Sítio Mirim

A cidade de São Paulo é tão grande e diversificada que é possível encontrar curiosas surpresas em todos os seus bairros. E, ao contrário do que muita gente pensa, nem sempre os fatores históricos mais curiosos estão na região central da cidade. A periferia sempre revela gratas surpresas. É o caso do Sítio Mirim, uma relíquia do século XVII que infelizmente agoniza cada vez mais a cada dia que passa.

O que resta desta preciosidade, são fragmentos de uma casa construída em taipa de pilão que está localizada ao lado da linha ferroviária da CPTM, em uma área que hoje é uma praça pública na avenida Assis Ribeiro, em São Miguel Paulista.

Construída à época em uma localização privilegiada, no passado permitia a seu morador uma vista não só de toda a várzea do rio Tietê como de boa parte de São Paulo e também a então Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, atual cidade de Guarulhos.

Seu morador mais conhecido e provável construtor foi o guarda-mór Francisco de Godoy Preto por volta de 1750. Porém, alguns historiadores afirmam que pelo estilo da construção a casa seja ainda mais antiga. Em 1964, iniciou-se uma série de estudos sobre a história do local que ocasionaria pouco tempo depois na desapropriação da área e, finalmente, em 1973 seu tombamento como patrimônio histórico.

No entanto, nestes quase 40 anos de tombamento pouco foi feito pela conservação do local e a cada ano que passa há menos o que se preservar. O telhado da construção não resistiu ao tempo e caiu há muitos anos, e algumas das paredes também já desabaram mesmo tendo cada uma delas cerca de 50cm de espessura.

Atualmente existem rachaduras que se não tratadas poderão fazer com que outra partes venham a cair, além disso atos de vandalismo já arrancaram pedaços da obra, há pichações em algumas das paredes e não é raro o local estar com acúmulo de lixo. A ausência de uma placa de identificação no local e a falta de simples iluminação noturna nas ruínas não só contribui para a depredação e esquecimento do sítio como priva os moradores da região de saber um pouco mais sobre a história de seu bairro.

O Sítio Mirim em 1945, quando ainda não estava em ruínas (clique para ampliar).
O Sítio Mirim em 1945, quando ainda não estava em ruínas (clique para ampliar).

A preservação do local está paralisada principalmente devido a uma discussão, em esfera judicial, onde um lado defende a restauração do sítio e do outro a preservação das ruínas históricas. Existe até um inquérito civil público sobre o caso . Enquanto a questão não se resolve o local continua se deteriorando cada vez mais.

O São Paulo Antiga é favorável a preservação das ruínas tal qual elas se encontram e não é contrário a reconstrução da antiga casa. Da mesma maneira que não se reconstrói as ruínas romanas e gregas acreditamos que o sítio deva ser preservado e seu entorno, este sim, recuperado.

A negligência do poder público em relação ao patrimônio histórico paulistano é recorrente e mais grave em casos onde estes objetos passíveis de recuperação estão afastados do grande centro. Está na hora de recuperar o Sítio Mirim e seus mais de 250 anos de história.

Confira outras fotos do Sítio Mirim (clique na miniatura para ampliar):

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11 respostas

  1. Acho até que deveria ser feito um estudo mais aprofundado no local, quem sabe até escavações ou algo assim para se saber um pouco mais sobre a historia do local.

  2. No extremo da zona leste, existe uma fazenda que deu inicio a um bairro: o Itaim Paulista, ainda existe muito o que se ver na Fazenda Biacica. Gostaria que vcs fizessem uma materia a respeito. Poderiam fazer o mesmo com a fabrica da Nitro Quimica Brasileira, que impulsionou o desenvolvimento de São Miguel Paulista e chegou a ser a maior fabrica a America Latina, hoje ela ainda esta em funcionamento, mas parte foi abandonada e esta se deteriorando.

  3. Triste Brasil! Infeliz povo acrítico e sem memória histórica que despreza o seu passado, seus heróis e mitifica a mediocridade! Infelizmente não tenho muita esperança no futuro dessas ruínas.

  4. Douglas, quero deixar claro claro que adoro o site e considero um grande serviço para qualquer pessoa interessada por história de São Paulo, do Brasil, do mundo.

    Agora, há um problema bem grande nessa frase abaixo e explicarei o porquê:

    “O São Paulo Antiga é favorável a preservação das ruínas tal qual elas se encontram”

    Diferente das ruínas romanas/gregas citadas depois, as casas rurais paulistas (ou bandeiristas), não tem uma estrutura que resiste tão bem ao tempo. São de barro, não de pedra. Então assim que o telhado é removido, os entornos expostos, começa a contagem regressiva para as ruínas virarem pó. Nessa posição, de comunicador, jornalista, mediador de informação, pesquisador ou mesmo de entusiasta da preservação do patrimônio material histórico, acho importante defendermos a restauração e cuidado (muito) mais empenhado de nossos poderes públicos. Principalmente em bens tão “frágeis”.

    Forte abraço!

  5. A reconstrução seria mais interessante, como fizeram com a casa bandeirante na avenida Faria Lima

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