Casa da Don´Anna

O bairro de Campos Elíseos conserva, boa parte preservada, alguns de seus mais importantes casarões e que no passado pertenceram em sua maioria aos famosos Barões do Café. Estes foram vultos paulistas de grande importância para o desenvolvimento da economia brasileira e principalmente para a riqueza paulista.

Família Alves de Lima diante do casarão da Fazenda Chapadão em 1918

A foto acima, mostra uma das importantes famílias cafeicultoras paulistas, os Alves de Lima, diante da Fazenda Chapadão em Campinas. Eles foram os proprietários da fazenda até 1942, quando a mesma foi vendida ao exército.

Já na cidade de São Paulo sua propriedade é um casarão marcante e encantador, construído entre os anos de 1912 e 1914 e localizado no número 1149 da rua Guianases. O imóvel, de mil metros quadrados, é um dos remanescentes do período áureo do café paulista. Foi erguida pelo cafeicultor e empresário Octaviano Alves de Lima para acomodar a família na capital paulista.

clique na foto para ampliar

Seu estilo arquitetônico, bem mais moderno que o padrão da época em que foi construído, tem uma explicação. Projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo¹ nos anos 1910, a residência sofreu uma ampla reforma em 1944 realizada pelo arquiteto francês Jacques Pilon. Naquele momento foram removidos os traços característicos da arquitetura eclética, um padrão das obras de Azevedo, pelo modernista que era contemporâneo ao período da reforma.

A planta a seguir mostra como era o imóvel em seu período eclético, no traço original de Ramos de Azevedo:

A residência possui dois pavimentos, mais porão habitável e uma grande edícula aos fundos. Sua entrada principal (foto abaixo) foi construída com degraus em mármore. O casarão tem muros apenas em parte das laterais, sendo que no restante há o belo gradil original e seu portão de ferro.

Até alguns anos atrás seu estado de conservação era apenas razoável e tinha-se uma ligeira impressão de que, sendo habitado apenas por caseiros, que seu destino seria incerto. Com sua fachada tombada desde 1985, sempre tinha-se o receio de quem um dia o imóvel poderia vir abaixo. Essa história começaria a mudar em 2015.

Foi neste ano que um dos herdeiros da propriedade, o empresário Luís Eduardo Alves de Lima, adquire a metade correspondente a seu irmão e decide restaurar o velho casarão da família, dando para ela um futuro brilhante e digno de sua história.

A partir da aquisição da totalidade do imóvel Alves de Lima inicia um longo e delicado processo de restauração do imóvel, para deixá-lo apto a ser totalmente funcional novamente. Sua ideia era trazer vida, movimento e negócios ao já mais que centenário casarão. Surgia a partir daí a Casa da Don´Anna.

Vista do interior da residência

O nome é uma homenagem de seu atual proprietário a sua avó Anna, esposa de Octaviano Alves de Lima. A ideia da homenagem surgiu pelo fato dele além de querer prestigiar sua antepassada, ao forte valor sentimental que possui do imóvel, onde chegou a residir por alguns meses quando criança.

Reaberto, o casarão trouxe ao Campos Elíseos um conceito completamente novo ao bairro onde os casarões o são de uso empresarial – fechados ao público – ou de uso público, como os vários que ali pertencem ao governo paulista. Na casa da Don´Anna a ideia é que as pessoas frequentem o imóvel trazendo vida, alegria e negócios.

A casa está preparada para receber eventos, festas, cerimônias de casamento, além contar com um café no antigo porão e salas para coworking.

Cômodos que foram transformados em espaços de coworking (clique para ampliar)

Além de todo o encanto da residência centenária, a propriedade ainda conta com um amplo jardim, com árvores frondosas, sendo algumas frutíferas como abacateiros e jabuticabeiras. A área do jardim serve também como extensão do café inaugurado no porão da casa e denominado Café Paulista, cujo nome é uma homenagem aos negócios de seu bisavô.

Serviço:
Casa da Don´Anna
Rua Guaianases, 1149 – Campos Elíseos
www.casadadonanna.com.br

Veja mais fotos da Casa da Don´Anna (clique na miniatura para ampliar):

SOBRE OCTAVIANO ALVES DE LIMA:

Alves de Lima foi uma das grandes e notórias personalidades paulistas. Foi diretor presidente da Café Paulista S/A, diretor do Banco Noroeste e presidente da Cooperativa Central dos Cafeicultores, entre muitas outras atribuições.

Entre suas aquisições mais notáveis, está a do jornal Folha da Manhã (atual Folha de S.Paulo) cuja compra foi feita em 1931, quando o periódico paulistano ainda era bem novo. A aquisição do jornal foi fundamental para a sobrevivência da Folha, que havia sido duramente atacada em sua sede no final de 1930. Foi proprietário do jornal até 1945.

Primeira edição da Folha nas mãos de Octaviano Alves de Lima em 21/01/1931
Primeira edição da Folha nas mãos de Octaviano Alves de Lima em 21/01/1931

Após o falecimento de Octaviano Alves de Lima, um de seus filhos, Octaviano Alves de Lima Filho, assumiu junto com irmãos o controle da fazenda e o casarão de Campos Elíseos foi sua residência.

Octaviano Alves de Lima Filho residiu por décadas no imóvel. O telefone da residência, ao menos entre as décadas de 50 e 60, estava em seu nome e tinha o número 51-4092. Médico de grande renome e autor de vários livros em sua área de atuação, veio a falecer em 2008, aos 92 anos de idade.

NOTA:

1 – Abaixo a imagem do imóvel quando ainda apresentava a fachada projetada por Ramos de Azevedo.

clique na foto para ampliar

2 – Duas outras fotografias do casarão em períodos diferentes de sua história, acervo da família Alves de Lima.

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Casa – Avenida Moaci, 649

Para preservar a imagem do passado de Moema, o blog São Paulo Antiga está fotografando todas as casas do bairro que ainda resistem. Conheça mais uma pequena remanescente, localizada no número 649 da Avenida Moaci.

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25 respostas

  1. A casa onde abriga a Tejofran, é uma viagem ao passado, os vitrais são divinos, tem uma claraboia que divide as salas onde os espelhos são de um cristal jamais visto. Amoooo passear por estas salas. ❤️

  2. O casarão é maravilhoso temos que torcer para que seja mesmo tombado pelo patrimônio do Estado de São Paulo. O governador, vem prometendo desde os quatro anos anterior muitas coisas nesse sentido. Porém não estou vendo nada ser feito.

  3. A fazenda foi vendida ao Exército.
    O sobrenome da família sinaliza parentesco com o Duque de Caxias.
    Será isso mera coincidência?

  4. O grande problema dos imóveis do centro é que pouca gente quer se aventurar a morar no centrão devido a violência, aos assaltos, aos “nóias” e ao fato de ser praticamente deserto a noite.

  5. Adorei saber sobre os casarões que ainda sobrevivem na Rua Gaianazes!
    Nos anos de 1960 cursei a velha FFCL da USP cujos laboratórios de Química que diariamente frequentei na época, ficavam na esquina Glete X Guaianazes … lembro saudoso de tudo …
    Meus contemporâneos alunos da Geologia, que compartilhavam conosco o espaço “gletteano” (não sei porque razão naquela época “desprezávamos” a Guaianazes) também saudosos do local onde, nos tempos do presidente Juscelino, o curso de Geologia foi criado no Brasil, registram memórias no site :
    http://www.figueiradaglete.com.br/
    A página inicial desse site tem a imagem de outro casarão da Guaianazes, onde estudamos. Tal casarão tem uma história que se liga àquela da Vila Maria Zélia, lá do Catumbi. A história é meio triste mas é bonita e digna de ser conhecida. O tal casarão foi demolido lá por 1970 mas uma frondosa figueira do terreno ainda se conserva lá, como uma das poucas árvores tombadas do município …
    Sergio

  6. O casarao encontra-se ja tombado, sou caseiro e responsavel pela casa a mais de 23 anos, a casa fica aberta durante o dia para circular ar nao para deteriorar, a casa esta bem bonita e cuidada por dentro, tanto que 2 quartos houve reforma para manter o seu estado original, boa materia. Boa sorte.

      1. O projeto original é do escritório Ramos de Azevedo posteriormente modificado para o atual pelo arquiteto frances Jacques Pilon .

  7. Muito lindo esses casarões!! Moro tão longe e tenho verdadeira adimiração por eles!! Sempre procuro na internet!! Ainda quero fazer uma visita há são Paulo e visita-los um a um!! Sou louca por eles!! Alguém sabe me dizer se tem algum lugar expecifico pra informação de como entrar neles? Em São Paulo?

  8. Otaviano ou Octaviano Alves de Lima era meu tio-trisavô, suposto irmão de Militão Alves de Lima, meu trisavô por linha paterna.

      1. Ola,Você conheceu ou conhece alguém da família do Joaquim Bento Alves de Lima?Penso que esse Otaviano não tenha a ver com o mesmo Joaquim que estamos pensando,procuro pessoas que conheçam a familia do Joaquim Bento que foi proprietário da fazenda do Taquaral em Campinas e que foi um dos maiores colaboradores para a fundação do MASP em São Paulo.Ele tinha um palacete em Santos que ficava próximo de onde é hoje a pinacoteca Benedito Calixto,sua esposa era neta do José Bonifácio de Andrada e Silva e minha avó trabalhava como cozinheira da família e como conta minha mãe eram pessoas formidáveis que tratavam maravilhosamente seus empregados,queria muito encontrar alguém da familia desse homem extraordinário e descendentes do seu filho, Silvio Alves de Lima.

        1. Otaviano e Joaquim Bento eram irmãos, filhos de outro Otaviano, fazendeiro em Capivari-SP.
          Otaviano e Joaquim Bento casaram-se com duas irmãs, Ana (Don’Anna) e Isaura, filhas de Antonio Carlos da Silva Teles. Foi esse Antonio Carlos que doou o terreno para que Ana e seu marido Otaviano construíssem a casa hoje chamada de “Casarão de Don’Anna”. Também era de propriedade de Antonio a Fazenda Chapadão (e talvez também a Fazenda Taquaral) em Campinas. E você tem razão, Soninha, a Fazenda Taquaral esteve em mãos do casal Joaquim Bento e Isaura. Por causa disso a Lagoa do Taquaral tem oficialmente o nome de Isaura Teles Alves de Lima.

      2. Irmão ,era meu bisavô e o mais interessante que Octaviano era casado com Anna e o Joaquim Bento era casado com a irmã dela Isaura

    1. Boa tarde, Sr Marcelo! Sou Adilson Mangiavacchi, de 64 anos, bisneto de um imigrante italiano chamado Martino Mangiavacchi. Resido em Campinas – SP e estou escrevendo algo sobre a história da minha familia. Nas minhas pesquisas, descobri que meu bisavô chegou ao Brasil no ano de 1901, vindo da Itália, e foi trabalhar na fazenda de um Sr Octaviano Alves de Lima, proprietário de uma fazenda de café na cidade de Tietê- SP. Seria ele um seu antepassado? Seria esse mesmo Sr Octaviano, que foi proprietário da Faz Chapadão? Caso o Sr Octaviano, o fazendeiro de Tietê, seja seu antepassado, eu ousaria pedir ao Sr algumas informações para a minha pesquisa. Nada tenho a respeito da passagem dos meus avós por Tietê. É um período “em branco” na minha pesquisa. Sei que eles compraram um sítio em Monte Mor, em 1918, onde meu pai e eu nascemos. Estou na fase final do meu “livro” e gostaria muito de poder ilustrar um pouco mais aquele período da vida do meu nono. Assim, ficarei muito grato se o Sr puder dispensar um pouco do seu tempo para me atender. Seria ótimo se conseguisse algum documento daquele período, para ver se eles trabalharam naquela fazenda até 1918. Entretanto, eu ficarei muito grato se puder me passar alguma informação que me possibilite ir até àquela fazenda (localização, mesmo que aproximada). Estive em Tietê no ano passado, mas não consegui nada significativo. Ficarei muito grato se puder me atender! Se preferir, pode utilizar meu e-mail admangiavacchi@yahoo.com.br; ou o Facebook. Numa próxima ida a SP, vou ver se consigo visitar esse belo casarão! Muito obrigado!

  9. Atualmente o casal encontra-se restaurado. Uma cafeteria foi aberta no local, as salas estão sendo alugadas para coworking. Aparentemente também sediará uma chopperia. São 21 cômodos de pura história, glamour e espaço!!!

  10. Magnífica a história do nosso estado paulista e a como deveria ser bonita essa região nessa época…

  11. Morei muito perto dessa joia da arquitetura e me preocupava muito com a possibilidade dela ser demolida em nome do lucro. A notícia de seu restauro me encheu de alegria e estou me programando para ir até lá tomar um café e realizar o sonho de vê-la por dentro.

  12. Marcelo existia nos anos 60 uma exportadora de café sediada em Santos que levava o nome de A.Lima cujo diretor morava em SP e se chamava Joaquim Bento . É esse mesmo JB que você se refere como sendo seu bisavô ?

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