O tempero de Mrs. D Gardner

Para iniciar esta coluna no ano de 2016, apresento a vocês uma receita antiga maravilhosa de tempero, com ingredientes frescos, tudo natural, que encontramos em um um livro antigo muito interessante:
Foto: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga
Antes de falarmos sobre os ingredientes, vamos desvendar um pouco da história deste livro.
Embora a receita indicada aqui neste artigo não seja típica paulista, trata-se de uma receita de importante valor histórico e também está relacionada com a história de nossa cidade. Editado na capital paulista pela Liga Beneficente Anglo Brasileira, este livro foi feito a partir de receitas doadas por senhoras de origem inglesa ou casadas com ingleses frequentadoras desta citada liga, cujos encontros e reuniões se davam no mesmo clube que foi frequentado por Charles Miller, o São Paulo Athletic Club (ou Clube Atlético São Paulo).
O objetivo do livro era angariar fundos para as vítimas e desamparados pela Segunda Guerra Mundial, e consistiam em inúmeras receitas cedidas por estas senhoras, catalogados no volume por tipo de ingredientes (queijo, ovo, chocolate etc) ou pelo nome das senhoras.
clique na foto para ampliar
Na foto, uma das páginas do livro (clique na foto para ampliar)
Todo o livro contém inúmeras receitas interessantes, tanto de salgados e doces em geral (notem o bem conhecido Devil’s Food Cake na imagem acima), como também de muitos molhos e temperos. É importante salientar que o livro é bilíngue, tendo todas as receitas disponíveis tanto em inglês como em português.
Como sempre falamos de bolos e salgados nesta coluna, optamos desta vez por algo que ainda não abordamos: tempero. E para isso, segue a receita do tempero de Mrs. D Gardner:
Ingredientes:
  • 1/2 quilo de cebolas
  • 4 cabeças de alho
  • 3 maços de cheiro verde
  • 6 alho-porós
  • 8 pimentões vermelhos
  • 1 quilo de sal refinado
  • 1 xícara de café de azeite de oliva

Coloque todos ingredientes no processador de alimentos (ou  em um liquidificador), exceto o sal e o azeite que devem ser incorporados por último. Armazenar em vidros bem tampados. A receita original diz que a mistura conserva-se por meses.

Foto: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga
Já temperei carne de porco para assar, filé de frango, bife, omelete, arroz, molho de tomate, e até agora todos alimentos temperados com esta mistura ficaram especialmente deliciosos. O cheiro é bom demais. A receita rende pelo menos um litro e meio de pasta de tempero.
A receita original pede para passar na “máquina fina”, eu usei um processador de alimentos pois não sei exatamente o que é a “maquina fina” descrita neste livro tão antigo. Pensei naqueles moedores de carne que vinham como acessários de batedeiras.
Na foto, o tempero já pronto (clique na foto para ampliar)
Na foto, o tempero já pronto (clique na foto para ampliar)

Nas próximas semanas faremos um review completo sobre o livro no nosso canal do YouTube “Ler é Divertido”. Corre lá e assine nosso canal.

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24 respostas

  1. Muito bom o post. A autora toca em um ponto importante: a culinária paulista.

    Segundo a historiadora Regina Ramos, a diversidade de São Paulo aliada a um inexplicável desprezo dos paulistanos pelos valores bandeirantes estão fazendo desaparecer costumes e sabores paulistas.

    1. Creio que mais do que um desprezo pelas nossas raízes, haja mais é um desconhecimento das mesmas. Com as levas de imigrantes que a cidade e o estado de São Paulo receberam, estes tornaram-se maioria na cidade (até meados dos anos 30 o italiano era a língua mais falada na capital), trouxeram suas culturas, que foram assimiladas pela população local. Mas sou completamente favorável ao resgate de nossas raízes bandeirantes, e muitas das receitas aqui publicadas remetem à esta época. Este site faz um maravilhoso trabalho de resgate da cultura e do orgulho de ser paulista.

  2. Esse tempero deve ser muito bom. Vou experimentar. Quanto o “passar na maquina fina”, deve-se referir as gradações do moedor manual (usávamos em casa até os anos oitenta), por exemplo: para fazer quirera e outras coisas, a gradação era mais alta, para moer café, amendoim para passoca, fubá fina, etc, a gradação era a mais baixa.

  3. Quando estava lendo a receita, lembrei que minha avó tinha vários discos com furos de diâmetro diferente que ela colocava na “máquina de moer carne”. Originalmente, os temperos deviam ser picados nesta máquina….Minha sogra usava tal moedor para preparar a conserva de raiz forte.

  4. Prezada Heloisa, a máquina fina seria a antiga máquina de moer carne a manivela (que trabalhão aja muque…), o acessório utilizado era o que possuía furos menores para a carne sair bem moidinha…Abrçss

  5. Heloisa, muito obrigado pelo post.

    Não acredito que haja ‘desprezo’ pela culinária paulista. Ela é parte importante do nosso dia, ainda que não saibamos. Herdamos muito tanto dos bandeirantes como dos imigrantes e antepassados que vieram nos sec. XIX e XX. Podemos sim, no entanto, saber mais ainda do passado recente e seu blog é um passo importante para isso.

    Obrigado.

    1. Com um pouco de sorte, talvez algum exemplar repouse sobre as prateleiras de um sebo. Experimente procurar no site Estante Virtual, é o maior site de sebos do país. Já comprei muitos livros novos e usados lá.

  6. Se não me engano a máquina fina citada são aquelas máquinas de moer carne manuais que se trocava uma peça na saída conforme se quisesse a carne moída mais fina ou mais grossa.

  7. Eu tenho este livro, minha Mãe disse que foi editado durante a 2ª Guerra, tem muitas receitas de dar água na boca.

    1. Olá Daniel, tenho usado este tempero nos últimos meses e até agora nenhum començal reclamou de azia, incluisve meu pai que tem sensibilidade ao pimentão. Não sei explicar se o sal, por exemplo, ameniza o efeito da casca do pimentão no sistema digestivo. A combinação com os outros ingredientes da receita fica muito bem armonizada. A receita pede uma quantidade exagerada de ingredientes, seguindo as receitas da época, em que tudo era feito para consumo de famílias numerosas ou em quandes quantidades por uma questão de economia doméstica.

  8. Gente, eu fiz!!! Claro, dividi com a sogra, cunhada e amigas! Todas amaram! Farei novamente e essa receita já está no livro da família!! Obrigada por compartilhar!!

    1. Olá Adriana, obrigada por seus comentários. Desde que publiquei esta receita, tenho feito todos os anos porque não consigo mais ficar sem o tempero. Já preparei carne branca, vermelha, peixe, porco, arroz, polenta, feijão, sopa, etc, uso para tudo e fica divino. O sal conserva o preparo por meses na geladeira sem perder o frescor das ervas e demais ingredientes. Muito muito melhor que qualquer tempero industrializado.

  9. legal a iniciativa da pagina.. infelizmente do povo paulista hoje da muita importancia pra cultura dos outros e se esquece da sua propia cultura, memoria, e feitos

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