A luta pelo restauro da Igreja de Santa Ifigênia

O que significa celebrar 200 anos em uma cidade em constante desenvolvimento? Uma cidade onde casarões antigos e históricos são demolidos para dar lugares a estacionamentos e edifícios. Enfim, a cidade cresce e cada vez mais empresários sentem a necessidade de demolir, de não querer preservar sua história.

Igreja de Santa Ifigênia na década de 1920

O PASSADO:

Há 200 anos o mundo passava por grandes transformações.A então recente Revolução Francesa alterou o quadro social do mundo e a Família Real Portuguesa desembarcava no Brasil fugindo das tropas napoleônicas mudando definitivamente o cotidiano do Brasil, uma vez que a capital de Portugal foi transferida para nossas terras.

Por volta de 1720, na pacata São Paulo, existia a Capela de Nossa Senhora da Conceição localizada no alto de um morro no Vale do Anhangabaú. Esta igreja foi demolida e outra foi concluída em 1795.

Em 1801, ainda em Portugal, D. João IV Príncipe Regente, determinou que as Irmandades de Santa Ifigênia e Santo Elesbão se estabelecessem na igreja. Essas irmandades eram destinadas aos negros e escravos alforriados e, conseqüentemente, a igreja mudou de nome para atender a este grupo social. Nascia assim a Igreja de Santa Ifigênia.

Esta igreja colonial paulista foi construída em taipa de pilão, uma técnica milenar que consiste em socar o barro com golpes de pilão dentro de uma forma. A antiga Igreja de Santa Ifigênia possuía paredes com cerca de 90 cm a 1,5m. de largura.

Existe uma grande diferença entre o antigo e o velho. Podemos considerar o antigo como conservado, que é conhecido desde longo tempo e que possui identidade cultural. O velho é ultrapassado, descartável. Também pode possuir identidade cultural, mas a nossa cidade contempla mais o novo do que o antigo.

Esta igreja, velha sob os olhos da cúria diocesana, foi demolida no início do século XX. Em 1904 a atual igreja começou a ser construída e inaugurada em 1909, ainda inacabada.

De 1930 a 1954 a Igreja de Santa Ifigênia serviu de catedral, pois na agitada São Paulo a “velha” Igreja da Sé estava sendo demolida, dando lugar à opulenta Catedral da Sé que hoje conhecemos.

Com um rico acervo artístico, a Igreja de Santa Ifigênia é um marco na história de São Paulo, uma cidade que, aos poucos, está deixando de existir.  A Igreja possui obras dos renomados pintores Benedito Calixto (1853 – 1927), do pintor italiano e naturalizado brasileiro Carlos Oswald (1882 – 1971) e do também italiano Gino Catani (1879 – 1944). Sua arquitetura é neo-românica com detalhes neogóticos, inspiração em igrejas medievais. Esta manifestação arquitetônica apresenta-se em outras igrejas de São Paulo como a Igreja da Consolação (que possui obras do pintor Oscar Pereira Silva) e a Catedral da Sé.

A igreja de Santa Ifigênia em 2018

O PRESENTE:

Depois de 200 anos da primeira demolição, a edificação presente hoje agoniza a espera de um passo: a restauração. A carência de recursos para manter a estrutura da igreja nas condições ideais faz com que inúmeros pontos da construção apresentem sinais de profundo desgaste. Vitrais precisando de pequenos reparos, o magnífico órgão tomado por cupins, problemas de infiltrações danificando as pinturas de Benedito Calixto são apenas alguns dos problemas que a igreja de Santa Ifigênia vem enfrentando.

À espera de  um patrocinador para bancar o restauro, a igreja encaminha-se às leis de incentivo do governo.  É provavelmente o único meio da igreja preservar-se uma vez que os dízimos, numa paróquia hoje frequentada principalmente por pessoas  de baixa renda, são muito pequenos para reformas de tão largo espectro. A Igreja de Santa Ifigênia foi tombada em 1992.

UMA INICIATIVA LOUVÁVEL:

Pensando na melhor maneira de poder auxiliar a Igreja de Santa Ifigênia a Sra Maria Zélia Wolff, participante ativa da paróquia, decidiu arregaçar as mangas e sair em socorro deste importante templo religioso paulistano. Ela organizou no último dia 31 de maio o Concerto Musical Beneficente, na própria igreja, para iniciar a captação de recursos em prol de obras de restauro da igreja.

O evento contou com a presença de inúmeros músicos e artistas amigos de Maria Zélia como barítonos, sopranos, mezzo soprano, um poeta, pianista entre outros. O valor do ingresso foi de R$10,00 e contou com a igreja praticamente lotada.

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16 respostas

  1. Glaucia, ótima matéria.
    Sempre tive vontade de conhecer esta Igreja internamente. E Acredite, nunca reparei nas marcas de tiro da fachada.

    Abraços

  2. Eu amo a Igreja de santa Ifigênia . conheço desde 1.990 . Foi por intermédio de minha tia . E passei a frequentar por muito tempo.
    Esta Igreja de Santa Ifigênia,é linda ,! maravilhosa!… , está precisando de reparos, para ficar mais linda ainda do que já é!
    Cilene

    1. tenho sessenta e sete anos, conheço a igreja de Santa Efigênia desde meus dez anos.
      Minha tia avó, Lázara Assis de Toledo, foi ministra da Eucaristia por muitos e muitos anos, meus filhos foram batizados ai pelo padre José Carlos de Macedo.
      Eu fiz minha primeira comunhão nessa igreja, cantei seis anos no coral com o maestro Moisés e antes dele era Dona Dalva
      Conheci
      Padre Primo Mason, padre Lourenço, padre Paulo Homero e Padre Ivênio, que na época eram meninos.
      Por isso te digo, amo essa igreja de todo meu coração.

      1. Desculpem-me .
        Padre Joviano e não Ivenio, por sinal fiquei muito triste pelo seu falecimento, conheci também padre Antonio Fusari que cantou a Ave Maria no casamento de minha irmã.
        Vejam quantas coisas vivenciei nesta igreja, se for enumerar tudo aqui, passo o resto do ano escrevendo, são muitas as lembranças!
        Que Deus abençoe a todos.

  3. Conforme dito, nesta igreja existe adoração perpétua ao Sssmo. Sacramento, ou seja, Ele permanece exposto continuamente todos os dias, sendo retirado apenas durante a noite, assim até meados dos anos 60 essa igreja possuia um lindíssimo altar destinado a este fim, destinado a como que emoldurar o Sssmo. Sacramento que desde aquele tempo permanecia continuamente exposto. Sempre tive curiosidade em saber como era este altar que infelizmente foi demolido e no seu lugar colocado este pedaço do órgão de tubos, mas no entanto mesmo após grande procura pela internet nunca encontrei fotos suas, seria interessante se este tão voloroso site conseguisse alguma foto – certamente na Cúria Arquidiocesana existem fotos. Muito obrigado!

  4. EU COMO ARTÍSTA PLÁSTICA,CANTORA E APRESENTADORA,CONTRIBUO TODOS OS ANOS,COM A IGREJA DE SANTA IFIGÊNIA. ESTE ANO, ALÉM DE CANTAR E APRESENTAR OUTROS ARTÍSTAS,TAMBÉM DOEI DUAS TELAS DE MINHA AUTORIA
    PARA O LEILÃO,ONDE FOI ARRECADADOS 520,00 C/MINHAS TELAS. HOJE VIVO EM MINAS GERAIS,MAS NÃO IMPORTA A DISTÂNCIA,TODOS OS ANOS,O DIAS 21,22 E 23 DE SETEMBRO,ESTÃO RESERVADOS PARA S.IFIGÊNIA. VAMOS TODOS NOS UNIR EM PROL DA PARÓQUIA DE SANTA IFIGÊNIA,ELA MERECE…
    NANCI PORTELA

  5. Linda reportagem!

    Gostaria de saber como conseguir pesquisar os registros de batismo e casamento da Igreja antiga.Meu tetravô,Hermann Bastide,batizou e casou suas filhas na antiga Igreja.

    1. Acredito que é só se dirigir à sacristia da Igreja durante o dia e solicitar os registros.

  6. Nesta iglêja fui Batisado e fui coroinhala pelos anos de 1950 a 1952. tenho muita saudades daqueles tempo sou nacido na rua Vitoria onde Morei ate os anos1966.

  7. Recentemente eles conseguiram iniciar a restauração dessa belíssima igreja tendo como ponto de partida o Batistério, que já está pronto, além de outra capela lateral. Seria interessante a equipe o site retornar e fazer uma matéria sobre o que conseguiram recuperar, que não foi pouco: detalhes das pinturas murais que imaginei perdidos foram recuperados. Mais uma vez, parabéns pelo valoroso trabalho desenvolvido por este site.

  8. Parabéns, Douglas, pelo artigo e pelas fotos; que Nosso Senhor Jesus Cristo o abençoe com saúde e com a continuação do valoroso trabalho que realiza! Prossiga.

  9. Gostaria que recuperassem o órgão que está acima da entrada principal: o que se encontra no coro, junto ao altar, não é o original.

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