CODIQ – Uma empresa do Grupo Jafet na Lapa

O olhar atento e o registro das transformações da cidade nem sempre foram fáceis como hoje em dia quando, com o celular, é possível captar instantaneamente qualquer imagem que se queira.

Ter a máquina fotográfica a mão, ter comprado o filme, bater as 24 ou 36 fotos, mandar revelar… Tudo era muito mais complicado (e caro), porém apesar disso e sempre que possível conseguia registrar algumas construções que me chamavam a atenção.

Um destes casos foi na Lapa onde numa fábrica, um logotipo, no topo de uma torre, me chamava a atenção na década de 1980 e da qual tirei duas fotos. Passados mais de 30 anos e com a existência do São Paulo Antiga, resolvi pesquisar a história daquele conjunto industrial que havia registrado.

No lugar deste condomínio outrora existiu uma empresa (Foto: Google Street View)

Hoje, quem mora no condomínio “Spazio Dell’Acqua” (vide foto acima) na Lapa não imagina que ali existiu uma importante empresa dedicada a montagens industriais que pertencia ao grupo Jafet, potência econômica cujas raízes paulistas encontram-se no bairro do Ipiranga.

Para se ter uma ideia, o grupo em 1955 era composto por 15 empresas entre mineradoras, usinas siderúrgicas, tecelagens, montadoras industriais, transportadora e um banco. Dentre estas empresas estava a CODIQ.

Crédito: José Vignoli (clique para ampliar)

Inicialmente denominada como Construtora de Distilarias Instalações Químicas S/A já estava, no início da década de 1940, constituída e funcionando na Rua Passo da Pátria, 1515 no bairro da Lapa num terreno de 53 mil metros quadrados. (Não está escrito de forma errada, é distilaria mesmo*¹).

Em 1950 tem sua razão social então como CODIQ S/A Construtora de Equipamentos Industriais e passa a ter os membros da família Jafet como acionistas e diretores, entre eles Ricardo Jafet que foi presidente do Banco do Brasil na era Vargas e que hoje dá nome a importante avenida de São Paulo.

A empresa mais importante do grupo era a Mineração Geral do Brasil Ltda., do ramo da siderurgia, localizada em Mogi das Cruzes e que era a maior siderúrgica de São Paulo na sua época de atuação. Segundo Jacques Marcovich, o envolvimento da família na política e a incapacidade de incorporar inovações tecnológicas levou a empresa a pedir concordata (hoje Recuperação Judicial) em janeiro de 1965 quando teve sua produção interrompida trazendo sérias consequências para todo o grupo.

Não entrando em detalhes que não vem ao caso neste relato, o fato é que em 28 de julho de 1967 através do Decreto-Lei número 280 a empresa foi incorporada a então estatal CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). O interessante neste fato é que a CODIQ e uma outra empresa do grupo também constavam desta incorporação que criou então a COSIM – Cia. Siderúrgica de Mogi das Cruzes.

Não sabemos se suas atividades de projetos e montagens industriais tiveram continuidade ou se a incorporação se deu somente por razões legais ou financeiras ocasionando a paralisação de suas atividades fabris. O fato é que apesar de tudo o prédio da CODIQ ainda estava íntegro em meados da década de 1980 quando tirei as fotos.

Para não deixar esta história sem um final, a COSIM entrou no programa de privatizações do governo federal em 1987, foi vendida por US$ 43,4 milhões, mas acabou encerrando suas atividades e tendo suas instalações implodidas em 30 de agosto de 1998 com o terreno sendo finalmente desmembrado.

O terreno e prédio da CODIQ ,por fazerem parte da COSIM,  também entraram na privatização e tudo foi posteriormente vendido para a construção do atual condomínio.

anúncio – privatização / COSIM (1987)

A CODIQ acabou sendo um apêndice desta história, mas aí está mais um pedacinho da memória industrial da nossa cidade.

CURIOSIDADE:

O filme nacional “Eles não usam black-tie”, de 1981, que conta a história de Otávio, militante sindical que organiza um movimento grevista em uma metalúrgica, teve cenas gravadas dentro das instalações da CODIQ.

Abaixo, uma das cenas com Carlos Alberto Riccelli. O elenco conta também com outros grandes atores do cinema brasileiro, como Fernanda Montenegro, Milton Gonçalves e o personagem principal Gianfrancesco Guarnieri .

Divulgação

NOTAS:

Distilaria: Do verbo distilar, é o mesmo que destilar. É separar componentes químicos por evaporação e condensação de vapores.
– Destilaria: Local em que se processa a destilação.

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS:

– Artigo do Jornal O Diário de Mogi das Cruzes http://www.odiariodemogi.net.br/grupo-shibata-arremata-area-da-antiga-cosim-em-mogi/
– Decreto Lei 280 – https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-280-28-fevereiro-1967-376477-publicacaooriginal-1-pe.html – Avaliação dos resultados da privatização do setor siderúrgico sob a ótica do valor econômico por Willian Cossernelli – FGV – 1988

Artigo atualizado em 23/07/2020 – Inserida informações do filme “Eles não usam black-tie”, gravado no local.

Compartilhe este texto em suas redes sociais:
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Siga nossas redes sociais:
pesquise em nosso site:
Cadastre-se para receber nossa newsletter semanal e fique sabendo de nossas publicações, passeios, eventos etc:
ouça a nossa playlist:

Casa – Rua Sinimbu, 296

Conheça uma velha casa em situação de abandono na parte mais esquecida e negligenciada da Liberdade e saiba um pouco mais sobre o velho e histórico casario da região.

Leia mais »

22 respostas

  1. Certas estruturas industriais, se houve processamento quimico e contaminacao de solo, nao valem a pena ser preservadas.

    No entanto, galpoes historicos com contaminacao superficial, facil de se limpar, e com detalhes unicos de construcao ( Trelicas, tijolo exposto, Janeloes, ) ai sim vale a pena a recuperacao e reposicionamento.

    Abaixo seguem alguns exemplos interessantes….

    https://photos.app.goo.gl/DQqfmftJMnWoV5mp7

    Antiga cadeia municipal
    https://photos.app.goo.gl/NAHkPwhMHAUMJTWo6

    Possivelmente fabricas de calcados
    https://photos.app.goo.gl/xqKR4YejMvFPFXidA

    Armazem e fabrico de tabaco
    https://photos.app.goo.gl/tQb3X41coFPqK6i5A

    1. Meu pai trabalhou nesta empresa. Eu estudei no colégio (Segundinho) em frente.
      O filme ” Eles não usa Black Tie “, de Gianfrancesco Guarnieri, foi filmado nas instalações da CODIQ e eu presenciei várias gravações.
      Vi vários atores famosos bem de perto. Muito legal…

  2. Eu fui nascido em uma fazenda que pertence ao Rafael Jafet,esta fazenda aqui em São Carlos Sp ainda está em funcionamento ,me lembro de quando eles traziam equipamentos que já tinham ficado obsoleto ,e guardavam na tulha da fazenda ,eu era criança e tinha a maior curiosidade em querer saber pra que servia cada item daqueles ,que ali era depositado

  3. Nossa morei nesta região e estudei na escola em frente q virou posto policial, passava em frente todos os dias na volta das aulas, muitas saudades…

    1. Será que lembro de vce me chamo Leonardo irmão Nicola amiga Zilda Calu Arlete nego tabajara nossa tem tantos vce se lembra de alguém

  4. Pasei minha infância morando ao lado da codiq minha familia tinha um bar restaurante na esquina da rua carlos verber mudamos para freguesia do o.em 1959 eu sou jose lorenzo neto hoje tenho 75 anos

    1. Sr. José Lourenço, ficamos felizes em lhe trazer esta lembrança. O senhor teria alguma foto do bar/restaurante?

  5. Tenho 99% de certeza, que no antigo prédio da fabrica, foi filmado as cenas em fabrica no Filme ” Eles não usam black tie”, clássico realizado em 1980.

      1. O Sr. José eu é que lhe agradeço!!!! Pesquisei isoladamente pela internet qual erá a fabrica onde de deu a locação das cenas do filme. No começo deste ano com muito custo consegui faze-lo. Vossa matéria somente veio a corroborar minhas pesquisas. Obrigado mais uma vez.

  6. Tenho um cinzeiro em metal amarelo dessa metalúrgica, inclusive com porta-fosforo.

  7. Nasci na rua Tripoli e depois morei na rua Carlos Weber em fernte a CodiQ e fabrica de rendas Trussardi ,hoje Sesi .

  8. Spazio Dell’Acqua foi construido aonde era a industria PAGE – de borrachas – o predio da CODIQ é no terreno ao lado

  9. na época em que foi demolida a torre, passou no noticiario da globo e também saiu na folha de sp, se conseguir recuperar essas noticias da época seria bacana. há filmagem da implosão da torre.

  10. São as Memórias de um Passado em que havia muita Força de Vontade, Fé e Esperança, Lutas E Batalhas, Onde a Indústria Funcionava e As Profissões Tinham Valor.

  11. Ola morei neste bairro 1964 até 1980
    Muitas lembranças boa
    Rua Aquidaban 66 hoje e 72
    Na rua passo da pátria eu andava de bike
    Vi vários balões caírem na fábrica
    Tinha um bar que motorista que trabalhava na minha casa Osires ia comer feijoada
    Assisti esse filme ,️ Eles não usam Black tive 5 vezes hoje esse bairro só tem prédios
    Gostei da reportagem não sabia que era da família JAFET
    Nome forte no bairro do Ipiranga
    Dona violeta jafet tinha um palacete ao lado do museu está intaqueta até hoje

  12. Morei neste bairro 1961 rua cordilheiras depois rua Aquidaban 66 hoje 72 até 1980
    Lembro da fábrica pois andavade bike vi vários balões caírem na fábrica hoje bairro só tem prédio
    Não sabia que fábrica era da família JAFET forte nome no bairro Ipiranga onde dona Violeta Jafet tinha um palacete que está intacto até hoje bela casa do lado museu Ipiranga .

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *