O fim da última casa da rua Casimiro de Abreu

Casimiro de Abreu foi um dos grandes poetas brasileiros e que viveu muito pouco, vindo a falecer aos 21 anos de idade, vítima de tuberculose, em 1860.Sua obra, marcante, foi um dos expoentes da segunda geração do romantismo brasileiro.

E foi uma poesia dele de 1858, A Cabana, que me veio justamente a cabeça quando soube que uma das primeiras casas antigas que vi na vida, quando eu ainda era criança, na rua que homenageia o poeta, está sendo demolida.

clique na foto para ampliar
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Quando eu era garoto e ia visitar meus avós maternos, no Belenzinho, costumava acompanhar minha mãe pelas ruas da região. A caminhada sempre esticava até o Brás para comprar roupas para mim ou para comprar um delicioso folar português em uma antiga padaria da rua Carlos Botelho. E, sempre que passava pela rua Casimiro de Abreu, gostava de parar diante desta casa não para admirar o imóvel, mas sim para ficar olhando as duas estátuas de meninos que enfeitavam a bela escadaria da residência.

Foto: Fernando Rebelo (2005) / Clique para ampliar.
Foto: Fernando Rebelo (2005) / Clique para ampliar.

Estas estátuas, bastante peculiares, não só fazia esta casa se destacar das demais, como me fazia viajar nos meus pensamentos sobre quem morou (ou morava ainda) por ali. Talvez nesta época tenha nascido em mim o desejo de sempre querer descobrir a história das casas paulistanas, que décadas mais tarde originaria este trabalho que tanto me orgulho, o São Paulo Antiga.

Tão logo este site foi lançado, inclusive, este imóvel foi um dos primeiros a ser catalogado, até sem muitos detalhes, com imagens enviadas por um colega fotógrafo.

Alguns dias atrás um leitor entrou em contato comigo para dar a seguinte triste notícia: a residência do número 302 da Rua Casimiro de Abreu começara a ser demolido.

Apressadamente me dirigi ao local em um domingo cedo e me deparei com um cenário que eu nunca gostaria de ver:

Só escombros e uma estátua solitária (clique para ampliar).
Só escombros e uma estátua solitária (clique para ampliar).

Da velha casa de tantas boas memórias pouco restava. Todo o interior da residência, há anos largada, fora demolido já quase por completo. Pelos degraus da bela escadaria de mármore, que outrora foi tão branco como a neve, pedaços e mais mais pedaços de entulho.

clique na foto para ampliar
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Mas o que mais me entristeceu na cena triste do fim desta casa foi ver que uma das estátuas já não estava mais por ali. Foi removida junto com a balaustrada que ficava sob ela.

Me pergunto se ela foi removida com cuidado para ser revendida em alguma loja de materiais de demolição, ou se foi destruída sem propósito. A outra nos dois dias que visitei a casa ainda resistia bravamente.

Reconheço que é impossível preservar todas as construções antigas da cidade. Afinal o progresso é necessário, mesmo que triste e doloroso em muitos casos. Entretanto, penso que certos imóveis deveriam ser protegidos e impedidos de virem abaixo.

Detalhe da fachada do imóvel (clique na foto para ampliar).
Detalhe da fachada do imóvel (clique na foto para ampliar).

Casas como esta, que era a última a existir nesta rua, deveria ser tombada como patrimônio municipal. E isso independente de ser relevante sua arquitetura ou não.

Com o fim dela quem passar dentro em breve pela rua Casimiro de Abreu, sequer irá imaginar (salvo se já a conhecesse antes), que nesta rua um dia existiram casas, viveram famílias ou que crianças brincavam por ali. Ficará sempre a imagem de uma rua comercial frenética de dia e desértica a noite.

Tal qual a última casa da avenida São João, que abordei recentemente, esta deveria ter sido poupada. Mas não foi…

A critério de curiosidade em 1961 residia (ou trabalhava) neste imóvel uma pessoa chamada Helena Lobosque e o telefone, à época, era 93-5250. Se alguém tiver alguma informação adicional, entre em contato conosco ou deixe um comentário.

Veja mais fotos desta casa na galeria a seguir (clique na foto para ampliar):

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41 respostas

  1. É triste ver como imóveis que deveriam ser tombados estão sendo demolidos para dar lugar ao progresso…
    Admiro muito o seu trabalho. É uma bela forma de resgatar a história da nossa cidade. Parabéns!

  2. Aprendi a admirar as construções antigas com meu pai, que me levava ao centro de São Paulo e me contava um pouco da História de cada construção. Hoje vejo muitas dessa construções abandonadas e sendo objeto de invasões. É muito triste!

  3. Atualmente, vive-se sob o signo da impermanência. Vão-se embora pessoas, empregos, perfumes queridos são descontinuados, familiares nos deixam, casas são demolidas para dar lugar a grandes empreendimentos imobiliários. É triste, porque precisamos nos adaptar a muitas mudanças. Não sei se isso é humano, mas algo a ser aprendido a cada segundo.

    1. Não conheço esta maravilhosa SP antiga, mas é bem como vc falou tudo vai tudo termina… é um verdadeiro esquecimento da memória…mas aqui na nossa cidade que é pequena e nova (tem 79 anos), não é diferente com esta pouca idade já não se tem historia ou identidade alguma foi totalmente modificada, grande tristeza fica em nossos corações!!!

  4. meu querido, morei no bras de 1969 ate 2004, sempre admirei essa casa, igual avoce tambem tinha curiosidade de saber sobre seus moradores, e lamentavel assim se acabar, vamos ficar sem saber,

  5. Lamentável.Agora imaginemos se toda a Itália tivesse tal costume em demolir casas antigas, certamente metade de seu território seria somente de entulho de construção. Costume feio esse nosso hein?

  6. Lindo texto! sinto a mesma coisa em relação as casas antigas, que foram testemunhas mudas de tantas historias de vida. Choraria, com certeza, se estivesse ai presente, como já chorei anos atras ao ver alguns casarões da Av. Paulista virem a baixo. Parabéns Douglas pelo trabalho!

  7. Mais uma vez manifesto minha opinião aqui no seu site. Vendo o que você posta e lendo tudo que você escreve.
    Moro no interior aqui também existe este desrespeito pelo patrimônio, fico muito triste. Mas você me faz (viajar) nos seus comentário e opiniões.
    Também ao caminhar pelas ruas, fico a imaginar quem viveu naquele imóvel se ali existiu felicidade o que se passou entre aquelas paredes e assim vai, há como é bom sentir tudo isso. Um grande abraço de uma admiradora.

  8. Mas que absurdo e’ esse que a prefeitura nao cuidou de uma joia como essa? Nao e’ possivel que alguem nao de valor para um monumento historico como esse.
    Que pais e’ esse em que vivemos sem um pingo de cultura e educacao. Valha nos Deus !!!!

  9. Olá Douglas, acho o máximo as fotos e tudo o que você escreve sobre a memória das construções de nossa cidade. Nos fins de semana, é um dos meus passatempos preferidos ver seus posts. Hoje quis escrever para você porque me identifiquei demais quando você escreve sobre lágrimas derramadas por cada tijolo de história (de vida) que é derrubado nessas belíssimas construções antigas. É incrível como memórias preciosas vem sendo apagadas. Obrigada por trazer tanta informação que nos ajuda a conhecer o estilo de vida de anos passados.

  10. muito triste. :\ As pessoas não dão valor ou menos se importam com essas casas antigas e que fazem historia ou uma lembrança de como São Paulo era Antigamente,como tambm minha cidade Piracicaba que casa algumas casa antigas que foram demolidas :\.

  11. Sinto o mesmo, quando percebo que as reliquias históricas estão indo para o chão!Na minha cidade, interior do RJ, não é diferente. Tudo se acaba, sem a menor preocupação com a história, memoria , arte ou cultura. Tb fiquei curioso para saber o que foi feito com a outra estátua. Tomara, que tenham tirado e levado para algum antiquário. Antes assim!

  12. É muito triste ver o valor que damos às nossas obras, onde não se preserva quase nada. Principalmente aquelas que deveriam ter o cuidado e respeito, mangtendo-se assim um pouco da história, e de seus atores. Sabemos que o preço do progresso é arrasador, mas preservar o que deveria, está acima disso, penso assim. E o contraditório que vemos: milhares de brasileiros que viajam para o exterior, e ficam deslumbrados com a preservação de locais, tais como vilas, vilarejos, monumentos etc etc, e depois voltam admirados comn o que viram. Só não pensam que também poderíamois ter muitas coisas preservadas, para serem admiradas.

  13. Sou nascido e criado no Brás, e passo quase que diariamente na Casemiro de Abreu, assim como em outras ruas do bairro. Concordo que se deva preservar, o patrimonio histórico da cidade assim como sua cultura, mas o imóvel em questão, assim como outros do bairro que ja foram derrubados, nos dias atuais, estavam (infelizmente) caindo aos pedaços e servindo como ninho de ratos e esconderijo eventual de bandidos e viciados que costumam circular pelo bairro a noite.
    Acho que se não houver uma iniciativa da prefeitura em realizar a manutenção do prédio, ou alguém da iniciativa privada que o queira fazer, sou a favor da demolição sim.
    Prefiro um prédio novo a um abandonado caindo aos pedaços sem utilidade alguma

  14. Douglas, boa tarde, estou fazendo um trabalho sobre degradação para meu curso de Meio Ambiente e fiquei muito interessada nas suas matérias, ainda não tinha ideia sobre o tema e vendo suas fotos e matéria já me decidi, sou escrever sobre degradação de nossas antigas construções.
    Você possui mais material que poderia me disponibilizar??
    Obrigada pela dica…

  15. Prefiro pensar que alguém como a gente, que adoro construções antigas, levou a outra estátua para preservar um pedacinho da história da casa. Tomara!

    1. Desculpem, mas eu me enganei. O estudio do Zé do caixão era em uma antiga Sinagoga, mas nessa rua mesmo.

  16. Meu querido eu tentaria me informar quem é o atual dono e pediria as duas estátuas para serem restauradas! Aqui onde moro eu faço isso, e essas estátuas podem ser reutilizadas em qualquer construção!

  17. esta casa era das herdeiras de Jose Lobosque um portugues que tinha inumeros imoveis no bairro, morei na casa 5 da vila jose lobosque, e meu pai pagava aluguel as irmas, na decada de 70. Elas nao eram casadas e nao deixaram filhos, por isso da degradacao da casa.A casa era muito bonita, a mais bonita da regiao e eu um menino de oito anos ficava maravilhado em ver as estatuas.

  18. Esta casa pertencia a família Lobosque. Esta casa e metade do bairro do Bras. O imóvel no qual ficava o açougue do meu pai, na esquina da Casemiro de Abreu com a Conselheiro Belizario era da damilia Lobosque. E também a casa em que morávamos, na rua Visconde de Abaete, 195. Os dois imoveis continuam la. Reformado, o do açougue abriga agora um bar. E a casa da Visconde de Abaete, vitima de um desentendimento de herdeiros, tem hoje a porta rua e as janelas tapadas por tijolos para evitar invasões. Varias vezes passei por aquelas duas pequenas estatuetas quando acompanhava meu pai, Adolpho, no pagamento do aluguel, ali pelos idos das décadas de 1950 e 1960. Salvo engano, ali moravam duas irmãs, ambas solteiras.

  19. Que bom que registrou a imagem! Pois é só que foi salvo, infelizmente. E por falar em imagem ao me deparar com essa me veio logo à memória uma obra que também imortalizou um prédio, bem parecido, nos Paises Baixos no século XVII pelo pintor Johannes Vermeer chamado: The Little Street. Pesquise e observe quanta semelhança.

  20. Realmente a casa pertencia a família Lobosque, D. Helena viveu nessa casa e suas três filhas, solteiras. Mesmo depois da morte de D. Helena suas filhas ficaram muitos anos no imóvel, mudando posteriormente para o centro no edifício Copan, acho que agora já estejam mortas, pois eram bem idosas. D. Helena foi ativa paroquiana na igreja de Santo Antônio no Pari, ela pagou pela aquisição do grande órgão de tubos da paróquia que foi comprado em 1932, esse instrumento é bem grande e está sem uso a décadas… Realmente uma pena que essa casa tenha sido demolida.

  21. Belas fotos Sr. Douglas!!. Sou Restaurador de obras de Arte e Patrimônios Históricos e lugares, privado ou público, tenho uma firma aqui no RJ com nome fantasia Learts C&R, quando puder pode visitar meu site http://www.leartscr.com.br .Li sua reportagem muito interessante, pena que não houve possibilidades de restauro.

  22. Meu nome é Irlanio Cavalcante, sou comerciante no ramo de confecções da cidade de Cajazeiras, PB. Sempre frequentei a rua e tinha esse mesmo sentimento do Dolglas. Ficava precioso tempo a olhar para o interior da casa imaginando como seriam as pessoas que moraram ali. Viajava na imaginação e me prendia as duas estatuetas da entrada da escadaria. Outro dia que cheguei vi a casa quase toda demolida e não segurei o choro. É assim que destroem a memoria e as melhores lembranças. Até hoje me vejo acompanhando no meu imaginário a familia que morou ali.

  23. Li a matéria e dei uma olhada nos comentários. Infelizmente, ao contrário de muitos países da Europa, no Brasil não existe respeito algum pela memória arquitetônica e artística. Constantemente, nas minhas postagens falo sobre São Paulo e ABC, no segundo caso, mais especificamente sobre Santo André, SP, onde moro há um bom tempo. Lindas casas antigas são demolidas sem piedade para darem lugar a edifícios e outras construções modernas. Num país em que filmes com mais de seis meses são considerados velhos, até canais como o TCM não deram certo, sua proposta original durou alguns anos, mas depois foi descaracterizada. Aqui, a mentalidade reinante é a da novidade, dos lançamentos, o passado não importa nem um pouco para a maioria das pessoas. Infelizmente, acho difícil isso mudar.

  24. Caro Douglas,
    Penso que por vezes as atitudes praticadas são insanas.
    Sou apaixonada por poesias e creio que as arquiteturas antigas nos fazem viajar de um modo mais real para estas épocas!
    É com muita tristeza que sejamos testemunhas de tais crueldades,como a demolição da casa de Casimiro,um dos meus preferidos!
    Fiquei encantada com a maneira como descreve a rua e tudo o que viveu ali.
    Você teria algum site ou outro lugar que pudesse ler mais sobre seus relatos?
    São divinos!
    Desculpe a ousadia.
    Meu face book – Maria Aparecida Guerra.
    Um abraço .

  25. Eu e minha família moramos n a Vila José lobosque eu tinha apenas 02anos de idade e mudei de lá quando ia completar 39 anos

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