Mirante do Jaguaré – 1943 & 2012

A cidade de São Paulo tem muitos problemas, mas não deixa de ser surpreendente e reveladora a cada bairro visitado. Cada canto de nossa metrópole sempre tem algo curioso e interessante para mostrar aos cidadãos e turistas que pululam pela capital paulista diariamente. É uma pena que a grande maioria dos que visitam São Paulo raramente são levados a conhecer os bairros mais afastados da cidade, estes tão interessantes quanto o centro histórico.

O Mirante em 1943 e 2012, fotografias tiradas no mesmo ponto (clique para ampliar).

E é no bairro do Jaguaré que a cidade tem um monumento muito curioso e que é conhecido por poucos paulistanos: O Mirante do Jaguaré. Mas antes, vamos conhecer um pouco da história do bairro.

O JAGUARÉ:

Fundado oficialmente em 1935, a região já era vagamente habitada em seus arredores desde o início do século 20. No entanto, a região compreendida como Jaguaré era uma grande fazenda de 165 alqueires que pertencia à Companhia Suburbana Paulista, fundada por Ramos de Azevedo e que executava loteamento de terras pela cidade.

No ano 1935, a fazenda é adquirida pelo empresário e engenheiro Henrique Dumont Villares (sobrinho e afilhado de Santos Dumont) que vislumbrou um projeto de urbanização, que basicamente dividia a região de maneira ordenada em áreas residenciais, comerciais e industriais que eram geridas pela Sociedade Imobiliária do Jaguaré criada por Villares. O nome Jaguaré vem de um ribeirão da região, que nascia em Osasco e desembocava no rio Pinheiros e que foi canalizado quando o bairro começou a ser urbanizado.

O Jaguaré no início dos anos 1940: Organizado e pacato (clique para ampliar).

Depois de loteado e ocupado o grande entrave para o desenvolvimento do bairro era o Rio Pinheiros, que era uma grande barreira natural e que limitava o tráfego de pessoas e também impedia o pleno desenvolvimento industrial da região. Para resolver este problema, em 1940 Henrique Dumont Villares faria uma doação de 700 Réis à Prefeitura de São Paulo para que pudesse então ser construída a Ponte do Jaguaré, que seria inaugurada somente em 1947 ligando o bairro com as regiões da Vila Leopoldina e Lapa. Era então o grande início do desenvolvimento do bairro não só como residencial, mas principalmente como um pólo industrial.

Curiosidade: A Ponte do Jaguaré original foi substituída em 1991 pela ponte atual, mas ela não foi completamente demolida. A parte central da ponte velha, sobre o Rio Pinheiros, está ao lado da ponte nova até hoje, bem como algumas outras pontes antigas localizadas na região do Rio Pinheiros.

O MIRANTE:

Principal símbolo do bairro, o mirante, que é  bem mais conhecido popularmente como “Farol do Jaguaré” começou a ser construído no início dos anos 40, sendo inaugurado em 1943. Henrique Dumont Villares ergueu a torre após uma viagem à Europa onde, dizem, teria tido uma inspiração. Construído no ponto mais alto de suas terras no Jaguaré, o mirante tem 28 metros de altura.

Alguns rumores não confirmados dizem que a principal razão de tê-lo erguido foi o fato de Henrique Dumont Villares pensava que o Rio Pinheiros fosse navegável, com a torre servindo então como um farol de orientação. Do alto do mirante é possível contemplar uma boa parte da Cidade de São Paulo e especialmente áreas mais próximas como a Vila Leopoldina e a Cidade Universitária.

Henrique Dumont Villares ao lado do mirante em 1943.

A demora do poder público em providenciar o tombamento do mirante e de seus arredores trouxe danos irreparáveis à memória do bairro do Jaguaré. Nos anos 1990 o edifício que foi construído em frente ao Mirante praticamente tampou a vista do mesmo para quem trafega na Marginal Pinheiros. Somente em alguns ângulos ainda é possível vê-lo. A partir do alto do Mirante, o mesmo prédio comprometeu parte da vista que o mesmo proporciona aos seus visitantes.

No bairro, a grande parte das construções residenciais erguida entre os anos 1930 e 1940 foram completamente desfiguradas. Percorrendo o bairro, só encontramos algumas poucas sem modificações e apenas duas residência mantidas preservadas e originais.

Nos anos 1990 antes do tombamento e antes da primeira grande obra de recuperação o mirante estava muito deteriorado, como mostra a foto aérea a seguir:

O tombamento só viria pelo CONPRESP em 2002, quando já não havia muito mais o que ser preservado no Jaguaré. Hoje não é mais possível erguer prédios altos que impeçam a vista do mirante.

O MIRANTE HOJE:

Repetir a foto de Henrique Dumont Villares quase 70 anos depois da imagem original, demonstra ao leitor como a poluição visual macula nosso patrimônio histórico. Em nossa visita na área do Mirante, encontramos muito lixo pelas calçadas e ruas adjacentes. O jardim interno, entretanto, estava muito bem cuidado.

Em 2012, é quase impossível ver o mirante da mesma posição de 1943.

Mas o mirante embora tombado apresenta sinais de abandono. Há alguns pontos de infiltração em sua construção, todas as faces do relógio estão quebradas e, obviamente, não funcionam. É possível notar através da foto atual que a árvore cresceu e tampa a vista próxima do mirante.

Mas a árvore não é problema, mas sim a enorme quantidade de fios que passam diante do mirante que dá uma visão muito feia da obra. Fruto de uma cidade cujas administrações municipais há décadas vão adiando o aterramento de nossa fiação.

No geral o mirante/farol está bem preservado, mas é preciso mais atenção e uma manutenção constante. À noite ele fica aceso e pode ser observado de alguns pontos da Lapa e da própria marginal do Rio Pinheiros.

clique para ampliar

Entretanto é inaceitável que um monumento importante como este, marco da fundação de um bairro paulistano tenha tão pouca atenção da SP Turis. Estivemos por dois domingos seguidos no local e o mesmo encontrava-se sempre fechado. Justo em um dia em que é possível fomentar mais o turismo na região, não só por paulistanos conhecendo melhor a sua cidade, como também de turistas.

Veja mais fotos do Mirante do Jaguaré (clique na miniatura para ampliar):

Compartilhe este texto em suas redes sociais:
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Siga nossas redes sociais:
pesquise em nosso site:
Cadastre-se para receber nossa newsletter semanal e fique sabendo de nossas publicações, passeios, eventos etc:
ouça a nossa playlist:

Guarulhos Tem História

Conhecer uma das grandes cidades paulistas é a proposta deste livro, que conta em detalhes a história da Cidade de Guarulhos, prestes a completar 450 anos em dezembro de 2010.

Leia mais »

36 respostas

  1. Sou um leitor constante do site e parabenizo pela qualidade das informações e por deixar os leitores tão bem informados.

    Gostei em especial desta postagem sobre o Mirante do Jaguaré, pois sou morador do bairro desde que nasci. Além disso, leciono no mesmo bairro, para uma 4ª série do ensino fundamental. Por isso mesmo gostaria, se possível, que me autorizassem usar esta postagem com meus alunos, pois estou tratando exatamente da história do bairro com eles.

    Grato pela atenção e parabéns pelo trabalho.

    João César
    Jaguaré – São Paulo SP.

  2. Parece estar conservado. O que atrapalha a visão é a árvore e um poste.
    São Paulo precisa de muitas árvores, se tem algo que deve reclamar é da fiação exposta, apenas.

    1. Rafael, não criticamos a árvore, leia: “É possível notar através da foto atual que a árvore cresceu e tampa a vista próxima do mirante. Mas a árvore não é problema.”
      Certo ?
      Abraços!

  3. Olá, Parabéns pelo trabalho, sigo seu site pelo Facebook, sempre visito e fico admirado pelo trabalho bem feito, amo história e adoro saber mais sobre as construções antigas, muito obrigado!!!

  4. Há uns 3 anos meu pai e eu fomos lá ver o farol de perto. Estava desse jeitinho mesmo. Não sei se é aberto à visitação. Creio que não. E não é sempre que está aceso.

    Lembro que há uns dez anos atrás, haviam neons verdes no topo do relógio e sempre eram acesos à noite. Também havia um grande neon vermelho da Coca-Cola na Comunidade do Relógio. Então, para quem passava na Ponte do Jaguaré via, entre as luzes bem pequenas e apagadas das casas, os dois neons grandes resplandecendo no escuro.

  5. Pessoal,

    Sou Leitor Costumaz do site e quero parabenizá-los pela qualidade do material postado.

    Passo diariamente pela ponte do Jaguaré. Gostaria, se me permitem, de sugerir uma matéria a respeito dessa e de outras pontes que, estranhamente, foram “semi-demolidas”.

    Fico curioso para saber…pq não demoliram tudo? Ao longo da Marginal Pinheiros temos diversos exemplos.

    Obrigado e parabéns pelo trabalho!

    1. Valdemir! Moro no Pq Continental, Bairro vizinho do Jaguaré. Já são 36 anos ali,e me lembro da antiga ponte do Jaguaré, que era estreita e possuía aqueles arcos tópicos daquelas pontes de cidades do interior. Ela ainda está ali, no meio das duas pontes, acredita??? Somente a pé ou de bicicleta dá para avistar. Adorei a idéia das pontes!

  6. Oi Sandra,

    Fiz uma rápida pesquisa e existem por volta de 05 ou 06 pontes em toda a marginal pinheiros na mesma situação (demolidas pela metade).

    Para o pessoal do Blog, quem quiser ver uma ponte irmã da antiga ponte do Jaguaré ainda em pé, ela fica no bairro de Socorro, zona sul.

    É da mesma época, exatamente igual! Eu acho que vale uma matéria.

    1. Olhando pelo Google Earth encontrei 5 pontes antigas. A do Jaguaré e a do Morumbi estão abandonadas. A da João Dias, foi utilizada por muito tempo em conjunto com a ponte nova, com cada uma comportando uma mão de direção da avenida, com o aumento do fluxo foi construída uma segunda ponte nova e a ponte antiga ficou entre as duas, hoje ela é utilizada como acesso direto à pista expressa da Marginal Pinheiros no sentido bairro-centro. A do Socorro serve como passagem de tubulações, aparentemente de água. E a de Interlagos funciona como uma das mãos da Avenida Interlagos em conjunto com uma ponte nova.

  7. SOBRE ESSA HISTÓRIOS FACO APENAS UMA RESALVA.VC MENSIONARAM QUE A PONTE ANTIGA AINDA EXISTE,COMO DE FATO EXISSTE MAS, SOBRE O RIO PINHEIROS E NAO TIETE COMO FOI MENCIONADO.ANTES DA INAUGURACAO DA PONTE NOVA, A TRAVESSIA PELA PONTE VELHA ERA UM
    TORMENTO.MORAVA EU NO CAMPO BELO E TRABALHANDO EM OSASCO, NO BRADESCO,TODAS AS MANHANS ERA OBRIGADO POR ELA PASSAR,ONDE SE PERDIA ,PELO MENOS 20 MINUTOS,POIS HAVIA FLUXO DE TRANSITO NOS DOIS SENTIDOS

  8. Gostei muito da reportagem, e concordo plenamente com voces no que diz respeito a memoria dos bairros. Sou moradora do Jaguaré e por ser um bairro novo as antigas casas quase não existem, imagina no restante da cidade. Outra construção antiga do bairro e que se deteriora a cada dia é o antigo prédio da Cooperativa Agrícola de Cotia na esquina da Avenida jaguaré com Avenida Kenkiti Simomoto. Quem sabe um dia voces contam a historia desde imóvel.

  9. Reparem que ao topo do morro na foto do jaguaré há duas casas que estão de pé até hoje. E há uma reportagem sobre elas aqui no sp antiga

  10. Pessoal, ótima matéria.
    Aos moradores do Jaguaré, assim como eu, o que dificulta nossa rotina é o trânsito caótico ao qual somos submetidos para atravessar a ponte e seguir para o centro. Só para descer a Kenkiti, contornar a Av. Jaguaré e pegá-la novamente sentido centro, levo em média 30 minutos, além do restante do percurso.
    Para os mais antenados, será que não teríamos como fazer alguma espécie de petição a subprefeitura quanto a melhoria no tráfego de nossa região?!

  11. Eu nasci no Jaguaré em 1957 e passei toda a minha infäncia e adolescência no bairro. A ponte antiga era o único meio de integração com os bairros vizinhos e o Centro de São Paulo. Evidentemente, com o advento do progresso, ela foi se tornando insuficiente e outra teve que ser construída. Apenas uma ressalva na matéria porque o ano de inauguração da ponte nova não foi 1991, foi bem antes – não tenho certeza da data exata mas em 1975 ela já existia (lembro-me bem disso porque eu a usava para ir ao colégio, na Lapa.

  12. Ola Douglas, tenho um trabalho de escola sobre o bairro Jaguare e preciso da sua ajuda em 4 perguntas.
    Vc pode me ajudar?

    Lilian

  13. Muito legal essa reportagem sobre o bairro Jaguaré, tenho familiares que moram neste bairro desde os idos de 1960 + ou – Não imaginava que foi loteado por um sobrinho de Santos Dumont. Quando ao Mirante só uma observação ele é mais conhecido no bairro por RELÓGIO e não pro farol. Geralmente falamos no relógio do Jaguaré. Aproveito pra solicitar que vocês façam também uma reportagem sobre os bairros de Vila Pompéia e Lapa.

    Abraços!

  14. Matéria muito bacana. Minha filha precisou fazer um trabalho sobre o bairro e as informações postadas ajudaram. Obrigado.

  15. Meu pai trabalhou na RCA VICTOR. Como a mesma nao foi mencionada,acredito nao fazer parte do Jaguare e sim dePresidente Altino.Mas, moravamos no Alto da Lapa existia a CMTC cujo onibus descia a Av.Jaguare,naquela altura sem asfalto. Na chuva era um zig zag perfeito. Mas, a ponte era aquela antiga. O mirante era um local conhecido especialmente aos finais de semana, aonde existia um casarao para festas.De la podia-se ver tudo. Tenho fotos e se acha-las mandarei. Quanto aquela duas casinhas, a da direita minha tia avo morou e iamos la frequentemente. Nao havia nada de interessante, a nao ser a vista para a RCA e adjacencias. Bons tempos.

  16. Nasci no Jaguaré, em 1955, mas minha família veio de Bauru para o Jaguaré, e foram os primeiros moradores. Tem algumas coisas pitorescas, minha avó era parteira, espanhola, e tinha vindo para o Brasil no fim da escravidão, era alfabetizada, e além de de parteira lia e escrevia cartas para quem não soubesse ler, seu nome era Carmen Fuentes, nos anos 40 junto com o único farmacêutico da região o Edgard, eram as únicas pessoas a cuidar da saúde da população, que teria que recorrer ao Hospital das Clínicas, que era longe demais. Tem histórias muito lindas desse pedaço, como o cassino que foi construído, mas teve que mudar de ramo por conta do ex presidente Janio Quadros, ali foi “mercado do Sesi”, foi convento, asilo e hoje já não sei mais o que é. Fico contente em ver que você está levantando a história desse lugar tão amado, e fantástico.

  17. Há um equívoco na pesquisa, por volta de 1970/73 a ponte velha que ainda está entre as pontes sentido centro/bairro foi interditada por risco de queda .
    O trânsito foi desviado para a Marginal do Rio Pinheiros e a travessia mais próxima era a ponte da Cidade Universitária .
    A atual ponte foi entregue no início da década de 1970.

  18. como faço para chegar ao farol, qual é o endereço, apesar de morar em osasco não sei como chegar lá.

  19. no dia 12/08/2019, apreciei esta materia do farol do jaguaré, porem acabo de receber um comunicado dessa, para que eu confirme assinatura com voçeis, porem não me intereço a assinatura, apenas queria saber o endereço do farol somente isso, agradeço a atenção de voceis não me intereço em ser assinante, grato.

  20. Parabéns pela reportagem muito esclarecedora e bem documentada fotograficamente.

    1. Acredito que, como quase todas as regiões periféricas de São Paulo, essa daí não conseguiu escapar ilesa dos terrenos invadidos, das ligações clandestinas de água e esgoto, das edificações erguidas “nas coxas”, etc, etc, etc…

  21. . esse sobrinho do santos dummont tinha um miolo a menos, só pode. levantar essa trapizomba sem a menor utilidade? vixi…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *