais.

Empresas como Leite União, Matarazzo, Ferla, Leite Paulista, Fontoura (do biotônic0), são apenas alguns exemplos de grandes fábricas do bairro que mudaram ou deixaram de existir. Algumas que ainda sobrevivem nos tempos atuais vão aos poucos também deixando a região.

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A antiga Metalúrgia Mar, na rua Claudino Pinto, foi mais uma destas empresas “clássicas” do Brás a desaparecer. Aliás nem foi só ela que sucumbiu, sendo que partir dela, no sentido esquerdo da foto, todos seus vizinhos desapareceram juntos, demolidos.

E confesso que fiquei espantado com a rapidez da demolição de imóveis tão grandes em tão pouco tempo. Estava indo lá justamente para fotografar a fachada da metalúrgica, que era muito bonita, quando me deparei com tapumes e obras de um novo condomínio a todo vapor.

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Não posso negar que fiquei muito entristecido em não chegar a tempo de tirar fotos (fui salvo pelo Google Street View). O trabalho de catalogação de imóveis antigos do São Paulo Antiga não é e jamais será um trabalho exclusivamente técnico ou pericial. É preciso ter emoção e sensibilidade ao contar a história de alguma construção antiga que se foi e, principalmente, passar isso ao leitor para que ele entenda e a importância da preservação para a história de uma região e de uma cidade.

O dia que a última fábrica do Brás deixar de existir, como explicaremos para as futuras gerações que ali foi um dos mais importantes bairros operários de todos o Brasil ?

Divulgação

Infelizmente não encontramos muitas informações sobre a Metalúrgica Mar. Fica o pedido para quem souber mais detalhes, tiver fotos ou lembranças, que entre em contato conosco ou deixe um comentário.

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22 respostas

  1. Somem as fabricas, no lugar delas constroem-se predios, um monte de gente vai morar ali. Como os empregos proximos estão quase inexistentes, o sujeuto depende de carro ou condução. Perde horas no transito.

    Por outro lado, fabricas como essa poderiam ser reformadas internamente e transformadas em apartamentos. Mas isso é sonhar demais em uma cidade onde todos se acostumaram com a feiura.

    1. Caro Ralph, vou pegar uma carona na sua proposta, porque não transformar as antigas fábricas ainda existentes, reforma-las por dentro, e possibilitar que os funcionários que trabalham no Brás, possam residir perto de seus locais de trabalho, assim haveria também a revitalização das áreas.

  2. O único benefício dos condomínios em bairros outrora operários, é que a moradia traz movimento e vida aos bairros à noite. Onde tem gente morando, tem comércio, tem serviços e movimento. Um exemplo que eu achei interessante aqui em Porto Alegre foi o empreendimento Rossi Fiateci. A Rossi adquiriu um terreno de uma antiga fábrica têxtil, em um bairro também bastante operário e deserto às noites (São Geraldo/Navegantes), apesar de bastante gente residir lá em prédios antigos, de três, quatro andares e sem elevadores, o bairro era (ainda é um pouco) meio esquecido pelo poder público e concessionárias de TV e internet. Enfim, a Rossi reformou a fachada da fábrica e construiu as torres por dentro do perímetro.(A fábrica ocupava uma quadra inteira praticamente).

    Aqui o link do Google Street View: https://www.google.com.br/maps/@-30.008716,-51.207121,3a,75y,40.76h,82.5t/data=!3m4!1e1!3m2!1sMpDPNxQo-CoaiFMVWPDheA!2e0

    Atentem para a fachada histórica sendo restaurada, as árvores em pé e as torres ao fundo. Ponto para a Rossi.

  3. Olà Douglas! Como vocè vè, estou seguindo sempre o seu blog. Ele toca assuntos de, pra mim, importancia capital à respeito do mundo que estamos deixando e daquele que estamos construindo.
    Duas coisas me chamaram atençao desta sua ultima reportagem.
    A primeira è que condvido plenamente a necessidade de ter empatia para compreender o legado do passado para melhor compreender a “folia” do presente: “É preciso ter emoção e sensibilidade ao contar a história de alguma construção antiga ..”.
    A segunda è que seria tentado de responder à pergunta “como explicaremos para as futuras gerações que ali foi um dos mais importantes bairros operários de todos o Brasil?”, e a minha resposta seria: simples, isso nao interessa de forma alguma, muito pelo contrario, o que interessa è a gente nao ter passado nenhum, nao ter memoria nenhuma, nao saber de onde se vem (e menos ainda onde se vai, que seria o seu natural corolario), o que interessa è a gente consumir, e mais ainda consumir uma sopinha esquentada e acha-la gostosa, e pra fazer isso melhor nao ter identidade e postura.
    Outra pequena liçao que, na minha opiniao, vem do triste fim da Metalurgica Mar e do fim em geral da industria paulistana (e podem dizer, sem medo de ser desmentidos, brasileira), alem de perder com ela a possibilidade de recuperar um espaço “historico” à fins residenciais ou comerciais, è compreender tambem que o comercio existe sò se tem a produçao (e consequentemente o trabalho no comercio e nos serviços) e se a produçao è cada vez mais feita no exterior, a gente, quando compra, està na verdade se indevidando …
    Simples e irrefutavel …

  4. Douglas, nessa mesma região do Brás (Caetano Pinto) funcionou a fábrica da Metalma – Metalúrgica Matarazzo, do famoso Cicillo Matarazzo. Fazia latas de embalagens de banhas, óleos comestíveis e de potes de doces. Hoje, salvo engano, é a sede da Igreja Mundial do… Deus. Infelizmente esse espaço também está descaracterizado ou poderá também vir a ser demolido.

  5. Compreendo e respeito o saudosismo do nosso querido Douglas Nascimento. Concordo em parte. Naturalmente é sempre entristecedor a gente testemunhar a desfiguração e reconfiguração da Cidade, dos lugares que a gente se acostumou a ver e conviver na infância, na juventude, etc. Casas e prédios que deixam de existir… E embora as Indústrias tenham exercido um papel importantíssimo no cenário econômico, social e até político da humanidade em geral, muitas também foram responsáveis por profunda e terríveis agressões à Natureza e ao ser humano. Derrubada de Florestas para obtenção de lenha para fonte de Energia, busca de recursos naturais, poluição atmosférica e hídrica, péssimos manejo de resíduos e efluentes, etc. Claro, tiveram o seu valor e hoje muitos desses prédios agregaram outros valores, como o histórico principalmente. Mas não sei se teremos de dar explicações às gerações futuras sobre o paradeiro dessas fábricas, muitas pioneiras. Um dia teremos de tentar justificar a nós mesmos e aos nossos descendentes por quê maltratamos tanto a nossa sagrada Terra, desertificando-a, contaminando-a, transformando-a num imenso, tóxico e feio depósito de lixo e pestes. Nem todas as indústrias hoje em dia são irresponsáveis, porém, há muitas que adotam as mesmas práticas nefastas de muito tempo atrás. Também, infelizmente, perduram modelos agropecuários e mineradores impactantes e predatórios. À parte essas consideração, total apoio e congratulações ao nosso amigo Douglas e seu maravilhoso trabalho de resgatar a memória da amada e enlouquecida Sampa, rs. Grande, forte e fraterno abraço. Shalom Aleihem! Paz Profunda!
    L. Lafam.

    1. Olà Luis, acho que a gente nao pode enculpar a faca de ter matado alguem, um processo à uma faca, tudo mundo sabe, nao teria sentido; o processo dirige-se, como justo e normal, ao autor do crime que usou a faca.
      “Mutatis mutandis”, a mesma coisa seria correto dizer com as fabricas.
      A historia da humanidade è acoplada à produçao de bens, e isso è atè obvio. Produçao de bens significa “ter fabricas”. Com certeza esta produçao gerou conflitos (desde o mais “banal” conflito distributivo atè guerras), gerou desfrutamento de recursos naturais, poluiçao, e tantas injustiças, sempre. Ao mesmo tempo, nao seria nem imaginavel uma humanidade sem produçao de bens, ou seja sem fabricas. E è aquì que entramos nos, todos nos, os que tens a faca da parte do cabo e os que tens a faca da parte da lamina. Està à nos, fazer que a faca seja usada bem.
      Eu “montei” uma associaçao ambientalista, aquì no meu pais (Italia), no final dos anos ’70, e sei muito bem como foi e como è dificil “limpar” a produçao. E intendo muito bem o sentido das suas palavras e da sua intençao, e concordo. Mas acho que a “batalha” nao tem que ser contra as fabricas (que tambem levaram lutas sociais, uniao e conscientizaçao, alem de progressos materiais), mas sim pra “limpar” elas do ponto di vista social e ambiental. E como disse acima, a desindustrializaçao nao significa nada disso, mas simplismente significa comprar os bens antes produzidos perto de casa, de outro lugar, e quando este lugar ficar no esterior para nao se indevidar o pais que compra o que è que tem que produzir e vender? Enfim, è sempre bom refletir atentamente sobre certos processos sociais e economicos que ficam detras atè de um bairro que deixa de ser industrial, e tudo isso acaba parecendo nao sò normal, mas atè desejavel.
      Um abraço
      Gualberto

  6. A Metalurgica Mar pertencia, pelo menos nos anos 40 e 50, conforme balancos publicados no Diario Oficial ao Comendador Attilio Ricotti. Italiano, foi tambem notável diretor e benfeitor do Palestra Italia, atual Palmeiras.

    Este link ( http://www2.camara.sp.gov.br/projetos/1950/00/00/08/YO/000008YO1.PDF ) possui um projeto de lei de 1950 para nomear Comendador Attilio Ricotti a um logradouro publico, por tanto, imagino que ele tenha falecido nessa epoca.

    Segundo anuncio publicado na revista Acropole ed 198 pg 28, nem determinada obra em destaque, havia sido instalada a VALVULA HYDRA, marca registrada da METALURGICA MAR S/A. “A valvula mais perfeita para descarga automatica em aparelhos sanitarios. Patentes concedidas no Brasil, França, Suissa, Argentina, Inglaterra e Italia. Torneiras, registros, valvulas para agua, gas e vapor. Escritorio na Av. Rangel Pestana, 1086/88 e fabrica na Rua Claudino Pinto, 163/93”

    Todo mundo sabe que a Hydra e a valvula fabricada atualmente pela Duratex, e pesquisando pouco mais, confirmei o que imaginei:

    “Em 1967, a Deca incorporou a Válvula Hydra S.A. – fabricante das válvulas de descarga Hydra, tornando-se líder no mercado”. A Deca e uma divisao da empresa Duratex.

    O site da Deca tambem comenta sobre isso ( http://www.deca.com.br/deca/duratex/ ):

    1967 – Incorporação da Válvula Hydra, empresa sucessora da Metalúrgica Mar, fabricante das válvulas de descarga de mesmo nome. A Hydra detinha 90% do mercado de válvulas, consolidando a liderança da Deca.

    Neste site da 3M ( http://solutions.3m.com.br/3MContentRetrievalAPI/BlobServlet?locale=pt_BR&lmd=1253816565000&assetId=1180618712531&assetType=MMM_Image&blobAttribute=ImageFile ), na linha do tempo, em 1932 consta a referencia:

    “ANTONIO FERRARESI e ATTILIO RICOTTI inventaram a valvula hidraulica, para atender as casas terreas, que sofriam com a falta de pressao para acionar a descarga.”

      1. Imagina Douglas, e sempre um prazer poder colaborar.

        A unica fabrica da Duratex ainda existente em SP fica na R. Comendador Sousa – 135…e chama-se Metais Sao Paulo. Imagino que a linha de producao tenha se movido do Bras para la devido ao aumento na producao.

        1. Pesquisando um pouco mais, realmente e fato que essa metalurgica mudou pra la nos anos 60.

          http://www.jusbrasil.com.br/diarios/4809751/pg-20-poder-executivo-parte-2-diario-oficial-do-estado-de-sao-paulo-dosp-de-21-10-1965/pdfView

          Esse link apresenta a ata de uma assembleia de acionistas – de outubro de 1965, e o endereco ja e esse da Comendador Souza.

          Esse documento detalha o momento em que a Duratex adquiriu a empresa totalmente – sendo nomeado Dr. Olavo Egydio Setubal como presidente da MAR S/A, a holding que controlava a metalurgica.

  7. Luis Arruda: seu comentário foi excelente, o melhor que li neste site em anos! Realmente, a história deve ser preservada, os edifícios icônicos da cidade e alguns nem tanto, idem, mas será que absolutamente tudo que foi erguido no passado é digno de admiração? Creio que edifícios industriais também devem ser lembrados como locais em que os proletários foram muito explorados e nos quais parte do caos em que vivemos hoje, na nossa amada e mal tratada São Paulo, foi gestado.
    Portanto, certos edifícios deveriam ser preservados e mostrados às futuras gerações acompanhados do seguinte discurso” que aquilo que se praticava nesse lugar não se repita!”
    Tudo é história, já anunciava uma saudosa coleção de livros de bolso da Brasiliense,nos anos 80,irmã da lendária Primeiros Passos, mas nem tudo da história é admirável.

    1. Na verdade, não que toda coisa velha deve ser preservada por causa da memoria. Atualmente,t da coisa velha da cidade deve ser preservada ou restaurada ou ainda reformada mantendo sua area igual à original simplesmente porque construir predios de apartamentoss e escritorios nesta cidade monstruosa e cheia de problemas já é algo que deveria ter sido contido há muito tempo. 12 milhoes de pessoas já ;e gente demais,carro demais, rua de menos, transporet de menos, agua de menos etc. Este é um dos motivos, mais do que a simples memoria, que me leva a lutar pela preservaçào de coisas antigas pelo simples fato de serem… menores.

      1. Olà gente, desculpe se pego uma carona nesta discussao, mas acho o assunto importante em geral e mais ainda no caso da cidade de Sao Paulo. Confesso logo que o meu ponto di vista è de um estrangeiro que mora em Sampa sò alguns meses ao ano, mas ama a cidade e quer pelo Brasil como um todo um presente e um futuro justo, inteligente e equilibrado.
        Primeiramente, a conservaçao da “memoria” da cidade tem a ver com o seu futuro, ou seja, deixar para os futuros moradores a possibilidade de intender os momentos salientes, as fases marcantes, do proprio desenvolvimento. No caso de Sao Paulo, visto o pouco ou quase nada que sobrou da epoca do cafè (ou seja da acumulaçao pre-industrial), me parece que a epoca da industrializaçao e consequentemente da espançao dos bairros industriais e operarios, seja uma fase muito significativa e que durou atè pouco tempo atraz. Entao, saber guardar e valorizar este patrimonio construtivo e cultural, para Sampa, è quase como guardar centros historicos medievais para cidades europeias (sei que este conceito è forte, mas acho que dà uma ideia da sua relevancia). Os bons exemplos nao faltam, aquì na Italia como nos outros paises europeios que jà passaram por isso.
        Segundariamente, concordo plenamente com Ralph. Hoje Sao Paulo nao pode mais perseguir um crescimento quantitativo (se-verticalizando), nao dà mais, faz anos que a cidade està beirando o colapso. A ocasiao oferecida pela recuperaçao do tecido arquitetonico e urbano existente, alem de ser mais “bonita” (as construçoes do passado sao frequentemente de melhor qualidade, seja construtivamente que esteticamente), è a unica opçao para evitar a proxima paralise da cidade.
        E pra finalizar, tem duas coisas que nunca me canso de repetir: 1. pense bem na oportunidade que a recuperaçao oferece de fazer bairros (ou pelo menos pedacinhos de cidade) mais “complexos”, mais socialmente e economicamente articulados, ou seja, com presença de moradia, comercio difuso, pontos culturais e, onde possivel, artesanato, isso agrega valor, dà mais vivibilidade e menos degradaçao; 2. tudo bem que a grande industria se delocalize no interior (e possivelmente saiba reduzir atè o minimo o seu impacto), mas intender a sua importancia e saber imaginar ainda uma sua presença dentro das cidades è um desafio que tem que ser colhido.
        Um abraço
        Gualberto

  8. Comprei recentemente um apartamento no Edifício Minas Gerais em Petrópolis inaugurado em 1952 e todos os Registros de pressão de chuveiros e lavatórios são da Metalúrgica MAR e funcionam perfeitamente

  9. Meu pai, falecido, quando tinha 14 anos trabalhou nessa metalúrgica. Ele dizia que o dono era muito afetuoso e que tinha um macaquinho.
    Disse que quando tinha por volta de 13 anos, passava todo dia na casa do dono da empresa e atirava uma pedra no macaco.
    O empresário viu meu pai, puxou a orelha dele e o levou até o meu avô. Meu avô, como forma de desculpas, obrigou meu pai a trabalhar na empresa de graça. Depois de um tempo, o dono contratou meu pai e foram grandes amigos.
    Se estivesse vivo, meu pai teria 90 anos. Morou no Brás, num cortiço quando criança

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