Sobrado do Coronel Carlos Teixeira de Carvalho (1884)

Um dos mais importantes imóveis residenciais antigos que sobrevive no centro de São Paulo, é também um grande exemplar de descaso com o patrimônio histórico paulistano.

O casarão em 01/12/2021 (clique para ampliar)

Tendo suas obras iniciadas em 1878 e sendo concluído em 1884, o sobrado do Coronel Carlos Teixeira de Carvalho é um dos principais exemplares de residências de alto padrão que ocupavam a capital paulista nos derradeiros anos do Brasil imperial.

Foto: Reprodução

Filho de imigrantes portugueses, o Coronel Carvalho foi além de próspero comerciante e político** uma pessoa muito influente em São Paulo em seu tempo.

Ao falecer, em 1930, deixou seus bens para sua única filha e herdeira, Marieta Teixeira de Carvalho.

Dona Marieta, como era mais conhecida junto à sociedade paulistana, residiu no imóvel durante toda sua vida. Ao falecer, em 1975, aos 92 anos, deixou o sobrado para a Ordem Beneditina, pois faleceu ainda solteira e não tinha herdeiros. No passado ela já tinha vendido parte do quintal ao Mosteiro de São Bento.

Tombado como patrimônio histórico pelo CONDEPHAAT desde 1981, este sobrado, além de belo, é muito representativo para a história da cidade, já que trouxe uma evolução na técnica construtiva de imóveis, sendo um dos primeiros a ser erguido com tijolos em São Paulo.

No final do século 19, a construção chamava atenção pela beleza de suas linhas e pela robustez da edificação. Atualmente, trata-se da última casa em taipa francesa que ainda existe na capital paulista.

Em 1887, uma pacata rua Florêncio de Abreu. Note o casarão à direita.

O tombamento, entretanto, num primeiro momento não ajudou o sobrado a escapar de um lento e contínuo processo de degradação.

Sem muito recursos para a tão esperada restauração e com projetos que surgiam e não eram levados adiante, o imóvel seguiu fechado por mais de duas décadas até 2005. Foi neste ano, através de uma lei de incentivo, que  o casarão começou finalmente a ser restaurado com o patrocínio da Petrobras.

Em 1954, a rua Florêncio de Abreu já estava completamente diferente.

A obra de restauro foi assinada por Affonso Risi Júnior e previa ser concluída em 2007, transformado o antigo casarão em um centro cultural ligado ao Mosteiro de São Bento. O espaço seria concebido para abrigar concertos, recitais e exposições.

Para reformar o porão, de modo que o local pudesse receber exposições, foi necessário fazer escavações para que a circulação fosse agradável, uma vez que o referido ambiente tinha cerca de um metro e meio de altura. O restauro do interior do casarão foi possível através do uso de fotografias, que permitiu aos restauradores uma visão do imóvel enquanto era ocupado pelos seus primeiros donos.

Entretanto, a obra ainda não foi concluída. Segundo foi possível apurar, o imóvel está parcialmente restaurado e sua conclusão não foi possível decido aos custos de recuperação, que acabaram sendo maiores do que a verba disponível.

O segundo piso ainda precisa ser recuperado e o exterior precisa de pintura e acabamento.

Abaixo, uma galeria com fotos internas do sobrado, datadas de 2011 (clique para ampliar):
Fotos: Cortesia de Bárbara Teles Domingues

A dificuldade do Mosteiro de São Bento em angariar recursos para finalizar a obra é compreensível. Entretanto é preciso apurar os motivos da verba liberada não ter sido suficiente para a conclusão do projeto.

A devolução do sobrado de Carlos Teixeira de Carvalho à sociedade paulistana, é o mínimo que podemos aceitar. Não podemos permitir que todo o dinheiro gasto até o momento seja em vão, deixando o casarão se deteriorar por completo novamente.

Na foto, um dos dormitórios originais do imóvel, entre o final do século 19 e início do século 20.
Na foto, um dos dormitórios originais do imóvel, entre o final do século 19 e início do século 20.

** Carlos Teixeira de Carvalho foi Senador do Congresso Legislativo do Estado de São Paulo por duas legislaturas (1891 e 1892 a 1894), sempre pelo PRP (Partido Republicano Paulista), tendo sido eleito na primeira vez com 25.508 votos e na segunda eleição com 12.353 votos.

Veja mais fotos do casarão (clique para ampliar):

Agradecimentos: Barbara Teles Domingues

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20 respostas

  1. Conheci o casarão, pois estudei eletronica na rua Florêncio de Abreu, 145, na saudosa Escola Aladim de Eletronica, que tbm tinha curso de enfermagem Humaita, no mesmo prédio. Isso foi em 1984, depois disto sei que até 1990 eles ainda estavam trabalhando lá, pois enviei uma carta e eles me responderam(na época ainda e-mail e celular era só um sonho). Fico feliz qdo se fala do Mosteiro de São Bento, Viaduto Santa Efigenia, Rua Florêncio de Abreu, tinha uma lanchonete bem na entrada da rua Florêncio, onde tinha uma vitrina de salgados que a gente parava pra tomar lanche, tinha esfiha fechada, esfiha aberta, kibe, coxinha… Era bom demais, eu era feliz e não sabia, apesar de ter so a grana do ônibus e do lanche.
    Pelo menos sei que um dia se eu voltar lá, vai ter algo daquele tempo preservado, pra poder matar a saudade.

  2. Fantástico !

    Um dos imóveis que não consigo passar na frente e não admirar por uns intantes. A rua Florêncio de Abreu tem vários deles.
    Muito boa esta reportagem. Parabéns !

  3. Não sei se neste caso é assim. Mas, no século XIX e início di século XX, a data de uma casa era a última coisa a ser fixada na fachada de uma casa como marco do témino de uma construção.
    Pode ser também que a data anterior faça referência ao projeto ou licença de construção. Ou então, refere-se á casa que existia no lugar, comprada pelo senador.
    Abração,

  4. O espólio de Dona Marieta Teixeira de Carvalho foi leiloado e continha valiosas peças de prataria, louças, cristais, jóias, mobiliário, etc. além de coleção de leques comemorativos com efígie de Dom Pedro. A casa de leilões se chamava “Páteo Leilões” e se situava na Avenida Angélica.

    1. Imagina a educação desta senhora, outros tempos, outra vida, outra época, muito interessante a História deste casarão, estive bem perto dele, mas não sabia de sua existência, e foi agora em julho de 2018.

  5. Tenho um Vintage/antiquario na Vila Leopoldina,Zona Oeste de SP.
    Gostaria de mudar par ao centro de SP.Pode ser num casarão alugado ou galpão ( salão comercial ) alugado.
    Como fazer para encontrar esse genero de imovel ?Achoo centro charmoso e dependente tb da iniciativa privada.
    Aguardo resposta
    gratao
    Léo Victor

  6. Pretendo visitar em breve o Mosteiro e descobri a existência desse casarão olhando num mapa. Não poderei deixar de passar em frente. Seria maravilhoso esse prédio restaurado e poder entrar nos espaços internos.

  7. Eu passei ontem em frente a esse casarão.
    O que me chamou atenção não foi necessariamente ele. Mas o tanto de lixo que havia na frente.
    Após investir alguns segundos ali, tentando entender aquela bagunça e sujeira, pude então perceber essa majestosa construção.
    Pela lateral onde funciona o estacionamento é possível desfrutar da tamanha beleza do imóvel.
    Na entrada do estacionamento existe uma pedra no chão, que possui dois espaços cavados para ajuda no alimentamento das carruagens ou carroças que ali entravam ou saiam.
    Tem a parte triste do imóvel, que possuí na parte de baixo uma senzala de escravos. Que pela data de 1878 deve ter tido ao menos 10 anos ali escravos vivendo em um espaço diminuto (Lei Áurea 1888). Uma época a não ser esquecida, pois não queremos cair em erros estúpidos como esse novamente. O impossível hoje em dia virou moda, até para o que não presta.
    Na parte externa também, existem postes que deveriam sustentar uma estrutura que já não está mais ali. Um tipo de jardim inglês, aqueles que são feitos com estrutura com ferro e vidro. No fundo possuí também uma laje, que está em péssimas condições.
    Com um jeitinho (trocando uma ideia com os funcionários do estacionamento) é possível entrar na parte de baixo onde fica essa senzala (não recomendo para quem tem problemas respiratórios). Existe muito entulho ali em baixo.
    Mas eu recomendo atenção a construção da fundação, toda feita em tijolos e fixados com barro.
    E o ponto principal, o assoalho do piso superior. Obviamente nessa época não se tinham ferramentas elétricas, então é possível ver toda a imperfeição da preparação das travessas que sustentam o piso. Ou das partes que a compõem. Até mesmo o uso de pequena chapas de madeira para nivelar o piso superior, ainda estão lá. Percebe-se o trabalho artesão de quem o fez a mais de 137 anos.
    Tudo ali, a alguns centímetros da nossa vista (Iluminar com o celular os detalhes aparecem mais).
    Eu me pego indo longe ao imaginar quem poderiam ser tais pessoas, e se elas imaginavam que seu trabalho pudesse ser apreciado tanto tempo depois.
    Levando em consideração a cultura do Brasil para o que é velho, isso nem chega a ser um privilégio e sim sorte por ainda estar lá.
    Recomendo a visita para quem gosta, e que se atem aos detalhes. Leve no celular ou no tablet as fotos que esse site tão maravilho disponibilizou acima. Para comparar, pois é o mais perto que temos disponível de recursos para viajar no tempo.
    Inclusive a atenção ao trabalho feito em madeira no assoalho. Vou voltar lá, com mais tempo, pois 5 minutos foram muito pouco devido a pressa já que era durante a semana quando fui.
    Tudo parece ainda estar no lugar, indiferente ao tempo…

    1. Concordo com você, Rogério, as “grandes” empresas, como Petrobras, são muito duvidosas no que diz em termos de consideração própria sobre possíveis bens culturais. Sinto dizer que o Bradesco, quase sempre, pulveriza os monumentos históricos para fazer suas agências. Tenho a foto duma agência onde não puderam fazer intervenção por se tratar dum sobrado colonial numa das cidades históricas de Minas Gerais (esta foto tenho no livro “The history of the car”).

    2. Foi a mesma sensação que tive ao ver essas fotos, que tudo está ali indiferente ao tempo e no meio da cidade de São Paulo em 2017, o que é praticamente incrível.

      1. A propósito… vendo a foto do Coronel do século retrasado numa pose tão imponente, automaticamente me veio na cabeça as “selfies” de língua de fora ou com “duck face” tiradas pelos jovens de hoje, acho que se pessoas da época do Coronel as vissem, iriam achar se tratar de fotos tiradas no “pinel”. rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs

  8. Olá Douglas. Estou fazendo meu trabalho final de graduação sobre um casarão em Ubatuba, conhecido como Sobradão do Porto, cujas paredes usam a mesma técnica, taipa francesa. Você sabe me informar como é executada tal técnica?

  9. Li agora há pouco num artigo da Wikipedia sobre este imóvel e consta que foi iniciada a restauração: a obra continua ou está paralisada? Se está paralisada, há quanto tempo?

  10. Como está hoje? E tem algum motivo pelo interesse em restaurar se concentrar em fins culturais? Trata-se de legislação ou interesse? Fico pensando que poderia ter vários outros fins, não?

  11. Olá, Douglas..
    Sei que já se passaram uns bons anos.. mas estou aqui para dizer que fiquei muito feliz por usar as fotos que te enviei.. na época que conversamos e te mandei as fotos, eu ficava entrando no site de tempos em tempos para ver se já estavam postadas.. quando vi, fiquei mega feliz e saí compartilhando com todo mundo que eu conhecia e com as meninas que fizeram o trabalho de faculdade junto comigo sobre esse casarão maravilhoso.. no fim, acabei não comentando nada por aqui.. peço desculpas por isso. rs
    Uma pena as fotos não terem ficado tão boas.. mas não sei se lembra, descrevi o quanto eu tremia por estar lá dentro. kkkkkk era muita emoção e um pouco de medo por ser tudo muito sombrio. kkkk gostaria de ter olhado com mais detalhes para tudo que tem por lá.. mas valeu muito a experiência.. e sempre me lembrarei desse casarão e dessa matéria que acabei ajudando a completar.
    Mais sucesso com a São Paulo Antiga na nova Sede.. projeto incrível..
    Grande abraço!

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