Casas – Rua Catalunha 327 e Rua Monte Verde 103

Uma das missões do São Paulo Antiga é visitar os bairros paulistanos mais diversos, periodicamente, com a finalidade de catalogar os imóveis e monumentos espalhados por toda a cidade. Fazemos isso com frequência semanal e regularmente voltamos aos locais que já fotografamos antes para verificar se os imóveis continuam por lá, se foram restaurados ou então demolidos.

clique na foto para ampliar

E recentemente, estivemos por algumas oportunidades no simpático bairro do Jaguaré com algumas fotografias de casas do bairro dos anos 1940, para conferir se estes antigos imóveis ainda estavam por lá ou não e se estavam preservados ou desfigurados.

E foi com a foto abaixo que conseguimos localizar a casa que ilustra o início deste artigo e também a residência vizinha. A imagem a seguir é de 1943:

Esquina das ruas Catalunha e Monte Verde em 1943 (clique para ampliar).

Inicialmente, não acreditávamos na possibilidade de encontrar nenhuma destas casas preservadas. As fotografias, inéditas, não tinham qualquer identificação sobre o local exato em que elas se encontravam no bairro do Jaguaré e, para piorar, as ruas não possuíam os nomes atuais à época em que a fotografia foi tirada.

Entretanto, encontrá-las foi surpreendentemente fácil. Estávamos ainda rumando para a nossa primeira etapa no bairro, o Mirante do Jaguaré, quando encontramos as antigas construções da fotografia. A da esquerda, na rua Catalunha absolutamente preservada e a da direita, na subida da rua Monte Verde, com algumas alterações mas preservando sua essência.

A fotografia atual tirada no mesmo local que em 1943 (clique para ampliar).

Ficamos muito felizes em saber que as casas estão preservadas, especialmente a casa da esquerda. O próximo passo era saber quem morava ali, já que a outra casa estava fechada com placa de aluga-se. Fomos até a porta, chamamos e fomos recebidos pela simpática proprietária, a senhora Miriam Carneiro, que nos convidou a entrar e conhecer o imóvel.

Conhecê-la por dentro foi um grande presente para nós que lutamos e defendemos o patrimônio histórico paulistano. A casa e muitas outras do bairro foram tombadas pelo CONPRESP em 2002, mas no primeiro passo que demos diante do imóvel percebemos que tratava-se de uma casa cuja família zelosa não esperou o tombamento chegar para preservar. A casa está absolutamente preservada não só por dentro como por fora, mantendo suas características originais da época em que o bairro foi projetado por Henrique Dumont Villares.

Miriam Carneiro e um de seus filhos diante na entrada do imóvel: Cidadãos exemplares.

E explorar a casa da rua Catalunha é como esmiuçar o projeto de Villares, da primeira metade do século. Uma casa simples, feita originalmente para trabalhadores do pólo industrial e comercial do Jaguaré, mas que tinha vários pequenos detalhes que a tornam exclusiva e charmosa.

Relevos suaves na parede, janelas que ventilam agradavelmente a casa o tempo todo e linhas sinuosas que decoram a entrada e laterais da fachada são detalhes exclusivos e símbolos de um tempo em que as casa não eram feitas em massa e que cada residência imprimia sua própria personalidade.

Outro grande diferencial da casa infelizmente se perdeu: a vista panorâmica. Até algumas décadas atrás a casa tinha uma vista espetacular de parte da zona oeste da cidade, onde era possível contemplar da varanda, a Vila Leopoldina, o Rio Pinheiros, a velha fábrica das Canetas Bic e até o ramal ferroviário que chegava às empresas do Jaguaré. O crescimento desordenado do bairro mais recentemente acabou com boa parte desta vista, como mostra a foto a seguir:

Sai a vista panorâmica e entra a poluição visual (clique para ampliar).

Enfim, uma relíquia do passado do Jaguaré e da Cidade de São Paulo absolutamente preservada e intacta. A única coisa que foi modificada do original é o muro, que foi adaptado para os tempos modernos, alto e com arame farpado. Mas reparando em algumas casas vizinhas da foto acima, observamos que esta casa ainda respira liberdade enquanto algumas outras parecem verdadeiros presídios de segurança máxima.

Que São Paulo tenha muitas outras pessoas como a senhora Miriam Carneiro, orgulhosa moradora de um bem preservado e que cujo lar é um pedaço da história de nossa São Paulo.

Confira a galeria de fotos desta casa (clique na miniatura para ampliar):

Atualização – Dezembro de 2018:

Seis anos após a nossa visita a casa encontra-se vazia e com placa de venda. Infelizmente não conseguimos até agora nenhuma informação sobre o paradeiro dos antigos moradores, que entrevistamos em 2012. O que sabemos até o momento é que além da casa ter sido colocada à venda é que ela recebeu uma pintura.

A foto abaixo mostra o local em meados de 2017, extraída do Google Street View:

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24 respostas

  1. Adorei a foto de 1943, saudades de um tempo que não vivi, mas com certeza deveria ser melhor…sem muitos vizinhos, sem barulho, e sem poluição.

    Viva a paz, poder contemplar sem limites..divino.

    Realmente, a casa ainda respira liberdade…

  2. Ótimo contraste entre as duas imagens. Adorei a matéria, amo este bairro, assim como toda a Zona Oeste, que talvez seja a zona de história menos conhecida da cidade.

  3. Excelente achado, esse é um exemplo que é possível conservar as antigas residências dentro dos padrões originais. A propósito, sugiro uma visita à Cidade Monções no Brooklin, há muitas casas que ainda conservam o estilo original dos anos 40 qd foram construídas por Artacho Jurado.

    Parabéns pelo trabalho.

    Corey

  4. Nossa nem parece a mesma casa quanta diferença na rua,já pensaram quanta coisa essa senhora viveu nessa casa.Vcs estão cada vez melhores.

  5. gostei de ver como a árvore da esquina cresceu, na foto de 1943 era praticamente uma muda, ficou linda!

  6. Mto boa matéria!! Adorei ver as fotos da casa, antes e agora! É sempre bom saber das histórias dessas casas antigas…rs

  7. Muito legal essa matéria. Faz tempo que eu procurava por aqui matérias de imóveis preservados mas com esse diferencial: o dono convida para entrar. Parabéns!

  8. Eu tenho a impressão que essa é a casa que eu nasci, pela localização,, a casa da Rua Catalunha, do lado parece ser a casa que pertenceu a minha tia. (meados de 1950), muita saudade da minha infância.

  9. Muito legal, Minha família teve uma casa, meu avo na verdade na Rua Catalunha, 513, de costas e descendo a rua da foto em preto e branco, meu vo trabalhou na construção da casa quando tinha 17 anos, na verdade uma série de casas que tem na mesma rua, construidas pela familia Matarazzo, a qual meu vo trabalhou com eles, e futuramente veio a comprar uma destas casas, bonitas, no alto, com arcos e detalhes nas portas e janelas, jardim na frente, meu avo a conservava quase que original, era muito elogiado pelos vizinhos, mais infelizmente ele faleceu, a casa foi vendida, e no momento nada de original, que pena, vou tentar encontrar fotos e enviar…..

  10. Pelo que observei no Google Street View em julho de 2017, a linda casa da senhora Miriam Carneiro, encontra-se fechada, foi pintada e colocada à venda, isso procede ?

    1. A casa está venda sim
      Mas a d.Miriam ainda mora lá.
      Os filhos e a filha estão constantemente com ela..

  11. Parabens, d.Miriam por preservar a história da nossa rua.
    Parabéns as pessoas que fazem este trabalho tão lindo pelos nossos bairros de S.Paulo.

  12. Douglas, tudo bem?
    Primeiramente gostaria de elogiar seu trabalho, é muito legal encontrar pessoas que se interessam e vão atrás da história dos antigos bairros de São Paulo, muitas vezes esquecidos por nós nos dias de hoje.
    Sou estudante de arquitetura do 9° semestre e para meu trabalho de conclusão de curso estou realizando uma pesquisa sobre a antiga ponte do Jaguaré e gostaria de saber se uma de suas idas à casa dessas famílias ou em suas pesquisas há algum material sobre ela.

  13. Que documentário exemplar.
    Em 1995 a 2000 está cá de esquina era abandonada.
    Eu e meus amigos chamava de casa assombrada .
    Sempre estávamos brincando no quintal desta casa e olhando para dentro da casa imaginando coisas

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