O banco da Cia Mogiana da Estação Júlio Prestes

Quando gostamos do que fazemos dá pra encontrar pauta até quando não estamos procurando. E foi o que me aconteceu dias atrás quando precisei utilizar o trem da CPTM, embarcando na Estação Júlio Prestes rumo a Jandira.

Enquanto aguardava a próxima composição, resolvi descansar em um dos bancos “tipo de praça” que estão instalados na plataforma. Foi quando reparei algo bem interessante em um deles:

O entalhe entrega: o banco foi da Companhia Mogiana (clique para ampliar)

Este banco adornado com ramos de café não é original desta estação ferroviária. Aliás, nem mesmo do tempo em que ela ainda sequer era da FEPASA, ou seja, dos tempos da extinta Sorocabana. O banco pertenceu, na verdade, a alguma estação de outra empresa extinta: a Companhia Mogiana.

O seu característico “CM” está lá presente e felizmente veio parar em uma estação de trem ainda ativa.

Fundada em 1872 por produtores de café, a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro inaugurou seu primeiro trecho, Campinas – Jaguariúna, em 1875. Anos depois, chegou a Ribeirão Preto e estendeu um ramal para leste. Mais adiante, adquiriu pequenas ferrovias e construiu ramais na região norte do estado de São Paulo e na região sul de Minas Gerais.

clique na foto para ampliar

Ao longo da plataforma há outros 10 bancos, todos padronizados nas cores cinza e vermelho da CPTM e todos com ramos de café decorando. Entretanto apenas este possui as inscrições da Mogiana, os demais são um pouco mais simples.

Por mais simples que um banco desses venha a ser, encontrá-lo ali preservado é de fato uma grata surpresa. Com o sucateamento das diversas ferrovias espalhadas pelo Estado de São Paulo e no restante do Brasil, o patrimonial de estações, armazéns e até mesmo vagões, carros e locomotivas foram em grande parte desfeitos.

Um giro em leilões e antiquários sempre acabamos encontrando relógios de estação, pias, apitos e outros objetos que acabaram por se transformar em memorabilia. Contudo, como não se tem notícia de leilões de espólios ferroviários por ai, dá para concluir que estes materiais oriundos de antigas ferrovias na maioria das vezes foram furtados.

Felizmente este banco ferroviário teve um destino muito melhor. Ao invés de ir pra coleção de alguém, continua servindo seu propósito de sempre: acolhendo passageiros que buscam um descanso até o trem chegar.

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24 respostas

  1. Parabéns pelo seu trabalho em preservar a cultura, tão desvalorizada hoje em dia.
    Ari Fiadi

  2. Olá Douglas, tudo bem?

    Muito interessante este achado.
    Meu pai trabalhou por ~10 anos na CM entre 1957 e 1967.
    Tenho na varanda do meu apartamento um banco de trem da CM daquele tipo em que o encosto é escamoteável.
    Ele trouxe para casa qdo ainda trabalhava na CM e o vagão ao qual o banco pertencia estava sendo desmontado para literalmente ser jogado no lixo. Ele então recuperou 2 desses bancos sendo que um está comigo e outro com minha irmã.
    Se quiser, posso tirar algumas fotos e te enviar.
    Abçs

  3. Boa, Douglas!!!!!
    Excelente artigo!
    Ainda está faltando a história do casarão hoje ocupado por um Grupamento de Bombeiros nas esquinas da Santa Cruz com a Domingos de Morais. Ele pertencia à Guarda Noturna, que foi incorporada à Guarda Civil em meados de 1950, cuja foi incorporada à Força Pública em 1970 passando ambas a serem a atual Polícia Militar do Estado de São Paulo.
    O imóvel certamente terá uma história muito interessante e você com seu talento e faro poderá montar a história do casarão.
    Abraço
    Victor Saeta de Aguiar

    alphauno@hotmail.com

  4. Que excelente notícia. Fiquei feliz. Na minha infância, esse tipo de banco era comum nas praças públicas. Hoje, os bancos não têm encosto. E são tão baixos, que parecem feitos de propósito para nós, idosos, não sentarmos neles. Veja Praça Silvio Romero.

  5. Na estação Águas da Prata da Cia. Mariana tinha vários bancos desse que um ex prefeito da cidade mandou retirar da estação e colocar na sua chácara particular.

  6. Adoro esses bancos antigos. Tive a felicidade de ainda encontrar alguns quando estive passando férias em Águas de Lindoia e Monte Sião, em maio deste ano. Diversos deles, nessas cidades do interior, ainda contam com propagandas. Isso existia no ABC, na década de 1970, porque essa região próxima à Capital Paulista ainda tinha ares de interior. Recordo-me com saudades, também, do passeio que fizemos, eu e minha família, à encantadora Bernardino de Campos, que mereceria uma matéria no blog São Paulo Antiga, oportunamente. Quem sabe meu pedido seja atendido. É um local para o qual preciso retornar ainda, após tanto tempo. Andei até sonhando com essa viagem.

  7. E pensar que outrora São Paulo era o estado com a maior malha de linhas de trens regionais, interligando todas as regiões do estado e a alguns vizinhos como Minas Gerais e Rio de Janeiro, e hoje você sequer consegue ir até Santos ou Campinas.

  8. que saudades! meu avô era funcionário da Sorocabana e uma tia doou um apito que ele guardava até sua morte ao museu do trem em Bebedouro-SP … que alegria ao ler a matéria….

  9. So porque fotografei a Casa das Caldeiras e a usei como referencia de marco em um de meus anuncios, no qual havia uma locomotiva em exposicao permanente, um certo dia, um caboclo novo rico, colecionador compulsivo, me chama sobre um imovel querendo comprar o Trem!!!!!! O tipo colecionava trens!!!

    Repliquei em um Sonoro NAO., O Trem nao estava a venda. Quase o mando para os quintos dos infernos.

    O que noto no banco de praca , e uma arte perdida, e algo ate relativamente simples de de fazer. A Arte do Ferro Fundido. De frontispícios de edificios a bancos de praca, e postes de rua, eis algo que tornaria a cidade interessante. E um oficio que, se assimilado, poderia dar muita oportunidade a pessoas que queiram trabalhar com as maos, e se libertarem da escravidao de escritorios.

    Basta saber talhar em cera ( ate porque hoje com Impressao 3D isto se tornou mais facil ainda ), usar areia perdida, e ter fundamentos basicos de metalurgia.

    Muito acabamento pre fabricado para o meu gosto, e muito mau gosto. Os Pseudo Capitalistas de hoje preferem mais fachadas envidracadas que envelhecem rapidamente, e absorvem fuligem e poeira.

  10. Lindo artigo, Douglas, e interessante também. Sou apaixonada por trens e suas estações antigas.

  11. A observação ao andar, a fixação do olhar em algo “diferente”, sempre nos mostra grandes tesouros que geralmente não são vistos. A preservação se deu devido a estar chumbado. Vândalos, que usariam o ferro para vender por uma ninharia não imaginam que ali há uma História que se confunde com a cidade e mostra uma outra época mais romântica.

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