Os bairros desconhecidos de São Paulo: Maranhão

Quando alguém pergunta sobre algum nome de bairro paulistano rapidamente alguns nomes vem à nossa mente: Brás, Mooca, Ipiranga, Liberdade. Contudo, existem alguns bairros paulistanos que já foram muito conhecidos e hoje ou deixaram de existir com seu nome original ou são pouco lembrados.

Aqui no São Paulo Antiga farei uma pequena série trazendo estes bairros para que conheçam um pouco mais. O primeiro deles fica na zona leste e é chamado de: Maranhão.

Bairro do Maranhão em mapa paulistano de 1905

Quando você pergunta hoje a um paulistano se conhece algum lugar em nossa cidade chamado Maranhão, a resposta mais provável que irá ouvir é um não. Entretanto esse nome remonta a um dos bairros mais antigos da zona leste e existe até os dias atuais.

O mapa acima, de 1905, mostra onde fica o bairro, que está situado entre o Tatuapé e a Penha de França.

Mapa de 1914

A região é bastante antiga, surgindo em documentos oficiais e de viajantes desde os tempos das sesmarias, porém como bairro a área existe ao menos desde a segunda metade do século 19, quando a região que era tomada basicamente por chácaras passou a ser timidamente habitada.

O bairro surgiu em torno de uma pequena capela, chamada de Santa Cruz do Desterro que ostenta o fato de ter celebrado em 1879 a primeira missa da região, que inclui os atuais bairros do Tatuapé, Parque São Jorge e Vila Carrão.

Com a a ferrovia parando nas proximidades da então chamada 6a Parada¹ a região passa a desenvolver-se mais rapidamente, sempre crescendo a partir do centro do bairro, estabelecido pelo templo católico citado acima.

Nas primeiras décadas do século 20 a velha capela está deteriorada e pequena demais para acomodar os fiéis da região, cada vez mais habitada. É neste momento que o local recebe uma nova , porém acanhada, igreja que passa a chamar-se Paróquia São José.

Como nas proximidades existiam já outras paróquias com o mesmo padroeiro, decide-se então pelo nome de São José do Maranhão a qual é conhecida até os tempos atuais. E o local onde ela foi erguida passa a ser oficialmente chamado de Largo do Maranhão².

Tendo a paróquia como principal impulsionador do desenvolvimento do bairro, devemos também atribuir a outros fatores como colaboradores, tal qual o serviço de bondes (até a Penha) pela agora chamada Avenida Celso Garcia, e o desenvolvimento fabril do Belenzinho e arredores que trouxe a necessidade de novas habitações para operários.

Com isso veio junto comércio, escolas, consultórios médicos, cinema e delegacia transformando por completo a outrora tímida região de São Paulo.

Os anos foram se passando e não só o bairro do Maranhão como seu entorno foram se desenvolvendo, surgindo nomes que hoje são até mais conhecidos, como Vila Moreira, Vila Gomes Cardim, Vila Zilda, Parque São Jorge e Vila Carrão. Todos estes situados ao redor do pioneiro Maranhão.

O mapa abaixo mostra como a região já estava completamente transformada na década de 1950:

Mapa da região em 1952

Em meados da década de 1950 com a chegada do padre Inácio Guarino, a Paróquia São José do Maranhão então pequena para as demandas do bairro, receberia uma nova construção para acomodar melhor seus fiéis. Seria o terceiro templo no local, que permanece até os dias de hoje.

Se por um lado o desenvolvimento da região foi um grande sucesso, com o tempo o termo ˝Maranhão˝ foi caindo em desuso por moradores e até por estudiosos. Atualmente são poucos os que lembram que este ainda é o nome do bairro, sendo que muitos confundem o local como Parque São Jorge, Tatuapé e até Vila Carrão.

Na foto o São José que fica diante da entrada da igreja

Quando estive na região para fazer esta matéria conversei com alguns moradores, quase todos com quem falei associam Maranhão apenas ao largo e não ao bairro.

O MARANHÃO HOJE:

Visitar a localidade nos dias atuais é algo bastante prazeroso e peculiar. A região situada entre a Avenida Celso Garcia e a Marginal do Rio Tietê tem uma atmosfera que nos remete mais a uma pequena cidade do interior do que a um bairro em si.

Basta chegar ao largo para se ter a noção que tudo no bairro se desenvolveu a partir da li. É no entorno da paróquia que estão as construções mais antigas, algumas delas anteriores ao templo atual.

Um dos imóveis mais antigos da região, construído em 1936 (clique para ampliar)

Temos a direita da igreja uma bonita edificação antiga, de 1936 (foto acima) onde uma padaria funciona no térreo e o andar superior parece ser destinado para habitação. Ao redor encontra-se várias outras residências antigas, infelizmente a grande maioria delas com suas fachadas modernizadas.

No lado esquerdo do largo encontrei uma residência muito antiga, em ruínas, que de longe é a mais longeva da região, em um estilo arquitetônico que nos remete aos primeiros anos do século 20. Destelhada, ela ainda mantém a estrutura original e está à venda, como mostra a foto a seguir:

Um passeio pelo bairro do Maranhão, ou Chácara Maranhão como também é conhecido, revela muitas casas antigas, ruas tranquilas e um cenário de bairro pacato que está cada vez mais difícil de se encontrar por São Paulo. Quando tiver a oportunidade visite a região, especialmente aos domingos ou em época de festas juninas. A sensação de estar em outro lugar que não a nossa agitada metrópole é facilmente perceptível.

Paróquia São José do Maranhão

Notas:
1 – Posteriormente a 6a parada receberia o nome de Estação Engenheiro Gualberto. Com a chegada do metrô na região (Estação Carrão) a velha parada de trem foi caindo em desuso até ser desativada e demolida no ano 2000.
2 – A oficialização do logradouro deu-se pela Prefeitura do Município de São Paulo em 24/10/1922

Bibliografia consultada:

  • Correio Paulistano – Edição de 24/05/1887
  • Site Dicionário de Ruas – consultado em 10/06/2018 – link
  • Site Estações Ferroviárias – consultado em 11/06/2018 – link
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17 respostas

  1. Muito boa matéria, fui conhecer esta região de São Paulo e notório quando andamos pela ruas m senti em um bairro de uma cidade do interior, porém com os recursos da capital.

  2. Morei nessa região entre 1962, quando nasci e 1971 quando eu e minha família nos mudamos para o Campo Belo que na época era bem mais “selvagem” com ruas de terra, ainda bem cheio de alemães e 0 prédios. Os mesmos começavam a ser construídos em moema e indianopolis, mesmo assim se via um ou outro.

  3. Douglas, PARABÉNS!
    Tenho acompanhado o SITE, vendo e verificando o processo de pesquisa, algumas fotos de fato são únicas, o trabalho publicado demonstra o carinho e respeito ao tema São Paulo.
    Obrigado e mais uma vez PARABÉNS.
    Att
    Carlos Pompeu

  4. Adorei saber, estou sempre passando ali e pra mim Maranhão era só a praça, obrigada.

  5. Gostei muito da matéria.
    Mora a alguns anos no Maranhão e não sabia dessa história.
    Contribuição muito valiosa. Parabéns pelo trabalho

  6. Adorei a matéria, trouxe muitas curiosidades e informações sobre o bairro.
    Sempre passo por lá e não imaginava quanta história o Largo São José do Maranhão tem.
    Parabéns!!

  7. Muito bom descobrir a história de cidade de São Paulo que é efêmera.

    A matéria está excelente!

    1. É interessante notar que, no mapa de 1905, o curso d’água foi denominado “AricanduRa”, com “R”, e não Aricanduva que, como sabemos, posteriormente, deu nome a essa importante região de São Paulo. Como Aricanduva em tupi-guarani quer dizer “lugar onde há palmeiras airis” deduzo que o correto é realmente Aricanduva e a troca do “V” pelo “R” no mapa foi apenas um erro de compilação ou coisa parecida.

  8. De minhas idas do Brás à Itaquera, em minha infância, lembro bem do nome 6a. parada, mas não tinha ouvido falar em Maranhão.

  9. Nasci e cresci neste bairro, Lgo S. Jose do Maranháo , 340. O imóvel mostrado acima, que hoje e uma padaria, já foi uma (venda) chamada Casa Flor do Maranháo, de propriedade do sr. Carlos Alberto Baptista. trabalhei nesse armazém de 1959 a 1961, quando tinha 12,13 anos, depois me mudei, com minha família para Campinas. A casa onde nasci era habitada pela minha família, também moravam meus avos, dois irmãos do meu pai com suas respectivas famílias, nos chamávamos esse imóvel de Casa Grande. Em 2000 escrevi uma crônica contando sobre como era morar nesta casa. Lembro quando a atual igreja começou a ser erguida, o pároco da época era o padre Luiz do qual cheguei a ser coroinha. Poderia ficar a escrever por horas, contando as boas lembranças da época.

    1. Bom dia sou Cristiane estudante da faculdade Uninove, estamos fazendo um trabalho sobre apresentar em sala de aula um bairro de São Paulo estamos querendo montar um maquete apresentando o bairro. Nosso grupo teve o interesse nesse porque é uma bairro pouco conhecido, queria te perguntar se podemos usar esse depoimento seu na nossa apresentação por você já ter morado no local e conhece bastante.

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