Subestação Riachuelo

Atenção: Artigo atualizado em 23/02/2024

Existem alguns imóveis em São Paulo que são campeões de perguntas aqui em nosso site. São construções curiosas, antigas, muitas vezes abandonadas que chamam a atenção do leitor que, por sua vez, entra em contato conosco para descobrir do que se trata. Um destes imóveis é a antiga subestação de energia da antiga Light.

clique na foto para ampliar

A São Paulo Tramway, Light and Power Company, mais conhecida apenas como Light, foi uma empresa com capital canadense que em 1899 foi constituída para atuar aqui na capital paulista. Após a autorização da Presidência da República para atuar no país, chegou em São Paulo no dia 17 de julho deste mesmo ano, para iniciar a construção da Usina Hidrelétrica Edgard de Sousa, na vizinha cidade de Santana de Parnaíba, que seria inaugurada em 1901.

Após a instalação da usina a Light entrou em franca expansão, com a iluminação elétrica da cidade e também a mudança dos bondes, até então puxados a burro, pelos bondes eletrificados. Este crescimento levou a construção de várias subestações de energia pela cidade, como a primeira da cidade na Rua Araújo, já demolida, e que hoje resta apenas a fachada na frente de um hotel.

A subestação da Light (centro da foto) na década de 1930 (clique para ampliar).

Em 1926 a empresa decidiu criar uma nova subestação na cdade de São Paulo. O local escolhido foi onde hoje é o encontro da avenida 23 de Maio com a rua Santo Amaro, bem do lado da Praça da Bandeira. Logo depois de ser inaugurada a unidade passou a ser conhecida como Subestação Riachuelo, em alusão a rua onde ela foi instalada. Na época, ainda não existia a avenida 23 de maio e a subestação fazia ligação com três ruas: Riachuelo, Asdrúbal do Nascimento e Santo Amaro.

No auge da atuação da empresa em São Paulo ela recebeu um apelido satírico, crítico a influência da empresa, que era “Sao Paulo Light & Too Much Power” ou “São Paulo Luz e Poder Demais”. A empresa sairia do ramo de transportes públicos paulistanos na década de 40, repassando os bondes para a estatal CMTC, mas continuaria atuando em vários outros segmentos até os dias hoje, atualmente com o nome Brascan.

Na década de  70 o contrato de concessão da Light com o governo federal, válido por 70 anos, expirou. À época a Light de São Paulo e do Rio eram juntas, mas foram desmembradas para venda, sendo a porção paulista adquirida pelo Governo do Estado de São Paulo em 1981 e renomeada para Eletropaulo.

Voltando ao imóvel em questão, muito provavelmente por ser uma subestação, ele sobreviveu a uma série de transformações que a região sofreu desde a década de 50.

A subestação em péssimo estado de conservação antes de receber a reforma (clique na foto para ampliar).

Com a abertura da avenida 23 de Maio em 1968, houve muita demolição por ali. As casas vizinhas foram todas demolidas, deixando o imóvel isolado. Com o tempo, a modificação da Praça da Bandeira em terminal fechado de ônibus fez com que se reduzisse muito o tráfego de pessoas por ali. O fato da avenida 23 de maio ser expressa e movimentada, acabou com a travessia de pessoas no local, o que passou a ser feito pelas passarelas. Isso isolou bastante o imóvel.

Em 2000 o Conpresp tombou a fachada do imóvel, para evitar uma descaracterização ou demolição como a da subestação da Rua Araújo e desde então ele recebeu muito pouca atenção da concessionária de energia, raramente recebendo pintura, sendo alvo de pichações e tendo boa parte de seus vidros quebrados.

Planta da subestação (Acervo da Fundação Energia e Saneamento)

Os fundos da subestação tornaram local de abandono de gatos e por muitos anos dezenas deles eram vistos por lá ou na calçada (Nota: após o primeiro anúncio de que o local seria recuperado, em abril de 2012, os gatos desapareceram. O que terá acontecido com os animais ?).

Após quase nove anos esquecido (o prédio foi desativado em 2004), a antiga Subestação da Light tem novo dono e entrou em processo de restauração. Adquirido pela Red Bull Brasil, o imóvel sofrerá adaptações para abrigar no local um espaço cultural da empresa. O restauro e a reforma estão sendo conduzidos pelo escritório franco-brasileiro de arquitetura Triptyque, que irá aproveitar a arquitetura interna e ainda sofrerá uma intervenção contemporânea no topo da subestação, onde há um chafariz desativado, e será construído um novo ambiente.

Segundo Giovana Mollona, da comunicação da empresa Red Bull, o novo espaço tem previsão de inauguração para o mês de outubro. O São Paulo Antiga está acompanhando o processo de recuperação do imóvel e apóia a iniciativa de revitalização da velha subestação.


UM NOVO COMEÇO PARA A VELHA SUBESTAÇÃO:

Em 2013 a subestação finalmente ganhou nova vida com a aquisição do imóvel pela empresa Red Bull que reformou o imóvel e instalou no local um centro cultural, chamado de Red Bull Station. Apesar do prédio estar novamente na ativa, é preciso salientar aqui que o trabalho não foi dos melhores e não pode ser chamado de restauração, mesmo sendo aprovado pelo Conpresp (o que não significa muito, levando em consideração os critérios do órgão).

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Apesar da escolha correta da cor, infelizmente escolheram uma pintura texturizada que não reflete a originalidade do imóvel e deixa o mesmo rapidamente sujo com a alta poluição da Avenida 23 de Maio. Faltou um pouco de bom gosto à Red Bull ao fazer o acabamento da fachada. Evidente que é melhor que como era antes, mas não foi um trabalho nota 10. Mesmo assim, deixamos aqui nossos parabéns a Red Bull por devolver este espaço tão importante para a municipalidade.


CENTRAL 1926

Depois de alguns em funcionamento o Red Bull Station encerrou suas atividades, deixando um suspense no ar sobre o futuro da antiga Subestação Riachuelo, afinal não é um espaço pequeno e por ser tombado tem altos custos de manutenção.

Entretanto no início de 2022 uma boa notícia chegou até nós, com a divulgação de que o local iria ser reaberto com novo nome, Central 1926 – Embaixada Cultural, e uma nova proposta de eventos e atividades.

Crédito: Divulgação (clique para ampliar)

Com capacidade para receber até 1200 pessoas, o imóvel recebeu ar-condicionado central, internet com banda larga dedicada, projeto acústico atualizado, sistema de som e luz, além de um novo estúdio de gravação.

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27 respostas

  1. sem dúvida é muito boa a iniciativa da Red Bull, e ao mesmo tempo serve como outro exemplo do extremo descaso do governo com todo e qualquer patrimônio desta cidade. É triste ter que depender de um empresa privada para reformar um prédio histórico.

  2. Ótimo texto. Senti falta, como o colega anterior, de saber quem foi o responsável pela obra. Encontrei também um errinho: “(…) para inicia[r] a construção [da] Usina Hidrelétrica Edgard de Sousa (…)”

  3. Muito linda a arquitetura desse predio. Estava aqui pensando como poderia ser recuperado, e fico feliz em saber que a Red Bull teve visao suficiente para admirar e tornar esse local novamente respeitavel….isso, se os vandalos contribuirem com a causa.
    Parabens.

  4. Os gatos desapareceram porque cobriram com telhas o local onde eles habitavam. Não sei o que fizeram com os gatos mas eles realmente davam vida aquele local abandonado. Todos os dias indo para o trabalho eu parava para observá-los. Adorava vê-los bricar, crescer…… qdo foram expulsos fiquei muito triste! Acho ótimo que o prédio seja restaurado, mas cabe a pergunta: Este novo centro cultural será para a população de São Paulo?

  5. A fachada da Rua Araújo, embora não me agrade de todo fez um link e juntou passado e presente. Talvez pudessem aproveitar mais o gancho e valorizar ainda mais o que sobrou da subestação. Por outro lado essa da 23 de maio promete, vamos ver se não vai virar casa de show.

  6. Todos os dias voltando do trabalho, o ônibus passa pela ponte e eu ficava olhando este prédio, imaginando o que ele tinha sido. Um dia chego em casa e vejo um novo post, falando justamente sobre ele!! Fico feliz que seus dias de abandono acabaram, mas fico com um pequeno receio; a maioria dos bens tombados, ao meu ver, viram centros culturais. Claro que são ótimos para a cidade e a para a população, com certeza! Mas estes prédios podem ter funções comerciais, de serviços públicos, entre outros. Ainda mais em uma região que já possui uma grande oferta de equipamentos culturais, em relação com outras regiões da cidade. Mas parabéns para a Red Bull de qualquer maneira ^^

      1. achei.
        tinha passado ali de carro alguns anos atrás, no início da noite. tudo iluminado, achei muito bonito.

  7. Incrível! Uma cidade que gera a riqueza que São Paulo gera precisa de uma companhia de origem estrangeira pra cuidar de seu patrimônio. É lamentável o que as autoridades brasileiras fazem com o povo, começando por nao educar e nao ensinar o devido valor de lugares como a estação Riachuelo às crianças. Não existe senso de patriotismo nem de orgulho nesse lugar. Triste.

  8. O centro velho da cidade de São Paulo está totalmente abandonada pela Prefeitura, e pelo governo do Estado.
    Existem prédios maravilhosos que estão abandonados e a mercê de ocupadores indevidos. “sem teto”.
    Aqui em nossa cidade a turma vai chegando e já vai exigindo tudo de mão beijada. Acham que paulista é trouxa!

  9. Alguém saberia a técnica construtiva utilizada na construção ? E sobre a estrutura pergolada em concreto na lateral direita junto a entra de portão alto em aço? Qual seria o uso dessa estrutura?

  10. Olá, Douglas. Aqui José Ruy Gandra, jornalista e historiador. Devo, em breve, produzir uma matéria sobre esse imóvel. Será que poderíamos trocar uma ideia a respeito. Sua ajuda decerto me seria valiosa. Você, por favor, me passaria seus contatos? Meu e-mail é jr.gandra@uol.com.br
    Grande abraço e obrigado.
    Zé Ruy

  11. Douglas, boa noite! Este prédio é realmente incrível, e fiquei muito feliz quando vi que foi “revitalizado”. Deixo aqui o link para o projeto na página do escritório que o criou: “http://triptyque.com/red-bull-station/”. Intervenções contemporâneas muitas vezes são polemicas, e apesar do projeto incrível, acredito que a parte de restauro tenha ficado para um segundo plano em relação ao seu uso. Ou seja, foi proposto um uso e uma infra-estrutura contemporânea em cima de um pano de fundo de uma “arqueologia urbana”, quase uma ruína. Por outro lado, é esse uso contemporâneo que poderá manter a edificação viva por mais muito tempo. Acredito (ou espero) que quando os pontos críticos precisarem de manutenção, estas serão feitas! Abraços.

  12. Olá Douglas,
    Muito esclarecedor o texto sobre a Subestação Riachuelo. No entanto, gostaria de informar que o ano em que esse imóvel foi tombado é 2002, pela Resolução número 22/2002, que pode ser encontrada no site do DPH.
    Parabéns pela inciativa do site.
    Atenciosamente,
    Lidiane

  13. Muito linda a edificação depois da reforma. Porém, vai ser muito grande o custo de manutenção devido aos nóias e vândalos que vivem na região, especialmente de noite. Espero que a Red Bull tenha nobre paciência e aguente firme.

  14. Boa tarde,
    A Subestação ainda existe, parte do terreno pertence a prefeitura e é responsável pela alimentação dos tróllebus.

  15. Boa tarde !!!

    Adorei a matéria, contribuiu muito para meu trabalho da faculdade de arquitetura brasileira. Só gostaria de saber, se você sabe quem foi o arquiteto da obra ? Pois só consigo achar o arquiteto do prédio restaurado.

    Abraços!!!

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