Teatro das Nações / Dercy Gonçalves

Os pequenos teatros em São Paulo não tem uma vida fácil. Ficam sujeitos aos mais variados problemas e muitas vezes estão muito distantes um do outro, isolados até, ao contrário de outras grandes cidades do mundo que tem ruas e avenidas repletas deles, como por exemplo, na Broadway em Nova Iorque ou mesmo na avenida Corrientes na nossa vizinha Argentina.

Crédito: Atílio Bari – Contribuição para o São Paulo Antiga

Este isolamento geralmente deixa os teatros em regiões cujo ambiente nem sempre é propício para mantê-los em operação por muito tempo. Teatros mais próximos um dos outros estimula o turismo, a concorrência e por consequência a qualidade das peças exibidas.

O Teatro das Nações é um exemplo de estabelecimento artístico que não sobreviveu ao seu ambiente. Teatro das antigas, era localizado no número 1737 da avenida São João, no bairro de Santa Cecília. Conhecido principalmente pela exibição de peças infanto-juvenis em sua fase mais recente, o teatro teve como principal entrave para a sua continuidade o Elevado João Goulart, popularmente chamado de Minhocão, que foi construído diante de sua fachada, trazendo consigo um trânsito que não era habitual, a proibição de se estacionar diante da sala e a degradação conhecida da região que afetou também os demais estabelecimentos comerciais e edifícios do entorno.

Fevereiro/1975

O Teatro das Nações teve seu auge nas décadas de 50 e 70 quando exibiu peças e espetáculos bastante concorridos, um deles que atraia multidões era a “As Gigoletes” que era descrito pela imprensa paulista como “espetáculo andrógino” mas era um show fantástico com diversas travestis e transformistas e que tinha no elenco Rogério Cardoso.

Infelizmente o preconceito apagou o nome delas, mas quem souber alguma informação entre em contato para que possamos dar os nomes e tirá-las do injusto anonimato, uma vez que elas eram o centro da atração.

Cena do espetáculo “As Gigoletes” de 1975, no Teatro das Nações

Depois o teatro passou a ser conhecido por vários anos até fechar também foi conhecido como Teatro Dercy Gonçalves. Não foi possível confirmar se ela era dona do teatro de fato ou apenas o arrendava, uma vez que no IPTU de São Paulo seu nome não aparecia. Entre 2001 e 2009 o nome que constava na documentação era de Margarida Moraes Romão.

Infelizmente após longa luta de resistência não resistiu a decadência que o Minhocão lhe impôs e fechou as portas em meados dos anos 1990. Por muitos anos, o estabelecimento ficou fechado e emparedado, como mostram as duas fotografias a seguir:

Abaixo você confere algumas fotografias internas do teatro, enviadas pelo leitor e colaborador Atílio Bari. Clique nas imagens para vê-las ampliadas.

O fim derradeiro veio em março de 2010 quando uma incorporadora que já havia comprado a área, bem como os imóveis vizinhos que estavam na rua Helvetia, e colocou tudo abaixo. Um grande edifício residencial foi construído no local, com as obras iniciadas em 2015 e concluídas em 2017. Abaixo é possível ver o arranha-céu.

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31 respostas

  1. Prezado Douglas e
    Equipe,
    Através da Rádio CBN – SP, pude identificar o trabalho importantíssimo que realiza.
    A cidade de SP no quesito Patrimônio Histórico é muito regular, ou seja, falta a participação da sociedade civil.
    Atuo através da EBC – Consultoria com projetos Socioeconômicos agenciando e mobilizando recursos ou investimentos mediante as leis de incentivos fiscais (Rouanet, ICMS e OSCIP.
    Cito o exemplo da Igreja da Consolação, total abandono. A situação é alarmante porque não se trata somente do imóvel, mas da história e cultura paulistana.
    Fico à disposição para mais informações ou esclarecimentos dos serviços da EBC – Consultoria.

    Atenciosamente,
    Eduardo Balerini
    Consultor > EBC
    (12) 81445368
    (11) 88428881
    SKYPE:ebceduardo1
    Lorena – SP
    Brasil

  2. FOI UM DOS MEUS PRIMEIROS TRABALHOS NO TEATRO, COM A Shirley e o Corinto administradores do teatro,fico muito triste em ver isso tudo acontecendo,saí de pernambuco para fazer peça justamente neste prédio onde nem hoje podemos chamar de teatro.cadê nossos governantres para incentivar a cultura,tou decepcionada com o que vejo!peço a Shirley e a corinto que se comuniquem comigo pois sinto muitas saudades,81 99921815

  3. tou simplesmente indignada!participei de algunhas peças neste teatro a 19 anos atraz e tive oportunidade de conhecer algunhas celebridades,que pena que nenhuma celebridade hoje vai querer arriscar sua vida num prédio velho e sem instrutura! nossos governantes não sabem o que é cultura!acorda lula!

  4. shirlei e corinto por favor entre em contato comigo,é de suma emportancia,participei de várias peças nesse teatro e amo muito a arte,lembram da matuta pernambucana?
    bjos maria

  5. Lembre de assistir uma peça nesse teatro, que diga-se de passagem foi a primeira peça da minha vida. Eu tinha por volta dos 5 anos, toda as vezes que passo em frente deste teatro lembro daquele momento. Infelizmente nossa cidade passa por situações deste tipo, esse registro que vocês fazem é importantíssimo. Continuem com o belo trabalho e parabéns.

    Grande abraço

  6. Oi pessoal!!
    Eu me recordo que eu passava em frente a este teatro lá pelos idos de 2002 e 2003. Ainda estava em pé, porém não sei se estava funcionando. volta e meia eu o via aberto e com pessoas lá dentro. Pelo que eu via nos cartazes tinha duas salas, uma era a Sala Dercy Gonçalves e outra era a Sala Oscarito. Pelo que me recordo dos cartazes eu vi que haviam duas peças, as quais não sei se estavam sendo encenadas. Uma era sobre o Bezerra de Menezes e outra era algo assim: “Coelhinho Pimpão e o pirata trapalhão”.

    Hoje, quando passo em frente vejo que praticamente não sobrou mais nada, transformou-se em parte de um estacionamento.

    1. Retorno aqui, quase 10 anos depois. Passei em frente a alguns dias atrás. Não existe mais nada do antigo teatro. Tudo foi demolido de modo que nem o estacionamento existe mais. No lugar há um prédio com 20 andares, algo assim. Infelizmente não há mais nada ali que recorde que naquele terreno um dia funcionou um teatro.

  7. Fiquei muito triste….. Assisti a primeira peça de teatro da minha neste espaço, me lembro como se fosse hoje, o espetáculo era O anel de magalão, uma comédia muito boa, na época(96) eu cursava a 8. série e quem nos levou foi a professora de educação artistica. Inesquecivel, me lembro da entrada, tinha uns quadros grandes iluminados e sala era bem grande….. Hoje moro na Barra Funda e eu passo sempre pela av. São João e sempre ficava procurando o teatro e agora sei pq não encontrava. Este teatro foi muito importante para mim, tanto que ainda guardo o folder e a entrada do teatro. Estou muito triste

    1. Oi, Wal!
      Eu tbm assisti o Anel de Magalão nesta época, foi uma peça maravilhosa, tenho ótimas lembranças, é possível me encaminhar por email o folder e a entrada, espero não estar abusando de seu arquivo pessoal.
      Grata

  8. Eu trabalhei nesse teatro junto com o Colé Santana ,Amancio Rodriguez na peça de Carlos Machado ,Ninguém segura esse mocotó,eu fazia a parte musical da peça,com a banda The Clevers,essa peça ficou muito tempo em cartaz ,eu me lembro que a Derci Gonçalvez estava em cartaz no teatro de Bolso depois chamado teatro Derci.Estou procurando e não encontro nada a respeito dos artistas que passaram pelo teatro,por favor quem tiver fotos ou alguma coisa da peça entra em contato comigo no meu bloog
    http://www.renoguitar.blogspot.com obrigado a todos
    É desse jeito que vamos resgatar alguma coisa de importante que aconteceu nesse nosso pais

  9. Também trabalhei nesse teatro, com o meu grupo, o Theatralha & Cia. Fizemos lá O Homem que Calculava, Frankenstinho e outras peças, durante vários anos. O espaço já andava meio mal das pernas, e o velho Corinto e sua esposa Shirlei faziam o que podiam para manter o local. O teatro não foi demolido, pegou fogo.

    1. Oi altino lembra de mim? Participei do curso de teatro no teatro das naçoes, nos anos de 94 a 97, participei da peça chapeuzinho vermelho e muito gente que vc escreveu. Lembra? Sou o Paulo o cabeludo e acho que o unico gay do grupo, sempre chegava bem antes do horario para explorar o teatro.

  10. Alguém tem fotos da fachada original do teatro? estou fazendo uma exposição sobre a Santa Cecília, e estou em busca de imagens e histórias relevantes para o bairro. Obrigada!

  11. Quando era criança, fui em diversas peças neste teatro com a minha escola. Inacreditável ver que o terreno virou mais um estacionamento, provando que a prioridade nesta cidade é mesmo os carros.

  12. Moro próximo ao local e pude acompanhar esse processo de demolição e o surgimento do estacionamento…

    Será que esse é o mesmo destino do Teatro Lucas Pardo Filho, em que assisti muitas peças na época da escola, e desde que deixou de ser do Grupo RIA de teatro, encontra-se fechado e, como pude constatar recentemente, passando pela região, o mato está crescendo junto à entrada.

    Esse teatro de que falo fica na Rua Gravataí, 47.

  13. Eu tinha um conjunto musical cujo nome era ANGEL SOM, era contrabaixista do conjunto. Fomos substituir um conjunto cujo nome era THE CLEVER`S. na peça NINGUEM SEGURA ESSE MOCOTÓ, com o humorista COLÉ nesse teatro da Nações,depois fomos á Campinas, no teatro Carlos Gomes com a mesma peça. Péço por favor, se alguém gravou uma dessas peças, entre em contato..Facebook- joao _galharde@hotmail.com Obrigado.

  14. Olá Douglas parabéns pelo belo trabalho ! Sou paulistana nascida em 1976 residi nos Campos Eliséos como minha família até os 15 anos. Assisti a minha primeira peça nesse teatro, sou apaixonada pela arquitetura da cidade, e choro quando vejo essas coisas.
    Achei sua página por acaso e estou revendo os casarões que sempre me encantaram desde criança, você me deu a oportunidade de saber mais sobre alguns que não fazia idéia de sua história. Hoje moro em Praia Grande SP e paquero os casarões de Santos SP e São Vicente SP que são impressionantes também, sempre que vou a São Paulo as lágrimas rolam em minha face pois sempre vejo descasos como este .

    Um grande abraço !

    Obrigado pelo seu belo trabalho !

  15. Nunca entrei nele mas eu testemunhei a sua existencia desde a decada de 60 ate o seu fim. Vedetes atores atrizes e comediantes… o Costinha tambem se apresentava neste local. Muito bom relembrar uma SP que existe somente na memoria. Sua porta era vibrante nos tempos aureos, cartazes luzes e muita agitacao … depois foi sendo abandonado, e com muita tristeza fui vendo os tapumes sendo colocados, as grades, as pixacoes, etc eu vi tudo …

    1. Acabo de me lembrar… eu ja entrei neste teatro sim… somente uma unica vez, para assistir uma peca infantil que agora nao lembro o nome…

  16. Foi neste teatro que assisti a Raul Seixas lançar seu LP “Krig há, bandolo”, antes de “estourar” com a música “Ouri de Tolo” e se tronar uma referência/lenda do Rock no Brasil… isso ocorreu em meados dos anos 1970, mais especificamente em 1973. Parecia-me, ao recordar pouco tempo atrás, que à época o lugar era conhecido como “Teatro de Bolso”…. faz muito tempo e posso estar enganado(?).
    De qualquer forma durante muito tempo assisti ao seu estado de total abandono e, inevitavelmente, ser destruido.
    Muito bom o trabalho de recuperação da memória paulistana feito por Douglas Nascimento em sua “São Paulo Antiga”!!! Parabéns!!!!

    1. Assisti em 1987, com Dercy Gonçalves, a peça: Adeus Amigos, 80 anos. Assisti em 1986, com Telma Lipi, a peça: O Casulo.

  17. Meu deus! Fui mostrar o teatro a uma amiga e quando cheguei lah e vi o estacionamento levei um baita susto, passei os melhores anos da vida nesse teatro, participei de um curso de teatro em 94 e fiquei ate 97. Lembro de todos como se fosse ontem, seu corinto sentado em sua mesinha sempre com seu cigarrinho, a travesti rita cuidando da limpeza e o bar do teatro, a professora Sonia e o Altino que escrevia nossas peças e participava das peças que ali apresentavam, grandes amigos que foram essenciais em minha vida. Sinto muitas saudades desse pessoal fora os alunos. Nossa como estou emocionado!

    1. Paulo Hora me chamo Marcio eu vi seus comentários tb me emocionei morei MT tempo na barra funda gostaria de saber onde estão seu Corinto a dona Shirley e a Rita cujo apelido era Ditinha era MT minha amiga se vc souber deixe um comentário ou SMS para 11 958726828 grato

  18. Frequentei muito quando pequeno , fiz uma viagem num mundo de fantasias nos enredos dos espetaculos exibidos ali ,muito triste lembrar que o local nao exista mais , mas o importante sao as memorias que ficam

  19. O Teatro das Nações (Dercy Gonçalves), em São Paulo, foi o cenário da minisserie Boca do Lixo (Silvio de Abreu), na Rede Globo, em 1990. A obra foi a responsável pelo lançamento da atriz Silvia Pfeifer na televisão, que, a partir daí, seguiu uma em bem sucedida carreira. Antes, ela tinha sido modelo de passarela. Na trama, Pfeifer interpreta a atriz decadente Claudia Toledo, que está em cartaz no Teatro das Nações, onde o ambiente é visto detalhadamente; a entrada, o camarim, o palco, o estacionamento ao lado, etc. Na trama underground, Claudia fala mal do teatro e lamenta a decadência em que ela vive. Numa cena, Claudia Toledo chora desesperada no carro, estacionado em frente ao teatro, quando ela acaba de voltar da tentativa de um teste que foi fazer para uma novela na Rede Globo, no Rio de Janeiro. Lá, ela esperou um dia inteiro na recepção e ninguém a recebeu. Naquela trama de catarse, o único palco disponível para ela é o daquele teatro ao lado do Minhocão… Pra quem não conheceu o teatro, ou queira revê-lo, assista Boca do Lixo, protagonizada por Silvia Pfeifer, Alexandre Frota e Reginaldo Faria. O Teatro das Nações acabou, mas deixou a História dele.

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