Praça Jorge Cury

Sempre que visito a Aclimação me sinto muito confortável pelas suas ruas. É um bairro que é praticamente no centro da cidade mas que tem uma tranquilidade que só conseguimos em algumas regiões mais afastadas. Tem belos casarões que sobrevivem duramente a especulação imobiliária, ruas bastante arborizadas e principalmente um belo parque para lazer. E é diante do Parque da Aclimação que encontramos a bela e mal cuidada Praça Jorge Cury.

clique na foto para ampliar
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Originalmente grafada como “Praça Jorge Khury”, o nome é uma homenagem a um comerciante que foi bastante próspero na região da rua 25 de março. A área corresponde a própria praça em si, as escadarias e ao belo e mal cuidado mirante. Construído nos anos 50, o conjunto foi tombado como patrimônio histórico estadual pelo CONDEPHAAT no ano de 1986. A partir dele, no nível da rua Alabastro, era possível observar todo o Parque da Aclimação a as redondezas, hoje um pouco dificultado porque as árvores cresceram diante dele.

O fato de ser patrimônio histórico não significa que ele está bem cuidado, o que é rotina na capital paulista. Se por um lado a praça está consideravelmente limpa e com a grama sempre aparada, o mirante está totalmente descaracterizado pelo grafite que tomou conta de todo o monumento (foto anterior).

O mirante é o cenário do abandono (clique na foto para ampliar).
O mirante é o cenário do abandono (clique na foto para ampliar).

Particularmente, não sou contrário ao grafite, arte em que a Cidade de São Paulo é uma das referências mundiais, sendo que há muito grafite bonito de se ver pela cidade. Entretanto abomino completamente este tipo de intervenção artística em um bem tombado. Ao meu ver este grafite, seja ele autorizado ou não, é um desrespeito à nossa cidade e deveria ser removido dali.

Parece que vivemos numa sociedade avessa as regras e aos limites. Não sabemos em nossa sociedade o limite entre o protesto e o vandalismo, entre os direitos e os deveres e, principalmente, entre a liberdade (a qual incluo o grafite) e ao respeito para com a sociedade. Há tantos muros esperando um grafite pela cidade e vai logo se vandalizando um bem tombado ? Não pode ser assim, uma sociedade que se julga civilizada precisa respeitar regras e aceitar limites. O São Paulo Antiga repudia veementemente o grafite em logradouros tombados.

Por fim, isso a parte,chamou a atenção o fato de que há pessoas vivendo dentro do mirante, em uma portinhola que é acessível pelo centro da construção, isso também está incorreto.

Abaixo mais duas fotografias do Mirante da Praça Jorge Cury:

Crédito: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga
Crédito: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

No passado local quase foi destruído pela Eletropaulo:

Pouca gente sabe mas em 1990, quatro anos após seu tombamento a nível estadual, a Praça Jorge Cury e seu mirante correram um sério risco de desaparecer por completo. Naquele ano, a Eletropaulo entrou com um pedido de destombamento do bem para que pudesse iniciar sua demolição com o objetivo de no local construir uma subestação de energia. A união dos moradores da Aclimação e de frequentadores do parque, através de abaixo assinado, foi fundamental para que o projeto fosse modificado e o local preservado.

Espero que como sobreviveu ao perigo da demolição, a praça e o mirante também sobrevivam ao vandalismo e a falta de bom senso de quem não respeita um bem histórico.

E você, é favor ou contra o grafite em um bem tombado ? Deixe seu comentário!

Veja mais fotos da local (clique na foto para ampliar):

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22 respostas

  1. Sou contra grafite em bens tombados, mas o estado de abando no qual estava o mirante antes do grafite, para mim, justifica a intervenção. Nas fotos aqui publicadas, é possível ver pichações (o que é repugnante e bem pior que grafite, convenhamos), partes quebradas e outras situações de desgaste.

  2. ACHO HORRIVEL E DEGRADANTE. DA UMA SUPER MA IMPRESSAO DE SUJEIRA

    NA CIDADE, ALEM DE UM ABANDONO TOTAL.. QUEM QUIZER MOSTRAR SUA ARTE, QUE FACA NAS TELAS COMO QUALQUER OUTROS GRANDES ARTISTAS O FAZEM.

    1. O graffiti assim como qualquer intervenção urbana independe de autorizações ou aprovações para existir, portanto o seu comentário fascista dizendo onde deve ser feito o graffiti, é de nenhuma relevância.

  3. O grafite como forma de expressão artística é válido, mas jamais em bens tombados ou monumentos. Nestes suportes ela vira pichação!!!!!

    1. Graffiti (Dessa forma viu!? Grafite é o que existe dentro do lápis) e pichação se distinguem pela estética das letras e não pelo local que foi feito.

  4. Douglas, bom dia!
    No livro “Conjeituras, Sobretudo” eu digo que “grafiteiro é artista e pichador é porco”.
    A base de toda a arte é a sensibilidade, mas há naturalmente outros elementos nessa composição e a habilidade e a criatividade ali estão presentes.
    Ser artista é fruto da soma de no mínimo esses três elementos essenciais.
    Quem deteriora uma outra obra, especialmente quando ela é um bem tombado; quem não tem respeito pelo trabalho do semelhante, pode ter habilidade e também criatividade, mas lhe falta, além do respeito humano, a sensibilidade para que possa ser considerado um artista.
    Quem age desta forma, deteriorando um patrimônio que é de toda a comunidade, está mais para pichador que para artista.

  5. São Paulo já é, em si mesma,multicor. Grafite? Causa cansaço visual e confere um ar de decrepitude. Arte? Totalmente questionável.

  6. Vivemos numa epoca que seria ridicula se nao fosse de uma tristeza mortal no sentido estetico. Nunca a nossa sociedade foi tao vazia de qualidade estetica como a atual; parece que a beleza fugiu de nos e das nossas cidades nos ultimos 40-50 anos. Nao sò, mas temos um gosto sadico em torturar (abandonar, pichaçar, grafitar) memorias do passado que nos fazem lembrar a beleza perdida, em quanto construimos cidades esqualidas. E nao è sò um problema brasileiro. A nossa vida inteirinha sofreu uma total banalizaçao, que inevitavelmente espelha-se nas cidades onde vivemos.
    Atè a idade-media foi capaz de construir catedrais, quando o nosso tempo parece incapaz de ir alem de caixas de sapatos, com varanda e churrasqueira ou terraço gourmet.
    Entao nao maravilha que possam chegar à tona debates sobre grafitismo como forma de arte. Nao quero com isso dizer que o grafitismo è infantilismo artistico, mas infelizmente muitas vezes è assim; tem uma equaçao entre nivel espirituali/cultural e sentido estetico e entre os dois e beleza/qualidade estetica das cidades de hoje. Por isso ainda nao dà como comparar uma cidade historica, na harmonia das formas (o delicado equilibrio entre vazio e cheio, entre espaços publicos e particulares), das pinturas e dos “frescos”, com as cidades de hoje com seus grafitismos. E isso nao è uma opiniao.

  7. Contra.

    No local, deveria ser feito um museu do bairro, o qual abrigou o primeiro zoológico de SP e já fora, quem diria, isolado do centro, com um bonde que percorria uma estrada até o atual parque, saindo da atual praça João Mendes.

  8. O grafite é uma arte bonita ,mas desta maneira ela está ofuscando e maltratando a arte maravilhosa do nosso patrimônio publico.

  9. Não existe respeito pelo bem público, o poder Executivo é incompetente na manutenção do patrimônio, a segurança pública desprovida de orientação na manutenção da integridade, o poder Legislativo do Município ignorante e desleixado das/nas suas prerrogativas, o cidadão comum desprovido de senso comunitário e mal representado nas diversas esferas de poder. Parece que Cultura e longevidade histórica são fatores diretamente proporcionais e interdependentes.

  10. Ola Douglas morro ai perto dessa praça em frente ao parque da Aclimação e me incomoda profundamente esse vandalismo e o pior moradores sem teto, drogados e desocupados querem se apropriar do local , desse mirante, como cidadã o que posso fazer?
    obrigada

  11. Sou contra o grafite em patrimônio histórico. Lamentável, um lugar tão lindo tão abandonado.

  12. Muito bom seu artigo hoje existem pessoas morando no espaço embaixo do mirante algo que também não deveria acontecer.

  13. Agora está praça está jogada as traças, sem policiamento as drogas rolam a toda hora e todo momento. Com a pandemia ficou pior: motoboys tomaram a praça como escritório, trafico de drogas dentro de carros, usuários de drogas nas escadas e assim cidadãos idosos ou famílias com crianças – desviam ou não passam por ela. Local péssimo agora!
    Não recomendo!

  14. Tinha um projeto de reforma para 2017 e até agora nada. Esse local realmente está abandonado, o mirante precisa de uma restauração logo para não cair.

  15. Comentei sobre isso na postagem do Prédio João Carrieri. Liberdade de expressão não quer dizer vandalismo. Grafite em um bem tombado, na minha opinião, não combina.
    Em Santo André, a pichação no histórico prédio dos correios foi resolvida. Colocar câmeras e punir quem vandaliza os prédios, sobretudo histórico, é uma ótima solução.
    Muitos lugares de São Paulo ficaram abandonados, infelizmente.

  16. Considero o grafite uma arte, acho que devemos incentivar os artistas a se manifestarem, deixando os painéis limpos (como telas em branco) para eles, pois trazem cor e arte para a cidade. Sou aluno de paisagismo, estou fazendo um projeto de revitalização dessa praça e a professora explicou que em uma obra tombada como essa, não é permitido alterar a estrutura e a forma, porém revestimentos, cores e iluminação é permitido, isso inclui manifestações culturais como o grafite. Recomento o documentário “Cidade cinza” que aborda esse assunto de forma brilhante.

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