Casarão demolido – Rua Humberto I, 115

O volume de material que produzimos ou que recebemos de nossos leitores é muito grande e há ocasiões em que infelizmente alguma foto ou histórico fica para trás. Recentemente ampliamos o trabalho de triagem e documentação para colocar os atrasados em ordem e encontrei fotos de um casarão que não existe mais.

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Este casarão estava localizado no número 115 da rua Humberto I, na Vila Mariana, e foi demolido no final do ano de 2013. Uma das construções mais antigas de Vila Mariana, não teve sua idade e importância levada em consideração nem por quem a derrubou, muito menos pelos órgãos de defesa do patrimônio histórico.

Embora sua data de construção não seja conhecida, é bem possível que este imóvel seja oriundo do final do século 19 e tenha feito parte da extinta fábrica de fósforos que havia no bairro.

Observando o mapa abaixo, de 1905, é possível ver que a área do casarão está bem onde ficava a fábrica:

Mapa parcial da Vila Maria em 1905
Mapa parcial da Vila Maria em 1905

O traçado desta região mudou pouco e apenas alguns nomes de rua foram mudados. A rua Jabaquara no mapa de 1905 é a atual rua Remanso. Apesar disso é possível compreender bem a região da antiga fábrica e também do casarão.

Em uma pesquisa sobre a origem da casa não conseguimos ir mais para trás do que o ano de 1961, quando a encontramos em nome de uma pessoa chamada “Ramira, Maria Torres” ou “Maria Torres Ramira”. O papel muito velho e desgastado não deixa fácil distinguir se há ou não uma vírgula após o nome Ramira.

Por sua vez, a fábrica de fósforos de Vila Mariana era uma das mais importantes da nossa cidade, e, possivelmente, uma das maiores que o bairro já teve no século 19. A publicidade abaixo, veiculada no jornal Correio Paulistano em 1888 é dela:

Publicidade da fábrica de fósforos de Vila Mariana em 1888 (clique para ampliar)
Publicidade da fábrica de fósforos de Vila Mariana em 1888 (clique para ampliar)

Até meados de 1889 a fábrica pertenceu a seu fundador, Jorge Eisenbach e sócios, quando foi vendida para outro grupo brasileiro. Mesmo após a venda a empresa permaneceu por algumas décadas na Vila Mariana.

Não se sabe se o imóvel em questão nesta reportagem chegou a pertencer a Jorge Eisenbach no passado, mas é bem possível. A foto a seguir, tirada do alto de um edifício dá uma dimensão maior do casarão e de seus antigos limites ao fundo do terreno, hoje já ocupados por prédios.

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clique na foto para ampliar (foto Elaine Mathias)

Há também uma outra possível origem para o imóvel, embora menor, de que seja uma das casas colocadas à venda entre 1887 e 1890, ao redor da fábrica de fósforos. O anúncio abaixo também deixa esta possibilidade aberta:

Correio Paulistano

A carência de dados e documentos acerca da fábrica de fósforos de Vila Mariana e também deste casarão da Rua Humberto I, só escancaram a pobreza de documentação histórica e memória preservacionista da maior cidade brasileira.

Foi necessário despender um dia inteiro de pesquisas em jornais paulistanos do século 19 para encontrar as informações que o São Paulo Antiga apresenta aqui, e mesmo assim não é possível afirmar em 100% a origem da casa.

Venda da fábrica de fósforos de Vila Mariana em 1889
Venda da fábrica de fósforos de Vila Mariana em 1889

Construtoras e incorporadoras se valem justamente deste vazio histórico para colocar imóveis antigos abaixo. Ou alguém realmente crê que governo sai atrás de pesquisa histórica às pressas para salvar este ou aquele imóvel.

É assim, silenciosamente, que desaparece a história dos bairros paulistanos. Da mesma maneira que não temos uma única foto da extinta fábrica de fósforos do bairro, as poucas imagens do casarão que temos são as que mostramos aqui.

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clique na foto para ampliar (foto Elaine Mathias)

Quem tiver algum material ou informação sobre esta casa ou mesmo sobre a fábrica de fósforos entre em contato conosco para aumentarmos os dados coletados em benefício da memória de Vila Mariana.

Nossos agradecimentos a leitora Elaine Mathias, que enviou as imagens do casarão para nós.

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22 respostas

  1. Tinha gente morando até pouco tempo neste casarão, que claro já virou estacionamento. Mais do ladinho tem um maravilhoso casarão que vale muito a pena conhecer e quem sabe eles ajudam a ter mais informações sobre o bairro, mais tem que ser rápido antes que vá para o chão.

  2. Acho que a casa seja a remanescente das 13 casas à venda (como anunciado acima) e a fábrica de fósforos talvez era naquele galpão vizinha a esta.
    Também seria bom pesquisar se as outras moradias antigas ao redor também sejam da mesma época…

  3. Ai as “nossas otoridades” deixam as construtoras porem os imóveis antigos abaixo para construir prédios de 20, 25 andares onde antes só havia uma casa sem mexer no sistema de esgoto e depois reclamam que têm enchentes.

  4. Quando vi q começou a demolição fiquei doido pra tirar umas fotos, mas confesso q fui acometido pela preguiça e o desânimo. Na rua Rio Grande tem umas casinhas bem antigas. Quando passar vou tirar umas fotos….

      1. tenho algumas fotos mais antigas, vou disponibilizá-la. Fiquei muito feliz com a reportagem, postei no meu face. parabéns

  5. eu sempre vou ao sesc vila mariana e muita tristeza no dia que passei e não existia mais a casa. os sobrados ao lado também estão vindo abaixo, o que é uma pena! adorei saber informações sobre, nem imaginava!

  6. Parabens pelo belo trabalho. Vivo a mais de 40 anos no Sul da Florida. Fico triste que nossa cidade esta’ beirando o abandono. Aqui a mentalidade e’ diferente e americano sabe dar valor ao seu passado. Tenho fe’, que com pessoas como voce, isso podera’ mudar em um futuro proximo. Apesar do tempo e da distancia, amo minha Sao Paulo. Um forte abraco. Luis Peleja

  7. Oi Douglas,

    As fotos aéreas desta construção foram tiradas por mim.
    Mais uma vez te parabenizo por seu trabalho.

    Elaine Mathias

  8. Jorge Eisenbach é meu bisavô(Vanessa Mara Eisenbach Lunardon), não sabia que ele teve a fábrica em São Paulo, mas um primo disse a minha irmã que nosso bisavô praticamente fundou a vila Mariana. Jorge Eisenbach também teve fábrica de fósforos aqui em Curitiba, e parece que foi a primeira registrada na junta comercial daqui. Ele teve dois ou três filhos; Alice Eisenbach, Felinto Jorge Eisenbach e se não me engano mais uma que não recordo nome. Só conheci tia Alice e sou Neta De Felinto e filha de Carlos Henrique Eisenbach. Espero ter ajudado e foi muito legal saber mais da minha família paterna. Abraços.

  9. Caro Douglas! Parabéns pelo incrível trabalho!
    Se você me permite, creio que possa haver um equívoco na localização da casa. Eu morei no número 395 desta rua de 1965 a 1982, e passei milhares de vezes em frente dela. Se a rua que aparece como J. A. Coelho for a atual José Antônio Coelho, a localização da casa ficaria muito perto dela (a rua Remanso fica apenas a uns 70 metros da José,no máximo). A Rua Jabaquara provavelmente é a atual Avenida Conselheiro Rodrigues Alves. Acredito assim que no seu mapa, a localização da casa esteja bem mais perto da José Antonio Coelho que da Jabaquara. Pelo mesmo mapa a fábrica de fósforos ficava na rua Domingos de Moraes, entre as ruas Fontes Junior e França Pinto (note o hachurado em preto).
    Grande abraço.
    Max Christian Frauendorf

  10. Permita-me discordar da verdadeira localização da antiga Fabrica de fósforos.
    Se comparar o antigo mapa com a respectiva tela do Google Maps, verifica-se que a antiga Rua Jabaquara se tornou Av. Conselheiro Rodrigues Alves, pois além de ficar localizada geograficamente antes da curva voltada a direita, de quem segue pela Rua Humberto I em direção ao Paraíso, tal via terminava no Instituto Dona Anna Rosa, localizado na época, na Rua Vergueiro nº 2.189, o que afasta qualquer possibilidade do antigo casarão integrar a área delimitada pela mencionada fábrica.
    A antiga Rua Fontes Junior é a atual Rua Joaquim Távora.

  11. Olá, Douglas! Parabéns pela pesquisa (aliás, pelas várias pesquisas).
    No “Almanach do Estado de São Paulo” de 1890 há um anúncio da “Primeira Grande Fabrica de Phosphoros de segurança”, de “Jorge Eisenbach & Comp. São Paulo. Villa Mariana”, de página inteira. O anunciante declara que, por conta da demanda, “viram-se forçados a augmentar novamente a fabrica e as machinas, afim de poderem fornecer mensalmente 5.000 latas de phosphoros superiores.” E tiveram que contratar um químico na Suécia para “garantir um producto de primeira qualidade”. Se interessar, mando a foto.

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