Vila Andrea Raucci

A Cidade de São Paulo possui espalhadas por toda sua extensão, diversas vilas antigas que foram construídas em grande maioria na primeira metade do século 20, e que são belo exemplares de uma cidade que era completamente diferente do que vemos hoje.

Muitas destas vilas já desapareceram e deram lugar a outras construções, enquanto muitas outras resistem. E no bairro da Mooca existe uma destas vilas cuja existência pode estar em risco, trata-de Vila Andrea Raucci.

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Erguida na década de 50, a belíssima Vila Andrea Raucci está localizada no cruzamento das ruas Valentim Magalhães e Cuiabá. Trata-se de um completo residencial muito peculiar, com uma arquitetura que além de ser bastante bela, é única em nossa cidade. A bela construção chama tanto a atenção que no passado foi cenário para filmes nacionais.

Ao todo a vila possui aproximadamente 30 apartamentos e um grande salão comercial, todos eles sempre destinados a locação, já que pertencem aos herdeiros do fundador da vila, Andrea Raucci. Um dos herdeiros, inclusive, foi recentemente presidente do Clube Atlético Juventus, Armando Raucci.

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Entretanto, apesar de bela e bem conservada e ser um legítimo e raro representante da São Paulo de outrora, a Vila Andrea Raucci pode estar correndo risco de desaparecer. Segundo moradores da vila que pediram para não serem identificados, eles receberam um aviso que precisam deixar o completo de residências até dezembro deste ano.

O motivo é que a vila estaria ou já teria sido vendida para o setor imobiliário pelos proprietários. O temor agora é que a vila histórica acabe no chão, a vila não é tombada ainda o que poderia facilitar a ação.

Estivemos no local conferindo o estado de conservação da vila e a situação dos moradores e foi possível atestar tanto o bom estado de conservação do local como o temor de alguns moradores. Muitos deles, aliás, estão na Vila Andrea Raucci há mais de 30 anos e não gostariam de mudar dali. Segundo outro morador da vila, estaria faltando apenas um dos proprietários assinar para o negócio se concretizar (veja no vídeo no final da reportagem).

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Embora ninguém confirme oficialmente nem a venda da vila e nem que a mesma teria sido negociada para dar lugar a prédios, a movimentação indica isso. Qual razão de pedir que inquilinos deixem o local até o final do ano, senão para desocupar o imóvel ? E imóvel desocupado geralmente é demolido.

Enquanto tudo é especulação e rumor o cidadão precisa se movimentar e não permitir que ocorra outro crime à memória da Cidade de São Paulo e, especialmente, à memória do bairro da Mooca que não pode perder mas nenhum ícone de sua identidade.

Portas das residências da vila (clique na foto para ampliar)

Não estamos falando de uma vila deteriorada ou com riscos de desabamento, mas sim de um complexo residencial histórico e absolutamente preservado cuja eventual demolição, apenas para atender a interesses do setor imobiliário, não trará benefício algum à municipalidade.

Abaixo, uma galeria de 20 fotografias da vila. Observem atentamente a última fotografia, que mostra um frontispício localizado na parte interior da vila com o nome da mesma, é lindíssimo.

Galeria de fotos (clique na miniatura para ampliar):

Atualização 03/07/2013:

A leitora Gabriela Gonçalves esteve na rua da Vila Andrea Raucci e nos informou que a vila já está quase totalmente desabitada e algumas de suas entradas foram fechadas com blocos, o que denuncia uma possível demolição do imóvel para muito em breve.

Será que o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) irá permitir que mais este belo patrimônio da cidade desapareça ? Estamos acompanhando.

Veja as fotografias enviadas pela leitora (clique na foto para ampliar):
Crédito: Gabriela Gonçalves / São Paulo Antiga

Crédito: Gabriela Gonçalves / São Paulo Antiga

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35 respostas

  1. Muito interessante…
    Eu fui criada na rua Dr. Ricardo Daunt, no Ipiranga, e nessa rua tambem tinha uma vila onde moravam 12 familias. Isso foi nos fins de 40. Creio que ela ainda exista, apesar da vizinhanca ter se deteriorado com o passar dos anos…
    Uma boa dica para sua inspecao.
    Abracos.

  2. A lei 8.245 de 18/10/91 em seus artigos 27 e 28, diz que em caso de venda os inquilinos tem preferência para aquisição, devendo o locador dar-lhe conhecimento do negócio mediante notificação judicial, extrajudicial ou outro meio de ciência inequívoca. Isto posto, pergunto: Será que os inquilinos receberam essa notificação ? Mesmo que eles não tenham recursos para comprar os imóveis, será que foram notificados? Caso não tenham recebido notificação, nesse caso, será que possível compra por outro interessado (uma incorporadora por exemplo) não seria irregular?

  3. Nós ainda não estamos pensando soluções híbridas. O progresso não pode ser interrompido, mas a história não pode ser esquecida. Para que as coisas não tomem qualquer rumo é preciso engajamento. Não sei se você conhece ou se relaciona com os arquitetos que militam nessa área aí em Sampa. Precisa engrossar o movimento. Não só nesse caso, mas em todos que ainda restam. Belo registro.

  4. ao ver a foto do “limpa barro” me recordei que tem um aqui em casa, praticamente na minha frente agora.
    enfim, belo registro.

  5. Douglas, lembro que havia passado pra vc a dica da vila lá no curso do IHGSP, mas não esperava que a publicação da matéria viesse acompanhada da ameaça de sua destruição…È possível um pedido de tombamento? Acredito que não existam muitas vilas populares preservadas e originais como essa em SP. É uma joia, a primeira vez que a vi, fiquei maravilhado!
    Abs

  6. Gente, que coisa mais linda! O que podemos fazer para impedir este sacrilégio, a demolição?
    Quero morar lá! =O

    Ótimas fotos!

  7. esta não é a primeira vila dos Raucci que é demolida minha sogra e seus irmãos moravam,na Rua Terezina com a Rua Natal era igual a essa foi demolida e hoje existe um grande edifício no lugar,acho que esse vai para o mesmo caminho,infelizmente.

  8. Eu tenho o arquivo digital do cartão de trabalho de meu bisavô, quando ele trabalhava na Antarctica. Nesse cartão o endereço dele era Rua Valentim Magalhães, 9. A data de admissão era de 1927. Será que ele morou na Vila Raucci? Pode ser que a Vila Raucci seja mais antiga ou ele morava numa casa que foi demolida para dar lugar à Vila.

  9. Falar que a culpa pelas demolições é da “especulação imobiliária” genéricamente,é como falar que a culpa das enchentes é da água!
    Faltam leis que estimulem a preservação,e criam-se outras que favorecem as empreiteiras,o controle dos imóveis tombados é ineficaz,e os proprietários desses imóveis preferem receber 10 ou 15 milhões de Reais à vista do que receber uns 20 mil Reais de aluguel por mês de todos os imóveis junto.Não tem muito jeito,só com vontade política e esclarecendo as pessoas quanto aos valores históricos e culturais de nossa arquitetura, e isso só se faz com educação.E leva muito tempo.

  10. Morei em uma dessas casas por 11 anos, a imobiliaria subiu meu aluguel a valores exorbitantes e apenas seguindo o contrato, eles já venderam o terreno e em breve tudo vai para o chão, com certeza. Morei na Mooca por miseros 40 anos, hoje moro no litoral sul e a Mooca ainda mora no meu coração, com todos os seus defeitos a Mooca é sem duvida o melhor bairro de São Paulo.

  11. Moro na Mooca e passando pela Rua Cuiabá, durante a semana, reparei que emparedaram as entradas dos sobrados que ficam na Valentim Magalhães.

  12. Moro em um edifício na Valentim Magalhães e realmente acredito que vai tudo para o chão. As entradas da vila estão emparedadas já e vejo pouco movimento lá. Possivelmente todos os moradores já foram embora.

  13. Pessoal, é possível entrar com pedido de tombamento, isso não quer dizer que será tombado, mas, acho que vale a pena tentar.
    No site da prefeitura eles explicam, por cima, como é o processo:

    http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/patrimonio_historico/preservacao/index.php?p=431

    “O tombamento pode ser acionado a partir de duas formas diferentes. Na primeira, o poder público, embasado em estudos previamente realizados pelo órgão competente, o Departamento do Patrimônio Histórico – DPH, propõe a sua aplicação nos bens considerados significativos. É importante frisar que os estudos levados a efeito no DPH podem ter o seu ponto de partida tanto no interesse específico por um imóvel pontual, quanto em uma mancha urbana particular ou um bairro. Para selecionar essas regiões, bairros ou manchas que interessam ao município do ponto de vista da preservação, o DPH tem como atividade regular o IGEPAC, ou Inventário Geral do Patrimônio Ambiental, Cultural e Urbano de São Paulo que, como o próprio nome indica, constitui trabalho sistemático de reconhecimento e documentação dos bens que representam testemunhos físicos do processo de evolução urbana da cidade.
    São inúmeros os tombamentos que tiveram como ponto de partida a iniciativa do poder público. O bairro da Bela Vista, por exemplo, teve aberto o seu processo de tombamento após completar-se no DPH o Inventário daquela região. Da mesma forma, o núcleo central do bairro da Freguesia do Ó e a região do Anhangabaú são manchas urbanas cujos tombamentos iniciaram-se com Inventários específicos. E, como imóveis pontuais e conjuntos arquitetônicos, podemos citar o Solar da Marquesa, Vila Maria Zélia, diversos Teatros de propriedade da Prefeitura, Casa de Vidro do Morumbi e vários outros.
    A segunda forma pela qual o tombamento pode ser acionado acontece por iniciativa particular, seja ela individual ou de grupos organizados. Todos os pedidos são estudados pelo DPH e, após instrução preliminar, submetidos à deliberação do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo – CONPRESP. Este é formado por membros representados de diversos órgãos e secretarias, vinculando-se diretamente à Secretaria Municipal de Cultura. Cabe a ele a decisão de acionar ou não o mecanismo do tombamento. Caso seja aprovada a abertura de um processo de tombamento, o bem em questão encontra-se protegido legalmente até a decisão final, sendo proibidas demolições e reformas sem a prévia autorização do CONPRESP. Inicia-se então uma segunda fase de estudos a cargo da Divisão de Preservação; fase esta na qual são aprofundados e detalhados os conhecimentos sobre o bem em questão. Finalizados esses estudos, o processo volta ao CONPRESP que emitirá a sua decisão final.”

  14. Triste ver que pelo visto deixará de ser essa linda vila, para quem sabe se tornar oque…
    Poxa se os donos tivessem pensando, era só revitalizar, ficaria com a cara daquelas vilas europeias…

  15. é triste mas irreverssível. se está desabitada não tem mais o que fazer. os donos venderam e quem comprou que faça alguns enormes espigões de 20 andares pra moradia.

  16. Qualquer pessoa pode pedir tombamento de imóveis no Conpresp ou no Condephaat. No caso, creio que o Conpresp seria o ideal. Basta preencher uma ficha e entregá-la com uma breve explicação. Tem mais informações no site da prefeitura/Conpresp.
    O problema é quanto ao tempo entre a entrada do pedido e sua apreciação. Nesse caso, creio que o que vale é a pressão popular.

  17. Morei neste conjunto de casas, no numero 25 desde o início dos anos 50, me casei e os meus pais moraram nesta casa até 1995, temos recordações maravilhosas da vizinhança, do bar do Sr Domingos, da vila onde brincavamos, e as casas estavam sempre destrancadas, não havia portão de entrada na vila, outros tempos, onde havia segurança e os nossos pais nos deixavam livres para brincar na rua. Me dó no coração ver estas últimas fotos onde as casas estão cobertas por tijolos, Hoje moro no litoral sul de São Paulo com os meus filhos, mas a Moóca foi o melhor lugar que morei.

  18. O tio da minha mãe morou na Vila a partir da 2ª metade dos anos 40. Eles moraram num dos sobrados do lado da Valentim Magalhães e depois mudaram para o interior da Vila. Lembro-me do interior da Vila quando criança.

  19. As vilas, bem como as casas antigas, têm aquele sabor de nostalgia e nos remete automaticamente a tempos mais tranquilos e fraternos, mas o que há de se fazer? As pessoas precisam morar, e o adensamento de bairros centrais ou próximos ao centro como a Mooca, com sua oferta de imóveis desocupados, torna-se presa fácil do mercado imobiliário. Dói, mas é melhor do que ver ali uma miniatura de Detroit tal como no centro, uma região abandonada, degradada e entregue à própria sorte.

  20. Eu vi pelo Google Earth na visão feita pela rua, que ainda tem moradias ocupadas (vi 2 moradias sem frente com tijolos) e aparentemente uma delas, parecia ter passado por uma leve reforma no portão. As fotos de rua eram de setembro de 2014 e não sei se ainda está dessa maneira.

    Será que ainda tem esperança da vila ficar de pé?

  21. Douglas, eu moro exatamente na frente da Vila Raucci. Ao que tudo indica temos uma boa notícia. Há inúmeras placas de aluga-se e também uma movimentação maior de moradores. As paredes de tijolos que fechavam as fachadas foram retiradas. Se havia algum processo de demolição em curso, tudo faz acreditar que não existe mais.

    1. Parece que foi salva mesmo…. a imagem do Google Street mostra todas as casa que estavam fechadas com tijolos abertas e aparentemente habitadas

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