O Arco do Triunfo de Sorocaba

Em 2014 publiquei aqui no São Paulo Antiga a curiosa história do Arco do Triunfo de São Paulo, erguido em 1921 diante da Estação da Luz, para homenagear a vinda a São Paulo do então Presidente da República, Epitácio Pessoa.

Desde então, passei a estudar a construção destes monumentos de arquitetura efêmera por toda a cidade e já descobri que existiram alguns outros, como um erguido em 1908, treze anos antes do que encontramos primeiro.

Agora apresento o primeiro que tenho notícia construído no interior de São Paulo: O Arco do Triunfo de Sorocaba.

Construído em madeira e gesso, o curioso pórtico de Sorocaba foi a maneira que a cidade paulista encontrou para homenagear a passagem pela cidade, em 1927, do heróico aviador brasileiro e jauense João Ribeiro de Barros. Naquele mesmo ano o célebre aviador cruzou o Oceano Atlântico, sem escalas, pilotando o hidroavião italiano Savoia-Marchetti S-55.

Após a realização da histórica travessia, houve uma grande comoção por todo o país e, especialmente, pelo Estado de São Paulo, surgindo comemorações e condecorações quase em todas as cidades paulistas.

O feito levou ao governo estadual a lançar o seguinte apelo, em maio de 1927:

Este pedido desencadeou uma verdadeira competição entre as cidades paulistas, cada uma querendo homenagear e presentear João Ribeiro de Barros e os demais aviadores do hidroavião Jaú, da melhor maneira possível.

Em Santos, por exemplo, a companhia de bondes doou a arrecadação de um dia inteiro de tarifas aos aviadores. Em Santo Amaro, então município independente da capital, realizou-se cerimônia na represa. Em São Paulo inúmeras homenagens, condecorações e até apresentação no Theatro Municipal.

Já a cidade de Sorocaba optou por erguer um arco do triunfo para homenagear os aviadores e a chegada do Jahú à cidade. O único arco que se tem notícia para este fim.

O arco fotografado do lado oposto da foto anterior (Foto: Divulgação)

De acordo com a minha pesquisa o arco foi instalado próximo da igreja matriz da cidade, no centro de Sorocaba. A estrutura, além do arco em si, contava com uma espécie de réplica, em madeira, do hidroavião na parte superior.

A construção do pórtico e até mesmo a sua existência é quase desconhecida pelos sorocabanos. Mesmo registro jornalísticos ou fotográficos desta curiosa passagem da histórica da cidade são raríssimos. Na internet é possível encontrar um historiador da cidade afirmando que o arco foi erguido no início de 1930, mas reafirmo que ele foi erguido entre junho e julho de 1927.

Sobre a duração do arco a inexistência de dados históricos torna impossível determinar. É bem possível que ele tenho durado algumas semanas, ou no máximo, dois ou três meses. Com a ação do tempo (chuva, sol, vento etc) a estrutura em gesso e madeira não aguentaria mais tempo que isso, tal qual ocorreu com o Arco do Triunfo de São Paulo.

Mais uma interessante curiosidade de nossa história.

EM SÃO PAULO, UM AUTOMÓVEL PARA JOÃO RIBEIRO DE BARROS:

A competição de homenagens a João Ribeiro de Barros entre as cidades, em 1927, foi bastante acirrada, mas era muito difícil competir com o poderio econômico da capital paulista. Além de várias premiações em dinheiro e até partidas de futebol para homenagear os heróis da aviação brasileira, houve até premiação com automóveis.

As Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM) premiou João Ribeiro de Barros com um veículo da marca Ítala¹, antes de entregar o carro o veículo ficou exposto no Salão do Automóvel, na rua 15 de novembro.

1 – A marca italiana de veículos Ítala foi criada em 1904 e foi extinta em 1934. Seus maquinários e veículos que sobraram na fábrica foram vendidos à FIAT.

Bibliografia consultada:
Revista A Cigarra – Ano 15 – Nº308 – Setembro de 1927
Correio Paulistano – Edições 25608, 25613, 25626 – Todos de 1927

Compartilhe este texto em suas redes sociais:
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Siga nossas redes sociais:
pesquise em nosso site:
Cadastre-se para receber nossa newsletter semanal e fique sabendo de nossas publicações, passeios, eventos etc:
ouça a nossa playlist:

Lavanderia Piratininga

Neste antigo sobrado art déco do bairro do Tatuapé, na Rua Padre Estevão Pernet, funciona a Lavanderia Piratininga. Veja fotos e saiba mais sobre o local.

Leia mais »

10 respostas

  1. Olá, Douglas. Não sabia deste detalhe. Note que imprimiram o “v” de Novembro virado 180­­°.

  2. Que ânimo diferente havia nas pessoas de antigamente! Digo isso porque não faz nem 100 anos que essa homenagem aconteceu, e estamos muito distantes daquele estado de espírito, daquela maneira de ver e de fazer as coisas. Para uma comemoração fugaz, fazia-se algo de alto nível, de opulência, como uma imitação do Arco do Triunfo parisiense.

    O rebaixamento de nível geral deste nosso tempo de agora é muito evidente. Entramos em um pauperismo (uma estranha insistência na pobreza) que chega a ser macabro – não se justifica nem racionalmente, e nem materialmente. É impensável que uma prefeitura, ou mesmo particulares, façam algo como um Arco do Triunfo de ocasião para homenagear quem quer que seja.

    Se fosse hoje em dia, o aviador subiria em um trio elétrico e teria a seu redor um monte de gente pelada (ou quase), música ruim, sirenes tocando, uma carreata bem longa com personalidades atuais etc., nos moldes como foi a passagem da Tocha Olímpica por nossas cidades. E só. Tudo muito despojado e pobre.

    As pessoas estão se desumanizando; melhor dizendo, estamos sendo desumanizados. Antigamente, as pessoas, mesmo as comuns, eram mais racionais do que as de hoje em dia (e os poderosos vivem nos dizendo que “no passado havia mais pobreza”). Mentira. Mesmo as pessoas pobres tinham um nível pessoal mais elevado do que as de hoje em dia. É paradoxal… Hoje, temos uma pseudo-racionalidade, estamos mais à flor da pele, ao mesmo tempo em que temos mais riquezas, comida e comodidades do que as pessoas de uns 80 anos atrás.

    E – forçoso reconhecer – é a cultura midiática em que estamos mergulhados que destruiu o estado de espírito de 1927 em que foi construído esse Arco do Triunfo de Sorocaba para homenagear um aviador… a mesma cultura criada para este meio aqui, incluindo a internet e os computadores, que usamos para resgatar a história e relembrá-la, ou apresentá-la a quem não a conhece ainda. Resgatar o passado é ser resistente às mentiras que a elite fajuta e igualitarista de hoje quer nos empurrar. Enfim, dá para extrair muita coisa de um post como este, se o colocarmos sobre o pano de fundo certo (penso na gravação chamada “como se vence a inveja”, de uma fala de Plinio Corrêa de Oliveira, no Youtube, no canal “nuno alvares”). Vida longa ao site “São Paulo Antiga”!

    1. A realidade é que hoje o povo está emburrecendo, pois os governantes descobriram que piorando a educação eles formam mais pessoas burras que vão abaixar a cabeça para tudo o que eles disserem e dizer amem sem nem mesmo questionar nada, ou seja, uma geração de crédulos cegos sem senso crítico nenhum, a pobreza cultural hoje é um projeto…

  3. Ótima reportagem e não conhecia essa parte da história dele. Quando garoto cheguei a ver professores pedindo trabalho escolar sobre o Jahu, isso na década de 70, quando também visitei o Museu da Aeronáutica que havia no Parque Ibirapuera, creio que naquela construção Oca. E lá estava esse avião que hoje em dia não é lembrado por praticamente ninguém. Espero que o novo museu planejado próximo do Campo de Marte possa trazer à tona novamente essa parte de nossa memória.

  4. É triste, mas hoje em dia ninguém lembra o que foi o Jahu ou João Ribeiro de Barros e seus companheiros (Charles Lindbergh todos lembram). Antes de João RIbeiro de Barros e Lindbergh outras viagens transatlânticas foram feitas, a John Alcock e Arthur Brown em 1919; a de Gago Coutinho e Sacadura Cabral em 1922. A ravessia do Jahu Aconteceu um mês antes da de Lindbergh. A viagem de João Ribeiro, não foi nada tranquila, até sabotado o avião foi.

  5. Caro Douglas segundo informações de um amigo no post feito na minha pagina (…) De acordo com Vicente Caputti Sobrinho em seu livro Minha Terra, Minha Gente, o arco é de julho de 1927 e o seu construtor foi Luigi Lava Melapague, o Nego Melapague. repassado por Gilmar Delgado para a pagina Lembranças Sorocabanas

  6. Moro em Sorocaba e não sabia dessa história. MInha mãe, nascida em 1926, em Tietê, cantava sempre uma canção que dizia “Chegou, chegou Jahu”. Ela cantava brincando, geralmente quando chegava um dos namorados das filhas em casa. Certamente ela ouvira essa canção de alguém que tenha vivido esse momento e às vezes me pego cantando também, pena que não lembro o resto da letra. Sempre tive curiosidade de saber mais sobre isso e este artigo já me elucidou um pouco. A cidade de Jahu tem alguma ligação com isso tudo?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *