Pinguim, o fiel amigo e os remanescentes do cemitério de animais

Nesta que é a terceira e última parte de uma série de três textos sobre a história da União Internacional Protetora dos Animais em São Paulo (leia as partes 1 e 2 aqui), vamos falar um pouco mais de um assunto que já abordamos no texto sobre o hospital e cemitério de animais.

Quando falamos sobre o cemitério, explicamos que o mesmo foi desativado e destruído em 1972 por decisão da prefeitura paulistana para expandir o Parque do Ibiraquera e eliminar as atividades que não eram relacionadas ao parque que ainda existiam no local. Foi assim que a pequena necrópole de animais deixou de existir.

Cemitério de Animais em 1955
Cemitério de Animais em 1955

Apesar da insana e desnecessária destruição do local, já que em vários países do mundo parques convivem com cemitérios em total harmonia, nem tudo que estava ali desapareceu, sendo que há três lembranças do que outrora foi o cemitério de animais da UIPA no Ibiraquera. Duas delas estão ali mesmo no parque e a outra na própria sede da UIPA no Pari.

PINGUIM, O FIEL AMIGO:

clique na foto para ampliar
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A obra tumular ainda no Ibirapuera mais interessante, remanescente do antigo cemitério, é a mais difícil de se observar. Trata-se de um pequeno túmulo em formato de obelisco erigido em homenagem a um cão chamado Pinguim. O fiel amigo de Nina e Nice viveu de 1937 a 1946, quando foi sepultado no então Cemitério Zoófilo da UIPA.

Apesar do túmulo estar na área onde estava o antigo cemitério, é possível que apenas o obelisco tenha sobrevivido e não os restos mortais de Pinguim. Isso se dá ao fato do local original deste túmulo não ser exatamente ali e já ter sido movido de sua posição original algumas vezes desde 1972. Atualmente ele está ao lado do restaurante, próximo do portão 5.

Quem seriam Nina e Nice ? Você leitor que tiver alguma idéia de quem seriam essas pessoas, entre em contato conosco ou deixe um comentário.

O PASTOR ALEMÃO:

Foto: Reprodução

Algumas pessoas mais distraídas que percorrem a pista de cooper do Ibirapuera tomam um susto ao observar uma grande cruz de pedra entre as árvores próximas. E acabam por pensar que se trata de alguma marcação simbólica da igreja católica, mas na verdade trata-se de algo mais curioso.

A enorme cruz é o outro túmulo remanescente do antigo cemitério de animais da UIPA que havia no local. Apesar de não haver nenhuma informação mais escrita diante da cruz, é sabido que trata-se do túmulo de um pastor alemão.

Esta cruz pode ser vista na primeira foto que abre este artigo. Apesar de algumas pessoas afirmarem que até hoje este túmulo encontra-se no local original, o São Paulo Antiga não corrobora esta informação em virtude da grande mudança do local nos últimos 43 anos e pelo fato de não haver mais a planta do cemitério. Apesar disso, é seguro dizer que a cruz do pastor alemão está na área do antigo cemitério.

A ESCULTURA DE RAPHAEL GALVEZ

Foto: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

A mais significativa obra de arte tumular do extinto cemitério de animais de São Paulo foi salva da destruição. Trata-se da escultura da foto acima e que adornou o mais suntuoso túmulo que existiu na antiga necrópole. É uma belíssima escultura de uma mulher chorando a dor da perda de seus cães e foi esculpida por um dos grandes mestres do Liceu de Artes e Ofícios, Raphael Galvez.

A obra, talvez, seja até desconhecida por muitos admiradores do trabalho deste grande escultor brasileiro, uma vez que não encontramos referências a ela na maioria dos guias que falam de suas obras. As informações sobre os animais que estavam sepultados sob esta escultura se perderam com o tempo.

Detalhe da escultura (clique para ampliar)
Detalhe da escultura (clique para ampliar)

Ao contrário do túmulo de Pinguim e do pastor alemão que ficaram no Ibirapuera, a escultura de Raphael Galvez acompanhou a mudança da UIPA do Ibirapuera para o Pari e está até hoje no centro do pátio da entidade. Preservada para o futuro como uma eterna lembrança do cemitério que não eternizou seus sepultados.

Quer observar o monumento ? Faça uma visita a UIPA e aproveite para fazer um donativo a entidade ou, quem sabe, levar um novo animal de estimação para casa ? Há cães e gatos esperando por você!

Serviço:
Av. Pres. Castelo Branco (Marginal Tietê), 3200 – Pari – São Paulo – SP
Telefone Administração
(11) 3228-1462
Telefone Clínica
(11) 3313-1475
Email: uipasp@uol.com.br

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15 respostas

  1. Interessantes essas lápides para animais. Só achei meio inapropriada justamente a cruz em uma delas, como se o bicho em vida tivesse professado o Cristianismo.

    1. Então, JC, o fato é que o(s) dono(s), muito provavelmente, tinha essa crença e, com isso, transferiu essa devoção ao seu animal de estimação, como um consolo,como um modo de reconfortar-se. Eu acho bonito isso. Eu respeito todas as religiões. Eu respeito, sobretudo, essa fé que as pessoas demonstram em Deus, especialmente porque vivemos numa época conturbadíssima.Mas isso é outo assunto…

      1. Eu também respeito, embora não professe nenhuma. Sou ateu (na verdade, agnóstico, mas para explicar a diferença seria uma looooonga postagem), entretanto, acho que a cruz faz todo o sentido em determinadas sepulturas. Em outras, sentido algum (por exemplo, numa sepultura de um ateu, de um budista ou de um muçulmano, só para citar alguns casos).
        No caso dos animais, só pode ser mesmo essa a explicação. Cheguei a cogitar, inclusive. Mas isso realmente é outro assunto… (para usar seu termo…)

  2. Linda a matéria, sigo os seus posts por email e apesar de carioca, me interesso pela história da São Paulo antiga, cidade que morei por quase quatro anos. Forte abraço e continue seu trabalho, há admiradores!

  3. Lembro-me de haver passado uma ou duas vezes por esta cruz. Nem de longe atinava qual era o seu propósito. Concordo com o Sr. J. C. Cardoso, é uma exorbitância usar um símbolo religioso e de tamanho evidentemente exagerado, em honra a um cão, por melhor animal que tenha sido em vida. Advirto que, também, não tenho qualquer religião, mas, se tal a mim não melindra, outros, por certo hão de melindrar-se. Agora, falando do principal: O São Paulo Antiga, mais uma vez lavrou um tento, trazendo a luz uma parte da história da nossa cidade, história essa que eu ignorava, como talvez outros. Não tenho a menor dúvida que este “post”, juntamente com os dois anteriores, para mim, foram das melhores matérias que já li no SPA. Parabéns!!!!e

      1. Não acho que “exorbitância” seja a palavra certa, só acho que, em o cão não sendo cristão (como qualquer animal) não faz sentido haver o símbolo ali. Minha opinião seria a mesma se fosse uma estrela-de-Davi, o OM ou o crescente.
        Eu até entendo que o dono não tenha se ligado nisso e até tenha feito com a melhor das intenções. Nem vejo como ofensa ao Cristianismo (embora eu não seja cristão), só acho sem sentido. Qual a religião do animal?

        1. Só para encerrar: mesmo que houvesse um símbolo para o ateísmo/agnosticismo (nem sei se existe), ainda assim acho que não deveria estar ali, naquela lápide do animal.

        2. É óbvio que o animal não tem religião! Tudo foi feito pela crença de seu dono, para aliviar a dor da perda. Existem pessoas que não são fortes quando deparam-se com a morte e isso também vale para o animal de estimação, que muitas vezes, é melhor do que um ser humano.

  4. Em lugares como os Estados Unidos é comum ter cemitério de animais e até cemitérios sem nenhuma cerca para separar do restante da rua, aqui no entanto as pessoas se sentiriam incomodadas, mas isso não justifica o politico lá ter destruído o cemitério de animais.

    1. Sim, nos EUA e na Inglaterra são bem diferentes dos nossos. Em Portugal, por outro lado, são bem similares aos brasileiros. Imagino que tenha a ver com a formação religiosa do país (e acabou virando uma questão cultural).

  5. Sempre que saio das quadras do Ibirapuera em direção ao unico portão da quarto centenário (o 5) aberto lá pelas 23h, sempre me deparei com esse objeto em forma de obelisco do tal cão ”Pinguim”. Como sempre passo por ali a noite, nunca percebi que existe esses dizeres nela. Mais maluco ainda saber que aquele local foi um cemitério de animais.

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