Cigarros para a Revolução!

Corria o ano de 1932 quando São Paulo foi o epicentro de mais um acontecimento histórico brasileiro: A Revolução Constitucionalista de 1932.

Iniciada por um estopim popular em maio daquele ano, o movimento nas ruas de São Paulo era de indignação contra o regime Vargas devido a ausência de uma constituição para o Brasil, além do desejo da volta das eleições já que Getúlio dissolveu o congresso, as assembleias estaduais e ainda passou a indicar os governadores (então interventores).

Uma vez iniciado o conflito ocorreu uma grande mobilização em São Paulo por parte de industriais locais para contribuir nos esforços de guerra da causa paulista. Fábricas pararam suas produções para produzirem capacetes, armas e até o dinheiro local.

Atendendo a uma solicitação da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), uma importante empresa paulista, a Sudan, fez uma doação bastante inusitada.

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Maior empresa produtora de cigarros do Brasil naquela época a Sudan era propriedade do empresário Sabbado D’Angelo, bastante conhecido no cenário paulista não só por suas atividades na fábrica como também em suas mobilizações em prol do automobilismo, o qual era entusiasta. Foi ele quem viabilizou, por exemplo, o Primeiro Grande Prêmio da Cidade de São Paulo no ano de 1936.

A contribuição da Sudan para a causa revolucionária foi uma doação bastante controversa: 1 milhão de cigarros para os soldados paulistas.

A matéria publicada no extinto jornal A Gazeta conta que a doação na verdade foi ainda mais por que isso. Um montante de 1.3 milhão de cigarros saíram da fábrica da empresa, na região do Glicério, diretamente para os soldados.

Aos olhos da década de 1930 a doação é absolutamente normal, afinal naquela época o cigarro era visto como algo relacionado a charme, elegância e glamour. Mas sob a ótica atual o cigarro é um dos grandes inimigos da saúde pública.

Será que essa doação foi um gesto de altruísmo puro e simples ou a iniciativa visava fisgar novos clientes ? Imagine quantos jovens soldados nunca fumaram até o momento em que ganharam um pacotão de cigarros de presente.

Soldado paulista feliz e fumando em arte de época de Diógenes Duarte

FATO NÃO ERA NOVIDADE:

Doar cigarros para soldados em fronte de batalha não era uma novidade criada para apoiar o exército constitucionalista de São Paulo. O cigarro substituiu outro hábito que era comum entre a população mundial e também com soldados até o século 19: mascar tabaco.

Durante a Primeira Guerra Mundial grandes fabricantes de cigarro dos Estados Unidos e Europa já doavam o produto para os combatentes do conflito. E o hábito continuou durante Segunda Guerra quando a publicidade passou a lucrar fortunas com o gesto, associando as marcas doadas à valentia dos soldados.

Neste link você confere uma série de cartões postais da Primeira Guerra Mundial com soldados fumando.

E você acha que estas doações eram benéficas ou um malefício ? Deixe seu comentário.

Bibliografia consultada:

  • A Gazeta – Edição de 16/07/1932 pp 8
  • 1932 Imagens de uma Revolução – Villa, Marco Antonio – pp 141
  • A Cigarra – Edição de agosto de 1932
  • História do Mundo (site) link visitado em 25/03/2019
  • World War Postcards (site) link visitado em 26/03/2019
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7 respostas

  1. Nunca tinha ouvido falar disso!! Como os fatos, as ações, são marcados pelas épocas! Somos tão conjunturais!!

  2. Já tinha conhecimento do charme do cigarro em filmes de tempos atrás, mas doações para soldados, ainda não.Parabéns ao São Paulo Antiga, por essa interessante pesquisa!

  3. Na guerra do Vietnam os soldados americanos recebiam drogas bem piores do próprio Estadi

    1. naquele tempo a noção de saúde era diferente, anos 60 ainda se via muitos idosos cheirando o rapé, totalmente aprovado para os padrões da época.

  4. Vamos deixar de ser hipócritas, naqueles tempos o hábito de fumar era socialmente legitimo. Vamos ver daqui a 10 anos, o que vão dizer sobre coisas tão nocivas quanto refrigerantes, salgadinhos, pizzas e tantas outras coisas nocivas à saúde. Ou será que sò por não serem vícios, podem fazer mal a vontade? Hipocrisia pura. O tal do “politicamente correto”. Eita humanidadezinha falsa.

    1. Julgar pelo crivo atual uma ação do passado não faz sentido. No contexto da época, a iniciativa era valida tanto do ponto de vista do bem-estar dos soldados quanto da propaganda.

  5. Pura hipocrisia do “politicamente correto”. O cigarro naqueles tempos, era socialmente aceito, igualmente hoje são aceitas tantas outras porcarias, tão nocivas ou atè piores (refrigerantes, salgadinhos, drogas, pancadões e etc.). Eita humanidade FALSA.

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