Os últimos momentos do Bonde do Memorial do Imigrante

O bonde, em uma das várias ocasiões que ficou inundado.

Existem alguns ditos populares que refletem muito bem a imagem dos políticos brasileiros. Uma delas é “esgoto não dá voto”, quando o tema de saneamento básico vem à tona e vemos décadas de poucos investimentos em esgotos que transformaram o Rio Tiete em um grande e fétido esgoto a céu aberto. A outra é  “cultura não dá voto”, pois para que dedicar-se à memória se o povo “quer mesmo” é Copa do Mundo, não é ?

Recentemente, reportamos com exclusividade aqui no São Paulo Antiga o fim do único bonde que ainda rodava pelas ruas paulistanas (com motor de carro, mas rodava): O bonde do Memorial do Imigrante. Sujo, vítima de vandalismo, enchentes e completamente ignorado pelo Memorial do Imigrante ele foi removido pela ABPF e transferido para Santos, sua cidade de origem. Lá o bonde está sendo completamente restaurado e irá voltar a circular pelas ruas Santistas.

O bonde quando ainda estava em operação. (Crédito: Laila Guilherme)

Não é possível entender porque este desprezo com o bonde. Recebemos denúncias anônimas das mais variadas sobre o fim do bonde, e até uma que não conseguimos apurar, mas que se eventualmente fosse verdade seria um absurdo: de que havia orientação para que os seguranças do Memorial do Imigrante não vigiassem o bonde, que ficava do lado de fora do museu.

Embora o Governo do Estado de São Paulo venha investido bastante em cultura, com inclusive a reforma do próprio Memorial do Imigrante e o novo prédio do Arquivo Público do Estado, a partida do bonde ainda não foi muito bem aceita pelos moradores da região, que acham que o local sem mais esta atividade se degradará ainda mais.

A cena do início deste artigo, com o bonde quase submerso e a próxima com as ruas Visconde de Parnaíba e Dr. Almeida Lima inundadas, nos leva a fazer a seguinte pergunta: Qual a razão para tamanho descaso com o nosso patrimônio ?

Será que vão trocar o bonde por um submarino ? Água não falta!

Veja as últimas fotos do bonde no Memorial do Imigrante (clique para ampliar):
Crédito das fotografias: Laila Guilherme

Saiba mais:

Agradecimentos: Laila Guilherme

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13 respostas

  1. Lamentável o destino do bonde, aliás, lamentável o destino do Memorial do Imigrante como um todo, há algum tempo encontra-se fechado para uma possível “reforma” e sabe-se Deus o que irão fazer no local.

    O fato é que até 2 anos atrás quando visitei o memorial pela última vez, o mesmo estava em perfeito estado, sem necessidade de restauro nos prédios, o museu estava com seu acervo muito bem tratado, havia guias e muita organização. Sinceramente não sei o que inventaram de mexer com o que tá quieto.

    A ABPF realiza um trabalho muito importante restaurando material ferroviário, ela é a entidade que mantém o trem dos Imigrantes que continua em operação mesmo com o fechamento do Memorial. Meu temor é que com essa tal obra do memorial, ocorra diminuição do interesse da população e além do bonde possamos perder o passeio de Maria Fumaça.

    Parabéns pelo trabalho!

  2. Que bom! Isso é ótimo! Pelo menos AQUI em Santos ele voltará a andar com suas características originais. Ele irá fazer 100 anos ano que vem e isso não poderia ficar assim. Acho que o passeio de bonde no memorial tem que ser retomado só que de outro jeito, como por exemplo extender o passeio até o centro e com veículos de São Paulo mesmo, pois ainda existem muitos bondes no Brasil ex-SP.

  3. O Museu da Imigração, pra quem não sabe, está sendo reformado pelo “Instituto da Arte do Futebol Brasileiro”, a mesma organização do Museu do Futebol. No site do memorial acho que tem o vídeo do projeto da reforma. Ou seja, eles estavam muito preocupados com os shows de luzes e projeções em telas pra se preocupar com o bonde…

  4. Desnecessario dizer que uma nação está fundamentada em seu passado de historias e bravuras. sempre que vejo algumas das reliquias de são paulo desaparecer, percebo que o futuro e a educação estão esvaindo pelo ralo da ignorancia, pois entra e sai secretarios nos governos paulista e vejo desleixo dos nossos matrimonios, é sem duvida o que vai acontecer com o bonde com o memorial com os casarões com as praças, com as ferrovias com as estações. Na verdade com tudo que poderia ser cultura.

  5. Está tudo sempre errado nesse Brasil no que se refere às funções públicas.
    É comum ver pessoas não qualificadas para a função que excercem, serem nomeadas como “cargo de confiança” ou até mesmo concursos públicos.
    Daí, vermos, com freqüência assustadora, o desmanche do patrimônio histórico brasileiro em nome da modernização urbana…
    Apagar, destruir os bens materiais e imateriais são formas de remover da memória brasileira, nossa jovem HISTÓRIA.

  6. Andei neste bonde e tenho fotos que mostram que ele estava bem cuidado. Será que o Museu do Imigrante passa por uma fase ruim?

  7. Pelo menos ele voltou para a casa dele.
    Pior somos nós, que ficamos a mingua e na companhia dos monstros do poder público que só se movem por interesses pessoais.
    Que Santos o tratem com o devido respeito, coisa que a capital não soube fazer.
    Nós incluso, pois agora que ele se foi, fazemos beicinho.
    Onde estávamos quando ele mais precisou de nós?

  8. Esse bonde já se encontra em Santos. Recebeu um ” trato ” e está operando como reboque de outros bondes, para aumentar a capacidade de passageiros nos passeios.

    Pude fotografa – lo neste sábado ( 28/05 ) e fiquei contente em vê – lo com uma sobrevida.

    Mas ainda ele está com um motor de Tempra ( motor de carro, movido a gasolina ) e ainda não recebeu ” novas instalações ” com motor elétrico para que ele possa rodar com ” as próprias pernas “, por que esse bonde pertence à ABPF – SP e está apenas sobre comodato na cidade de Santos.

    Antes de sair da frente do memorial do imigrante ( onde os mendigos dormiam nele ), esse bonde teve uma peça ( ou mais ) roubada, como um contador de passageiros.

    é admirável a atitude da prefeitura de Santos em preservar com tanta perseverança esse meio de transporte que já carregou tantos e que infelizmente, em metrópoles como São Paulo, perderam espaço para os barulhentos e poluentes ônibus.

  9. Lamentável!!! Como muito bem colocado por outros cidadãos, mais uma das reliquias de são paulo desaparece! Sou moradora da região e não sabia desse triste destino. Quanto a primeria imagem desta reportagem, posso afirmar que trata-se de descaso com o trecho que vai da R. Almeida Lima até a estação do metro Bresser-Mooca e que ficou submersa em 23jan2011.
    Diante dos fatos, me atrevo a dizer que existem interesses políticos e imobiliários para degradar / sucatear ainda mais este trecho para comprar os imóveis abaixo do valor real e verticalizar em nome da modernização urbana.

  10. adorei a visita que eu fiz no memoria do imigrante.
    a parte que eu mais gostei foi da maria fumaça.
    agora inventaram essa reforma espero que não mecha
    onde não deve espero que continuem a restauração dos trens eu adoro ver um trem antigo restaurado andando nos trilhos novamente para béns pelo seu trabalho cuidando da restauração dos trens.

  11. Gente, saiu hj na imprensa, parte de documentos do memorial do Imigrante, que estavam em poder do Arquivo do estado, se perdeu… houve 2 incêndios lá e documentos foram perdidos…. Vejam só:
    http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,incendio-danifica-acervo-do-arquivo-do-estado-,846794,0.htm

    Incêndio danifica acervo do Arquivo do Estado

    Guardião da memória paulista completou 120 anos em meio a uma obra que se arrasta há 2 anos e queixas de funcionários com relação ao descaso

    EDISON VEIGA , RODRIGO BURGARELLI – O Estado de S.Paulo

    Mais importante guardião da memória paulista, o Arquivo Público do Estado de São Paulo completou 120 anos neste sábado sem muito para comemorar. Em meio a uma obra que se arrasta por mais de 2 anos, ao custo de R$ 84,7 milhões e com atraso de pelo menos 7 meses no cronograma, funcionários relatam descaso com o acervo e pelo menos dois incêndios recentes.

    No segundo caso, ocorrido em 18 de fevereiro, teriam sido afetadas quatro estantes, com danos a documentos, incluindo exemplares de jornais antigos e cadastros de famílias do acervo do Memorial do Imigrante. Entre os jornais perdidos estão exemplares do extinto periódico O Paiz, que circulou até as primeiras décadas do século 20, e números do Diário Oficial do Estado das décadas de 1910 e 1950. “O que é muito grave, uma vez que o Arquivo é o depositário oficial dessa publicação do governo”, lembra um dos funcionários ouvidos pela reportagem, que não quis ser identificado. Já os documentos referentes aos imigrantes estão sob a custódia temporária da instituição desde 2010, quando o Memorial do Imigrante foi fechado para reforma.

    Sem registro.

    Apesar do dano ocorrido com o incêndio, a ocorrência não foi registrada na polícia. O registro é necessário para que uma perícia oficial seja feita, para identificar as causas do incêndio, se houve omissão ou dolo e quais os responsáveis pelo acontecimento. “Era Diário Oficial velho e não se julgou necessário chamar a polícia”, diz o coordenador do Arquivo, Carlos Bacellar. “Abrimos uma sindicância interna para apurar o caso.”

    O material danificado estava em quatro estantes, de cinco prateleiras cada. No total, foram queimados de 15 a 20 metros lineares de documentos. De acordo com servidores ouvidos pelo Estado, a orientação da direção foi para abafar o caso. “A diretoria diz que se um bombeiro entrar aqui vai precisar interditar a obra. E não querem isso”, afirma um dos funcionários.

    O descontentamento de grande parte dos 232 funcionários – entre diretos, terceirizados, estagiários e parceiros – do Arquivo com a obra é anterior a esses problemas, como mostra uma carta interna assinada por servidores, datada de 2 de fevereiro, a qual o Estado teve acesso. Como a obra pressupõe uma mudança física do acervo, em novembro do ano passado a diretoria e os funcionários se reuniram e foi lançada a proposta de que os próprios servidores realizassem o empacotamento e a transferência do material.

    Pragas
    Entretanto, conforme a carta, as condições de trabalho e o próprio zelo com que esses documentos históricos vinham sendo armazenados durante a reforma impossibilitaram um bom trabalho. “Para se ter uma ideia, com as interferências no solo por causa da obra, pragas urbanas como ratos e baratas passaram a aparecer dentro do prédio. Isso é um perigo, quando falamos de documentos de papel”, relata uma funcionária. “Bicho tem em qualquer lugar, até na minha casa”, defende-se Bacellar.

    A carta afirma ainda que os servidores foram expostos a condições de “elevado grau de insalubridade e periculosidade”, com “desconhecimento dos cronogramas”, e cita inúmeros “exemplos de riscos”, como “fiações expostas e próximas de fontes de água, inexistência de saídas de emergência, banheiros indisponíveis (entupidos, com queda de gesso do teto, sem papel higiênico, com vazamentos e com falta de água encanada periodicamente), exposição constante e inadvertida a faíscas de soldas elétricas, gases tóxicos, poeira excessiva, escadas sem corrimão, queda de material de construção”.

    Preocupação
    Quanto ao acervo, as queixas vão além. “A embalagem dos documentos exige um condicionamento físico e um conhecimento técnico de que (os funcionários) não dispõem”, prossegue a carta. “Não houve nenhum treinamento nesse sentido, o que pode causar danos ao acervo. A embalagem está sendo realizada sem nenhuma avaliação prévia dos possíveis riscos a que a documentação estaria exposta. A falta de planejamento tem feito com que permaneça embalada por tempo indeterminado, o que poderá prejudicar a sua integridade física.”

    ABSURDO O QUE SE FAZ NESSE PAÍS QUANTO A CULTURA!

  12. Douglas, sei que a matéria é de outrora,mas, acho pertinente e atemporal por que essa situação de abandono, levará São Paulo para qual buraco? Estou cansada de ver essa cidade mutilada! Cansada de ver nosso patrimônio sendo destruído pelos próprios habitantes da cidade. Não ACREDITO em nada que venha do governo e acho mais nobre que as pessoas se unam para que essa cidade seja reerguida. O bonde que poderia circular pelas nossas ruas, você vê, estava em frente ao museu da imigração que pouco se lixou em preservá-lo, teve de ir para outra cidade com menos recursos afim de ser preservado. A gente sabe que a sociedade é líquida, vive de modismos, o passado não importa, a história e a razão de ser para apostar num presente melhor foram lançadas ao vento. Parabéns pelas matérias!

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