A pensão Maria Teresa

As pensões são notadamente um padrão de habitação bastante comum nas cidades brasileiras e em São Paulo não é diferente. Desde tempos muito antigos as pessoas procuram estes estabelecimentos para residir por breve ou longo período, enquanto ou não possuem condições de ir para algo seu ou porque simplesmente não sentem a necessidade de mais.

Espalhados pela cidade vemos cartazes de “vagas para moças” ou “vagas para rapazes” nos mais variados tipos de imóveis, como casas velhas, pequenos prédios etc. E aqui apresentamos a curiosa história de uma dessas pensões, a Maria Teresa.

Parte do mapa de São Paulo de 1913, onde destaca-se a Rua Maria Teresa

O nome dessa pensão não vem exatamente por ser de alguma proprietária ou algo do gênero, mas sim do antigo nome do logradouro onde o estabelecimento ficava, na Rua Maria Teresa* (veja mapa acima) em Campos Elíseos.

*Nota: Essa rua existiu até o final da década de 1950, quando foi anexada à Avenida Duque de Caxias. O nome da via era uma homenagem Maria Teresa de Queiroz Teles.

clique na foto para ampliar

Inicialmente chamada de Pensão da Dona Adélia, o estabelecimento existiu neste casarão – construído nos primeiros anos do século XX – desde a década de 1920. Mudaria para seu nome mais famoso apenas em 1945, quando Salvador Fiora adquiriu o negócio, que ficaria nas mãos de sua família até fechar e depois ser vendida para os proprietários atuais.

De acordo com o José de Souza Martins, da Faculdade de Filosofia da USP, a pensão serviu de morada para nada menos que Senor Abravanel, ou como é nacionalmente conhecido, Sílvio Santos. Ele teria residido ali assim que chegou do Rio de Janeiro.

Na foto o arco sobre a porta de entrada (clique para ampliar)

Apesar do interior do imóvel hoje ser um tanto diferente de quando era um pensionato, devido a hoje serem escritórios, a edificação é bastante preservada em seu exterior que mantem todas as suas características e ornamentos originais.

As alterações visíveis na fachada são a abertura de uma porta na área do porão (lado esquerdo) e a adaptação dos medidores de água e luz para a parede externa (lado direito). Outra adaptação é um muro junto ao imóvel à sua direita possivelmente para dar mais segurança. Na fachada tanto a grade da porta de entrada quando o portão são elementos muito destoantes à arquitetura original e deveriam ser repensados.

Curiosidade:
Nas décadas de 1950 e 1960 o número de telefone da pensão era 52-3952, enquanto seu proprietário, Salvador Fiora, tinha seu próprio número que era 51-9960.

Por fim é preciso discutir a remoção da banca de jornais de diante da fachada. A banca, embora pequena, atrapalha e muito a observação do bem histórico*² que ali está e poderia ser colocada facilmente e sem maiores transtornos ao seu proprietário um pouco mais adiante.

Textura não! Nunca! Jamais! (clique para ampliar)

Outra coisa que precisa ser repensada e urgente cabe aos proprietários. Não há ideia pior para uma fachada antiga do que colocar pintura com textura nas paredes. Além de ser de um gosto – nossa opinião – bastante duvidoso, em locais com muito trânsito como é o caso da Avenida Duque de Caxias as ranhuras logo ficam tomadas por fuligem dando um aspecto de sujo.

Antes desta cor laranja texturizada o sobrado era pintado em uma cor verde sem essa técnica e era muito mais agradável. Fica a dica aos proprietários.

Depois de a pensão fechar o imóvel ficou alguns anos fechados e posteriormente acabou sendo vendido aos proprietários atuais, a Federação dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário.

NOTAS:
*1 – Essa afirmação não podemos confirmar, mas é sabido que Sílvio Santos ao mudar-se para São Paulo morou em pensões. A única que é comprovada como sua residência é a extinta Pensão da Dona Gina, na Rua 13 de Maio. Gina ou Duzolina que era seu nome foi a mãe de Aparecida Honória Abravanel, ou Cidinha, a primeira esposa do apresentador falecida em 1977 de câncer no aparelho digestivo.
*2 – Não foi possível confirmar se o imóvel é ou não tombado, após a paralisação devido à quarentena atualizaremos essa informação.

Bibliografia consultada:

  • Guia dos telefones de São Paulo 1961 pp 74
  • Mapa da cidade de São Paulo do ano de 1913
  • O Estado de S.Paulo – edição de 17/12/2005
  • A fantástica história de Sílvio Santos – Silva, Arlindo

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16 respostas

  1. Beleza de prédio, assim é que era a maneira diga de receber os visitantes interessados em hospedagem.

  2. Felicitações pela informação: curta e objetiva! Minha mãe sempre comenta sobre as pensões no litoral santista, anos 50: lugares limpos e aptos para família passar temporada na praia…

  3. Cada vez mais me surpreendo agradavelmente com o seu trabalho. Muito bem feito. Vê-se amor a profissão.

  4. Douglas,sua contribuição é muito apropriada aos amantes da cultura raiz e a genealogia ,esquecida de nossos ancestrais.

  5. Mais grave que o aspecto da textura é a composiçao do material. Por ser de base acrílica, impermeabiliza a superfície. Com isto, a cal presente na argamassa de revestimento ao desprender CO2, resultado do contato com a umidade interna ou causada por fissuras na pintura nao tem por onde escapar e provoca destacamentos. É o que aconteceu com o Museu Paulista, por exemplo.

  6. Eu me chamo Marilena Cardoso de Almeida , gosto muito de seu trabalho e procuro segui-lo sempre que posso.Suas pesquisas valorizam a história e cultura de nossa querida cidade!Eu nasci ai em S.Paulo na maternidade da Cruz Azul em 1940! Hoje moro em Itapetininga mas tenho familiares aí. Mas vamos ao assunto: quando nasci, meu avô Paulo de Lara possuia uma pensão- hotelzinho, localizado na esquina das ruas Duque de Caxias com Sta Efigênia onde hospedava muitos estudantes de faculdade São Francisco e estudantes de medicina, alem do pessoal de Itapetininga, Sorocaba e região! Minha mãe e minhas tias estudavam na Escola Normal do Bráz, onde se tornaram professoras. Uma de minhas tias escreveu um livro muito interessante contando os fatos pitorescos do cotidiano da pensão. Até pouco tempo atrás, eu passei pelo local e visualisei o prédio, que foi mutilado, porem ainda estava em pé! Se você tiver interesse, eu ficaria muito feliz de ver uma reportagem sua, sobre este prédio onde praticamente nasci! Desde já obrigada, muita saúde e felicidades no seu trabalho! Abraços!

  7. Este imóvel era antes todo de cor branco-marfim? Se sim, digo que não gostei do amarelo-ouro mostrado nas fotos, do mesmo modo da casa que vocês mostraram num post sobre a Avenida Doutor Zuquim.

  8. A Praça Alexandre Herculano (Pça. Alex. Herc. no mapa de 1913) é outro logradouro que acabou desaparecendo ou sendo absorvido pelo Largo do Arouche. Outra coisa é que não aparece nem o traçado do que depois se tornou a rua Frederico Steidel.

  9. Também morei na pensão Maria Tereza. Juntamente com estudantes do curso de tipografia do Senac (vindos do Equador e Peru). Na época, essa pensão era administrada pelo Se. Marcos. Era um lugar acolhedor e onde tive oportunidade de fazer boas amizades. Saudades!

  10. Morei quando criança na pensão. Início da década de 90. Minha mãe zelava desse local. Era um lugar no mínimo peculiar para se crescer.

  11. Morei na pensão na década de 80 e 90 e conheci o companheiro de quarto do Silvio Santos, conheci também o Felipe ainda criança e seus pais e também o Marcos e esposa. Boas lembranças dessa época. Pessoas muito boas.

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