Uma viagem por Paranapiacaba em 1984

Que o Brasil não dá muita atenção ao seu patrimônio histórico isso não é nenhuma novidade. Basta um giro pelas principais cidades brasileiras para observar que há muitas mazelas e descaso com muitas das construções históricas do país, e boa parte delas não são pertencentes à iniciativa privada, mas sim ao próprio poder público.

Crédito: Erta Tamberg / São Paulo Antiga (clique para ampliar).
Crédito: Erta Tamberg / São Paulo Antiga (clique para ampliar).

O distrito de Paranapiacaba, talvez seja o maior exemplo de incompetência e ignorância do poder público ante ao patrimônio histórico em São Paulo senão no Brasil todo. Uma vila histórica, em plena Serra do Mar, que poderia ser o grande atrativo de Santo André, que não é uma cidade frequentada por turistas, e com isso atrair não só a frequentação turística como também aumentar a arrecadação do município.

Entretanto a cegueira das autoridades locais e a falta de colaboração da MRS Logística não conseguem dar uma destinação digna ao seu maior tesouro, que é a Vila de Paranapiacaba que, vejam bem, foi comprada da RFFSA por Santo André em 2002 por R$2.1 milhões. A compra da vila foi o último ato do então Prefeito Celso Daniel, que seria sequestrado horas depois.

Vista parcial da cidade em 1984 (clique para ampliar).
Vista parcial da vila em 1984 (clique para ampliar).

Desde a compra, pouco foi feito pela preservação da vila que vive entre um impasse entre a prefeitura de Santo André e a MRS Logística que não chegam a um acordo que possa permitir a preservação e recuperação do lugar.

Para tentar reverter esta situação de uma vez por todas, o juiz substituto da 1ª Vara Federal de Santo André, Paulo Bueno de Azevedo, deu prazo de 180 dias para que município e a União apresentem projeto visando à recuperação dos bens de valor histórico, artístico e cultural da Vila da Paranapiacaba. Este projeto deverá abordar o que será restaurado e o prazo previsto para a recuperação.

Vista parcial da cidade (clique na foto para ampliar).
Uma das ladeiras da vila (clique na foto para ampliar).

O IPHAN, órgão federal de defesa do patrimônio histórico e artístico, já confirmou a inclusão da vila no PAC Cidades Históricas. Na medida, o juiz ainda determinou à MRS Logística, concessionária do trecho da ferrovia, que apresente relação dos bens que se encontram na área da concessão, especificando medidas de proteção, principalmente em relação à Torre do Relógio, um dos pontos mais emblemáticos da vila.

O abandono não é de hoje:

O descaso com a histórica Vila de Paranapiacaba não é algo recente. O despreparo para lidar com uma parte da importante história paulista e também do Brasil vem de muito antes, quando a vila ainda pertencia a RFFSA.

Para mostrar um pouco do descaso que atravessa décadas, todas as fotografias que ilustram este artigo são de 1984 e foram tiradas por Erta Tamberg e algumas por sua irmã Ellen Tamberg, em uma visita que fizeram ao local naquele ano. É possível notar que já haviam locomotivas estragando a céu aberto, casas abandonadas e galpões destelhados. Confiram as fotografias:

Crédito: Erta Tamberg / São Paulo Antiga
Crédito: Erta Tamberg / São Paulo Antiga
Crédito: Erta Tamberg / São Paulo Antiga

Veja mais 30 fotografias de 1984 da Vila de Paranapiacaba (clique na foto para ampliar):
Crédito e agradecimentos: Erta Tamberg

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30 respostas

  1. Douglas, em 1985 uma parceria entre o Governo do Estado e a Escola Panamericana de Arte, levou dezenas de alunos de pintura e fotografia para passarem um domingo em Paranapiacaba. A Cidade foi retratada em centenas de fotos e pinturas a óleo. O resultado disso foi uma exposição na Rua São Bento ( Não lembro o nome da Secretaria que promoveu a exposição, acho que hoje seria a de Turismo) que foi muito pouco divulgada na época, praticamente somente as pessoas que participaram e seus amigos e familiares compareceram. Provavelmente, todo esse material ou foi destruído ou esta perdido em algum porão de nossos competentes e interessados Orgãos Públicos.

    Sei desse fato, porque fui um dos participantes do trabalho.

  2. Eu nasci nesta vila em 1956 morei lá até 1961, mas convivi com a vila por mais 8 anos, tinha parentes morando lá e ia praticamente todo final de semana nas casas de meus tios, tenho lembranças muito boas do convívio familiar das pessoas desta vila, coisa que não existe mais nos dias de hoje.
    Infelizmente o texto acima esta corretíssimo, é uma vergonha o abandono que fazem de um patrimônio histórico desta grandeza.
    Parabéns pela matéria.

  3. É um dos lugares mais emblemáticos que já conheci. Nem parece que estamos no Brasil. Vale a pena tb ver as cremalheiras e todo o sistema de engates dos trens para descera Serra do Mar! Só quem teve a oportunidade de fazer essa viajem sabe como é linda! Não seria uma maravilha de roteiro turístico tão lindo e tão pertinho de nós? É mesmo uma pena que esses lugares e tantos outros n ão possam ficar preservados para as gerações que nos sucederão!

  4. É o Lugar mais lindo e mágico que conheci até hoje!!! é realmente lamentavel esse abandono…Amo Paranapiacaba mais que qq outro lugar …..

  5. Desde o ensaio fotográfico até os dias atuais, muita coisa mudou: e não foi para pior!
    Sugiro que visitem e constatem. Até um rápido passeio pelo Google Street View promoverá uma mudança de conceito, embora ainda assim bem abaixo da grandeza e valor arquitetônico do local.

  6. Eu nasci em Paranapiacaba e morei la ate outubro de 1977, E uma pena do jeito que esta agora!!

  7. Lindo pedaço quase esquecido, de um Estado que precisa parar de pensar que evoluir seja andar para o lado, e sim fazer realmente o que precisa ser feito – e também lembrado e mantido.

    Vou confessar somente uma coisa: vendo essas fotos o abandono não era novidade(afinal essas locomotivas que apodreceram, não foram deste ano das fotos até hoje, mas sim um sucateamento muitíssimo mais antigo) mas aparentavam estar ainda piores do que hoje, que na última visita que fiz a Paranapiacaba notei algumas casas melhor mantidas, e outras construções sendo restauradas pela prefeitura.

    É uma pena que falte visão, mas em uma cidade que não tem como foco o turismo, creio ser difícil de justificar para a maioria a importância disto, mas acredito que nos últimos anos a cidade de Santo André evoluiu(independente de partidos!) e nisso também Paranapiacaba.

    Espero que as iniciativas de manter e restaurar sejam em muito ampliadas, e que esta linda vila ainda seja referência para todo nosso país, que precisa de reforço no quesito memória.

  8. Não foi feito o Trem Turístico em SP que parte da Estação da Luz até Paranapiacaba? Imagine o quanto seria fantástico se fosse incluído a descida até Santos! Paisagem maravilhosa e com certeza muitos turistas e inclusive eu contemplaria. Mas infelizmente as autoridades não estão interessadas nisso, muito menos a MRS.

  9. O ano passado fotografei Paranapiacaba com amigos e confesso que fiquei muito triste com o que vi… não vi nada de melhorias, ao contrario, tinha casas que estavam totalmente deterioradas, e a ponte de ferro estava bem prejudicada. Fora isso, ao conversar com uma jovem que visitava parentes que ainda moravam na vila, esta me comentou que muitos moradores no local são dependentes de álcool e crack. Sinceramente, amaria fazer algum trabalho sociocultural no local… Queria muito desenvolver algo artístico mas que, ao mesmo tempo, desse oportunidade dessas pessoas se envolverem e valorizarem a sua própria memória, e a memoria deste local maravilhoso e encantador….

    1. Fabricia, bom dia!!

      Caso consiga alguma coisa com trabalho social em Paranapiacaba, me avise. Adoraria fazer algo assim no local.
      Paranapiacaba é um lugar “magico” e muito importante para nossa historia e cultura, alem de lindo!!
      Com certeza, seria muito gratificante ajudar essa vila a se “reconstruir”

      meu e-mail: liligallobrotas@yahoo.com.br

      Bju

      Eliana

  10. Paranapiacaba tem muita história, antigamente tinha um SENAI e conheci pessoas que estudaram lá. quando eu ia para Santos nos anos 80, o trem fazia uma parada nessa cidade onde tinha muitos ambulantes vendendo o que comer, pois a descida demorava, era 1 vagão por vez, a viagem era maravilhosa. Estudei em Mauá e tinha muitos jovens que moravam em Paranapiacaba e estudavam em Mauá. Saudades. Tudo se perde, até a identidade desta maravilhosa cidade. Ainda bem que continua existindo o Festival de Inverno para tentar mostrar algo bom e chamar um pouco de turistas.

  11. Um lugar de diversas memórias, lembranças de fotografias de um grande amor. Paranapiacaba é pura nostalgia e, para um apaixonado por fotografias, mais emblemático ainda.

  12. Ficou muito legal Douglas! Até onde sei, a Vila de Paranapiacaba é a única, fora da Inglaterra, que ainda preserva a arquitetura londrina.

  13. infelizmente o brasil não valoriza a sua historia,dinheiro que foi gasto, lembranças perdidas. já fala um grande homem da historia: pena que são poucas as pessoas que lutam por isto. a nossa cultura e muito individualista. não ha mais o pensamento coletivo.

    “PAIS QUE QUE NÃO CONHECE O SEU PASSADO ESTA FADADO A REPETIR OS MESMOS ERROS ”

    fico o meu abraço a todos . att renato a. gomes

  14. dizem que ha também todo um misterio envolto nessa localidade, populares que alegam haver assombrações, principalmente nos tuneis abandonados, onde ha quem diga que enterravam os mortos exauridos do serviço arduo de escavar a rocha para fazer os tuneis e ate mesmo os escravos ainda vivos, apos o fim dos trabalhos.. Se são fatos veridicos? Não posso afirmar, apenas vi isso numa materia a respeito deste local e de fato me aguçou a curiosidade.

  15. Parabéns…Eu nasci nesta vila na Rua Direita, em 1936… morei lá até 1.942. Quantas lembranças do meu tempo de criança, quantas vezes atravessei os trihos para ir na casa dos meus primos e cortar caminho…

    1. Oi,Maria
      Talvez voce tenha conhecido minha mãe e meus tios,que moravam por lá nesta época tambem.Minha mãe se chamava Carolina(Nina),meus tios se chamavam Laura e Armando e tambem tinha meu avô,que trabalhava na estrada de ferro e se chamava Pedro.
      um abraço

  16. quando garoto desci a serra ate cubatão e foi uma das viagens mais magicas que fiz na vida .passamos boa parte do dia na vila inglesa depois descemos.tive de volta a vila a uns dois anos atrás , percebi o descaso que as autoridades tiveram com essa vila que de certa forma me fez alhar melhor para a natureza e para a preservaçao de nossa historia.Ao menos poderiam voltar com linha luz/paranapiacaba para passeios de trem.É pena.

  17. Engraçado notar que mesmo mais ‘depredada” em 1984, a vila estava mais “conservada” na sua originalidade. Hoje a vila foi embelezada, mas perdeu muito de sua originalidade. Em 1984, todos que vivam ali ainda eram descendentes dos ferroviários ou mesmo trabalhavam para a RFFSA.

  18. Amei a matéria e as fotos. quando criança eu ia passear com minha família em Paranapiacaba. Vale muito a pena, assim como fazer o passeio de trem na Serra de Santos, que adorei. E no Paraná, visitar a Serra da Graciosa, que também realiza o passeio por via férrea. Fico muito feliz que desistiram da nefasta ideia de fazer um “porto seco” em Paranapiacaba, o que estragaria com a mágica do local. Demais notar a presença dos ingleses em nosso estado de São Paulo, tenho antigas ligações com esse povo.

  19. Eu fui conhecer Paranapiacaba agora em fevereiro de 2024 e adorei o lugar. Está melhor do que nas fotos retratadas em 1984 mas ainda há muito a fazer. O turismo precisa ser incentivado, aos sábados e domingos o local é cheio de gente e alguns festivais durante o ano também são feito. Precisaria ser feita a reforma do patrimônio ferroviário, a oficina está toda sucateada e aberta a visitas, há muitos locais de trilhas mas não muito exploradas e o principal seria reativar alguma linha férrea (o trem turístico é caro e só atende poucas estações) que saísse de SP e passando por Paranapiacaba fosse até Santos. O local tem muito potencial para crescer nesse sentido, as pessoas que moram lá podem dar indicações valiosas do que poderia ser feito. Eu tive uma aula de história por lá visitando os museus que contam com guias e conversando as pessoas que moram lá, inclusive, é quando ficamos sabendo dos problemas que ainda persistem por incompetência do sistema público e disputas com as empresas de transporte de carga. Vale visitar um dia desses para render uma boa pesquisa.

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