Atenção: Artigo atualizado em 02/01/2013
Existem alguns imóveis em São Paulo que são campeões de perguntas aqui em nosso site. São construções curiosas, antigas, muitas vezes abandonadas que chamam a atenção do leitor que, por sua vez, entra em contato conosco para descobrir do que se trata. Um destes imóveis é a antiga subestação de energia da antiga Light.
A São Paulo Tramway, Light and Power Company, mais conhecida apenas como Light, foi uma empresa com capital canadense que em 1899 foi constituída para atuar aqui na capital paulista. Após a autorização da Presidência da República para atuar no país, chegou em São Paulo no dia 17 de julho deste mesmo ano, para iniciar a construção da Usina Hidrelétrica Edgard de Sousa, na vizinha cidade de Santana de Parnaíba, que seria inaugurada em 1901.
Após a instalação da usina a Light entrou em franca expansão, com a iluminação elétrica da cidade e também a mudança dos bondes, até então puxados a burro, pelos bondes eletrificados. Este crescimento levou a construção de várias subestações de energia pela cidade, como a primeira da cidade na Rua Araújo, já demolida, e que hoje resta apenas a fachada na frente de um hotel.

A subestação da Light (centro da foto) na década de 50.
Em 1926 a empresa decidiu criar uma nova subestação na Cidade de São Paulo. O local escolhido foi onde hoje é o encontro da Avenida 23 de Maio com a Rua Santo Amaro, bem do lado da Praça da Bandeira. Logo depois de ser inaugurada a unidade passou a ser conhecida como Subestação Riachuelo, em alusão a Rua Riachuelo. Na época, não havia a avenida 23 de maio e a subestação fazia ligação com três ruas: Riachuelo, Asdrúbal do Nascimento e Santo Amaro.
No auge da atuação da empresa em São Paulo ela recebeu um apelido satírico, crítico a influência da empresa, que era “Sao Paulo Light & Too Much Power” ou “São Paulo Luz e Poder Demais”. A empresa sairia do ramo de transportes públicos paulistanos na década de 40, repassando os bondes para a estatal CMTC, mas continuaria atuando em vários outros segmentos até os dias hoje, atualmente com o nome Brascan.
Na década de 70 o contrato de concessão da Light com o governo federal, válido por 70 anos, expirou. À época a Light de São Paulo e do Rio eram juntas, mas foram desmembradas para venda, sendo a porção paulista adquirida pelo Governo do Estado de São Paulo em 1981 e renomeada para Eletropaulo.
Voltando ao imóvel em questão, muito provavelmente por ser uma subestação, ele sobreviveu a uma série de transformações que a região sofreu desde a década de 50.
Com a abertura da Avenida 23 de Maio em 1968, houve muita demolição por ali. As casas vizinhas foram todas demolidas, deixando o imóvel isolado. Com o tempo, a modificação da Praça da Bandeira em terminal fechado de ônibus fez com que se reduzisse muito o tráfego de pessoas por ali. O fato da Avenida 23 de maio ser expressa e movimentada, acabou com a travessia de pessoas no local, o que passou a ser feito pelas passarelas. Isso isolou bastante o imóvel.
Em 2000 o Conpresp tombou a fachada do imóvel, para evitar uma descaracterização ou demolição como a da subestação da Rua Araújo e desde então ele recebeu muito pouca atenção da concessionária de energia, raramente recebendo pintura, sendo alvo de pichações e tendo boa parte de seus vidros quebrados.

Planta da subestação (Acervo da Fundação Energia e Saneamento)
Os fundos da subestação tornaram local de abandono de gatos e por muitos anos dezenas deles eram vistos por lá ou na calçada (Nota: após o primeiro anúncio de que o local seria recuperado, em abril de 2012, os gatos desapareceram. O que terá acontecido com os animais ?).
Após quase nove anos esquecido (o prédio foi desativado em 2004), a antiga Subestação da Light tem novo dono e entrou em processo de restauração. Adquirido pela Red Bull Brasil, o imóvel sofrerá adaptações para abrigar no local um espaço cultural da empresa. O restauro e a reforma estão sendo conduzidos pelo escritório franco-brasileiro de arquitetura Triptyque, que irá aproveitar a arquitetura interna e ainda sofrerá uma intervenção contemporânea no topo da subestação, onde há um chafariz desativado, e será construído um novo ambiente.
Segundo Giovana Mollona, da comunicação da empresa Red Bull, o novo espaço tem previsão de inauguração para o mês de outubro. O São Paulo Antiga está acompanhando o processo de recuperação do imóvel e apóia a iniciativa de revitalização da velha subestação.
Veja mais fotos da Subestação Riachuelo antes da reforma (clique na miniatura para ampliar):
Um novo começo para a Subestação Riachuelo
Recentemente a subestação ganhou nova vida com a aquisição do imóvel pela empresa Red Bull que reformou o imóvel e instalou no local um centro cultural, chamado de Red Bull Station. Apesar do prédio estar novamente na ativa, é preciso salientar aqui que o trabalho não foi dos melhores e não pode ser chamado de restauração, mesmo sendo aprovado pelo Conpresp (o que não significa muito, levando em consideração os critérios do órgão). A foto abaixo mostra o imóvel após as obras.
Apesar da escolha correta da cor, infelizmente escolheram uma pintura texturizada que não reflete a originalidade do imóvel e deixa o mesmo rapidamente sujo com a alta poluição da Avenida 23 de Maio. Faltou um pouco de bom gosto à Red Bull ao fazer o acabamento da fachada. Evidente que é melhor que como era antes, mas não foi um trabalho nota 10.
Mesmo assim, deixamos aqui nossos parabéns a Red Bull por devolver este espaço tão importante para a municipalidade.
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