Residência de João Canero

São Paulo em um passado já um tanto distante foi a cidade da vida simples, pacata e de casarões e palacetes. Entretanto a realidade hoje em dia é bastante diferente e a cada dia que passa somos cada vez mais a cidade dos grandes edifícios isolados da vida urbana, com seus seguranças vestindo paletós pretos e suando em bicas no calor tropical, dos muros altos das casas que parecem presídios e das ruas “particulares” com portões e obstáculos.

A cada dia que passa, fica muito mais difícil encontrar preservadas casas antigas em harmonia com o ambiente. No número 79 da Rua Caio Prado, há uma que é de encher os olhos:

clique na foto para ampliar

Trata-se de um imóvel que nos apresenta uma cena urbana cada dia mais difícil de apreciar. Uma bela residência, centenária, absolutamente preservada em um trecho da cidade onde quase nada mais contemporâneo a ela sobreviveu.

É bem verdade que poucos metros dela há um outro casarão, de mais ou menos da mesma época, que ainda está por lá, no número 225. Mas está em péssimo estado de conservação.

No caso desta residência, felizmente, a preservação é exemplar. Um imóvel de arquitetura eclética, com a tradicional construção típica dos imóveis do início do século 20, com pé direito alto, frontão ricamente adornado e porão. Ao fundo há uma edícula também igualmente preservada.

No portão as iniciais JC do proprietário original

Nos portões da residência podem ser vistas as iniciais JC. Tais letras remetem ao nome de João Canero, que foi o primeiro proprietário deste imóvel. Falecido em 6 de junho de 1972, Canero também possuía outras propriedades na capital paulista, como este galpão comercial da Rua Jairo Góis, no Brás, que até hoje também mantém as mesmas iniciais na fachada, como é possível ser visto na fotografia a seguir.

Voltando à residência, imagine o quão bela era a Rua Caio Prado até a década de 70 quando ainda existia, quase em frente a este belo imóvel o saudoso Colégio Des Oiseaux, demolido em 1974.

Se hoje o colégio não está mais por lá, só podemos torcer que o Parque Augusta seja finalmente criado e não tenhamos aquela incrível área verde que resiste por ali transformada em mais concreto, trânsito e barulho.

Este belo casarão é uma boa lição para os paulistanos. Exemplo de que é possível vencer a especulação imobiliária, que há décadas assola São Paulo de forma cruel e impiedosa. Cada vez que observo esta residência na Rua Caio Prado, sempre limpa, pintada e bem cuidada, vou para casa mais aliviado sabendo que a esperança de uma cidade melhor nunca morre.

Veja mais fotos (clique na miniatura para ampliar):

 

Curiosidade:

Em uma busca sobre João Canero nos arquivos de jornais paulistanos, encontramos esse anúncio veiculado em 1936 no extinto jornal “A Gazeta”. Nele Canero faz um apelo para quem encontrar sua carteira de motorista, que a devolva na sua residência. Será que encontraram ?

Nota: O endereço do anúncio do jornal está como número 15 pois as numerações de rua de São Paulo seriam alteradas alguns anos mais tarde. O 15 daquela época corresponde ao atual 79.

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Casas simples e agradáveis, representam a São Paulo antiga da maioria de nossos antepassados e devemos ter orgulho delas e preservá-las.

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27 respostas

  1. Simplesmente fantástica. Parece saída de um fragmento no tempo diretamente pra os dias de hoje, visto o estado de conservação e a vida que ela transmite. Bela!

  2. Nossa que lindo Casarão hein Douglas ! E belas fotos, vou ter que dar uma passada lá pra ver…maravilhoso ! Parabéns, abs !

  3. Douglas, esta casa faz parte do meu trajeto, como as outras duas no quarteirão anterior (entre a R. Gravatai e a R. Augusta), uma foi escola até pouco tempo e melhor conservada, a outro foi construído um muro na frente, mas é possível ver a casa, que é habitada. Também gostaria de saber a história dessas três casas.

  4. Demolir uma residência dessa é um crime, vamos lutar para não acabarem de uma vez por todas com o que resta da São Paulo antiga. Os primeiros crimes foram ter acabado com os bondes. O brasileiro gosta de imitar os americanos, mas no Estados Unidos não deixaram acabar com os bondes. Aqui em São Paulo, deveriam ter deixado pelo menos uma das linhas de bonde, a linha Santo Amaro.

  5. Que delícia de casa! Eu moraria nela com muito prazer!
    Parabéns por esse belo garimpo que você tem feito pela cidade.

  6. é aqui perto de casa. Todas as vezes em que passo por lá fico admirando o casarão. Já foi pintado de várias cores e agora amarelinho ficou super charmoso. Como é bom ver o passado preservado!

  7. Douglas, mais uma vez os meus cumprimentos pelo trabalho de preservação da memória e de incentivo ao amor pelos bens que ainda resistem à ganância desmedida.
    Lia, há pouco, um texto que escrevi para cumprimentar uma senhora que conheci em uma de minhas raras idas a São Paulo e passei a admirar por esse espírito de preservação dos bens arquitetônicos e dos velhos quintais da minha infância.
    Compartilho com você esse texto: http://www.novaestante.com.br/inocentes/
    Receba o meu fraterno abraço.

  8. Obrigada, Douglas, por mais esta prova do seu belo trabalho.

    Que linda casa. De tão bem conservada, dá a impressão de que alguém vai abrir a janela e ver crianças brincando no jardim.

  9. Segundo informações de vizinhos, há uma família pequena que reside nesta casa. Moro bem perto (50 metros) e até hoje somente vi uma moça entrando. Alguém tem mais alguma informação?

    1. A dona do tal casarão está brigando na justiça contra ação de tombamento iniciada pelo Conpresp

      O casarão em si tem uns 700m2 e vale o que se pede. Só não poderá ser derrubado.

  10. e olhando a ultima foto..o quanto é espantoso o contraste com as contruçoes ao redor, sendo estas somente funcionais, totalmente desprovidas de beleza..

  11. Estive lá hoje (09/01/2014) apreciando essa bela construção antiga e que espetáculo para os olhos…! Muito linda essa casa…vale a pena passar e dar uma olhadinha…maravilhosa!

  12. Colega, você poderia fazer uma matéria sobre a antiga construção do Prédio do extinto colégio Equipe que se eu não me engano ficava nessa mesma rua e foi demolido, minha mãe estudou lá em meados dos anos 70 e fala muito sobre esse colégio, seria interessante ver como ele era.

  13. Adoraria conhecer a historia deste casarão.

    A propósito, você conhece o casarão da rua Baronesa de Itu, 68, que é tombado? Hoje, funciona ali a Bibliaspa – Biblioteca e Centro de Pesquisa America do Sul – Países Árabes. O diretor não sabe dizer que residiu ali antes, quem o construiu. O casarão é lindo e eles o mantém bem preservado. Se souber da história dele, por favor, nos conte.

    1. Oi esta casa tem uma História linda vcs nao imaginam como ela e linda por dentro com um quintal enorme na minha infância me diverti muito

  14. Caro Douglas. Você poderia fazer uma matéria acerca do Colégio Des Oiseaux, demolido criminosamente em 1974, localizado em frente a esta bela casa. Obrigado.

  15. Muito bacana essa matéria , Vivi um pedacinho da minha infância nesta rua em uma pensão com meus pais e mais três irmãos ,meu pai era filho de italianos que moravam também aí perto na bela vista na rua treze de maio , italianos de sobrenome iorio.

    1. Boa Noite Sr. Iorio:Estou fazendo pesquisa para meu doutorado sobre a rua Augusta e região, especificamente durante os anos 1950, incluindo o Colégio Des Oiseaux e todas as quadras vizinhas. Gostaria de saber se o senhor poderia colaborar com meu trabalho conversando comigo sobre as suas memorias da região quando morava lá.
      Se o senhor se dispuser serei imensamente grata, basta me enviar um e-mail de volta para: gkcesarino@yahoo.com.
      Aguardo sua resposta assim que possível! Muito obrigada! Gabriela K. Cesarino (FAU – Universidade de São Paulo)

  16. Bom dia, gostaria de contar sobre a minha família que morou na Caio Prado em frente ao portão do Colégio que por coincidência era no número 79 antigo. Seria hoje próxima a casa n 225. Meu bisavô Dr Pedro Nacarato morou nela com os 3 filhos ,Georgette, Jeannette e Caetano. Dr Pedro Nacarato era médico do Estado,Humanista e Sanitarista e Legista. Seus outros 9 irmãos moravam nessa casa. Minha avó Georgette Nacarato,casou-se em 1928 com Nicolau Nazo(Naso na grafia original). Tenho foto da rua,da área externa ao portão. Minha mãe que também chama Georgette Nacarato Nazo nasceu nesta casa e depois mudaram para rua Marques de Paranaguá número 11.. A casa era em frente ao Colégio aonde minha mãe e e minha Tia Jeannette Nacarato Nazo ( nome igual a irmã da mamãe) estudaram.

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